“Esse filho da p____ não usa EPI !”

Querido Paulo,

Espero que esteja bem!
Seus relatos são alimento para os nossos ânimos para que perseveremos nas batalhas de emancipação!
Agradeço imensamente palos seus compartilhamentos e acionamentos no grupo!
Parabéns pela sua dedicação às mudanças!
Grande e afetuoso abraço!

Ana Paula

Lindo Post Paulo!

como sempre exercitando a escuta sensível. Parabéns!

Pois é. De uma boa conversa ninguém escapa.

Duas observações sobre o caso. Interligadas, como quase tudo no âmbito do cuidado com o trabalho e com quem trabalha.

Uma, sobre o uso da informação clara sobre o porquê das coisas. Vivi inúmeras experiências na gestão que, já há algum tempo me convenceram que muito pouco pode ser feito sem socializar informações. Por exemplo, implantar um impresso qualquer, em qualquer unidade, de qualquer organização, exige um processo de adequação que implica informar os sujeitos sobre a utilidade do material para o trabalho, enfatizando no quê ele qualificará as atividades daqueles que estão diretamente implicados.

Segundo, o caráter autoritário das instituições e suas organizações que, antes de tudo, visa o seu desenvolvimento como se ele fosse natural. Ora, qualquer instituição, sobretudo as instituições concretas, não se desenvolvem sem a adesão dos sujeitos. 

O problema está nas organizações que naturalizamos trabalho como se ele se bastasse em si, subssumindo trabalhador no quadro impessoal da própria organização. Puro taylorismo.

Portanto, há que ressuscitar a conversa em todos os ambientes de trabalho e nos demais. Mesmo porque de uma boa conversa ninguém escapa.

Bj

Carlão.

Pois é. De uma boa conversa ninguém escapa.

Duas observações sobre o caso. Interligadas, como quase tudo no âmbito do cuidado com o trabalho e com quem trabalha.

Uma, sobre o uso da informação clara sobre o porquê das coisas. Vivi inúmeras experiências na gestão que, já há algum tempo me convenceram que muito pouco pode ser feito sem socializar informações. Por exemplo, implantar um impresso qualquer, em qualquer unidade, de qualquer organização, exige um processo de adequação que implica informar os sujeitos sobre a utilidade do material para o trabalho, enfatizando no quê ele qualificará as atividades daqueles que estão diretamente implicados.

Segundo, o caráter autoritário das instituições e suas organizações que, antes de tudo, visa o seu desenvolvimento como se ele fosse natural. Ora, qualquer instituição, sobretudo as instituições concretas, não se desenvolvem sem a adesão dos sujeitos. 

O problema está nas organizações que naturalizamos trabalho como se ele se bastasse em si, subssumindo trabalhador no quadro impessoal da própria organização. Puro taylorismo.

Portanto, há que ressuscitar a conversa em todos os ambientes de trabalho e nos demais. Mesmo porque de uma boa conversa ninguém escapa.

Bj

Carlão.

Oi Paulo, como vai?

Ao ler teu relato penso na força que vem do "fora" da instituição, ou seja, que outros ouvidos, mais capazes de ouvir justamente por virem de fora, podem ser fonte de transformação dos modos de se relacionar com os instrumentos de trabalho. Simples assim… Mas totalmente demais e fundamental!

bjs

Oi, pessoas humanas, bom dia.

Precisamos desfazer certas impressões.

Tomados pela crença platônica de que existe um Bem em si, contra seu correlato: o Mal, caímos frequentemente na armadilha de que somos detentores do privilégio divinamente dado do livre arbítrio, quando, de fato, somos prisioneiros de redes institucionais que nos tomam a vontade e nos sujeitam. O que denominamos de Bem nada mais é do que circunstância.

O moço do "esse fdp …" acredita na  força da crença de que o Bem (EPI) está do seu lado e que seu corolário opositivo não tem razão – outra quimera. Ninguém tem razão. Ninguém é o Bem. Ninguém é o Mal. Somos todos prisioneiros dessa rede nefasta das instituições. Não á livre arbítrio.

No caso, ambos os extremos dessa guerra cotidiana (o fdp e o fdputor) mostram o quadro institucional que pede sempre que ambos sejam qualificados com parte de um jogo que, ao fim e ao cabo, perpetra as finalidades das instituições.

Nossa única chance de minimizar posições determinadas nesse jogo seria o exercício da palavra e das ações de resistência dela decorrentes. Daí a consideração do "bom papo", mas sem sonho de resolução definitiva. Carregamos a prisão para a cova.

Deixo aqui um trecho da "Ordem do Discurso" que gosto muito e que me fez virar a página das quimeras, inclusive daquela do "fora" da PNH. Não estamos "fora" de nada. As armas das instituições foram historicamente e solidamente construídas para nos sujeitar a todos. Pensemos possibilidades de escapar, mesmo que em momentos, dessas redes que nos impõem a servidão. Para isso, temos a tarefa primeira de não nos localizarmos fora. Ao contrário, dentro e sujeitados.

Lá vai. Segurem a peteca.

 "O desejo diz: 'Eu não queria ter de entrar nessa ordem arriscada do discurso;não queria ter de haver com o que tem de categórico e decisivo; gostaria que fosse ao meu redor como uma transparência calma, profunda, indefinidamente aberta, em os outros respondessem à minha expectativa, e de onde as verdades se elevassem, uma a uma; eu não teria senão de me deixar levar, nela e por ela como um destroço feliz'. E a instituição responde: 'Você não tem que temer começar; estamos todos aí para lhe mostrar que o discurso está na ordem das leis; que há muito tempo se cuida de sua aparição; que lhe foi preparado um lugar o honra mas o desarma; e que, se lhe ocorre ter algum poder, é de nós, só de nós, que ele lhe advém'". ( Michel Foucault – A Ordem do Discurso).

Beijo fraterno

Carlão

boa reversão que a escuta pode fazer,  que retira do lugar de um descuido do próprio trabalhador com ele mesmo (fdp que nao se protege), para um escolha que revela sua inteligência entre o ruim e o pior: de sentir dor com equipamento com um design inapropriado para a tarefa, (dor imediata) e a perda de audição (efeitos a médio e longo prazo).

Fica pra mim a vontade de dar sequencia a esta escuta. E entender porque esse trabalhador não se autoriza a falar sobre isso, e a pedir mais protetores auriculares do modelo que avalia mais apropriado? 

Com diagnostico tão preciso sobre a resolução do problema, qual o motivo de ainda se submeter a essa situação. Porque não faz o pedido ele mesmo?

Produzir escuta como resistencia a privatizar o dano no corpo do trabalhador, segue sendo o desafio em toda estrutura da maquina de moer do trabalho assujeitado e que assujeita.

Obrigada pelo relato Paulo, que segue fazendo pensar.

Belíssimo Paulo.

Para quem milita na área do trabalho em saúde, podemos multiplicar infinitamente outros testemunhos destes, não só com relação aos trabalhadores, mas também aos gestores e aos usuários quando algo do normótico surdo é perpetrado como cuidado. São os desgraçados e ingratos com sua culturazinha perversa e sem a luz platônica aqueles que, afinal, são os sempre culpados quando a Racionalidade Gerencial Hegemônica, como diz Gastão Wagner, mostra a sua ineficácia diante das singularidades e das atividades reais de trabalho.

Veja bem, no caso, não se trata bem somente da dor, mas o "entra farinha nos ouvidos" é uma experiência para lá de incômoda e, por outro lado, insalubre. Nenhum ouvido humano está preparado para portar farinha indevidamente. De ambos os lados, dor e farinha no ouvido, temos um atentado à saúde, fazendo com que os trabalhadores, sem terem equipamentos adequados, resolvam correr o risco que se tenta evitar.

Porque eles mesmos não falam, pergunta a Débora. Ora, trabalhadores braçais não tem voz nem pensamento, eles estão silenciados pela falta de um  mandado social para falarem: o diploma de especialista. Aí, mesmo que falem, mesmo que gritem, não são ouvidos ou, se são, não são levados em conta. Afinal são sempre serzinhos desqualificados e desleixados com o trabalho, com a instituição e, Deus me livre, até com eles mesmos. 

Paulo intervem sim como um de "fora" Iza. Ou seja, sem sair do contexto, ele traz uma visão de um "fora-incluído" autorizado pela inspeção, que lhe dá mandado social para intervir. Sensível, não se contenta com a palavra instituída, porque a estranha e duvida que assuntos tão sérios possam ter diagnósticos tão pobres. Esta a beleza de seu relato de como "não capturado pelo poder assujeitador" enfrenta a instituição e, neste caso, resolve a parada de forma simples, mas, infelizmente tão arraigadamente difícil: simplesmente ouvindo aqueles que estão na linha de ponta e transformando-se em articulador com a linha de gestão. Não é isto, afinal, que entendemos na PNH como apoiador?

Argumentando com Carlão, acho muito pertinente trazer Foucault, mas muito mais para lembrar que na "ordem do discurso" ele não quer naturalizar o assujeitamento, nem tampouco reforçar o poder institucional, mas analisar relações de forças, buscando no entre elas, formas possíveis de resistir.

O lado de fora é uma bela expressão Deleuziana nos rastros entre Foucault e Blanchot e que nos diz,ao contrário do Rap, que não está tudo dominado. Há sempre um fora, se o entendermos como um fora-dentro, em que o poder instituído pode ser desviado e equivocado. Neste rastro veio a PNH, na qual acolhimento, ambiência, clínica ampliada, cogestão, etc, etc, etc, não são messianismos, mas apostas em modos de fazer que, para não sufocar, procuram ou inventam possíveis.

Mesmo no domínio, que Foucault nem mesmo considerava como relações de forças, mas uma forma em que o poder se cristaliza em uma forma dessimétrica, tornando quase impossível ao outro pólo responder, ele, numa tristeza, nos diz que aí ainda resta escolher a morte, que alguns entendem como um namoro com o suicídio, mas que vejo como um canto de vida. 

Aonde não vemos nenhuma possibilidade de uma vida digna de ser vivida, "é preciso estar atento e forte, não temos tempo de temer a morte". Aqui, um esclarecimento necessário: o Paulo atua no caso exatamente trazendo a vida, porque, sem medo de parecer piegas, ousa ouvir aqueles que não devem ser ouvidos, cegados, ensurdecidos e emudecidos por uma relação institucional nada democrática e inclusora.

Reflitamos pois, o Paulo nos traz mais do que parece trazer….

Iza querida!

Amei suas falas.

Ressalto a esperança de termos sempre um lugar nominal podemos criar. Identificar e atuar nas brechas forjando condições de possibilidades para tornar essa vida mais amena.

Vivo aprendendo.

Beijo

Carlão

Oi Paulo querido,

Tomei a liberdade de colocar uma bela foto para promover o teu post ao passeio no carrossel da RHS. Tudo bem?

grande beijo,

Iza

Paulo,

Mais uma vez vc fazendo a diferença.

A Ambiência na Saúde do Trabalhador; não havia necessidade de envolver todos os atores so um monologo com o Trabalhador.

Parabéns

audir