Sobre a Politica Nacional de Humanização, a Reforma Psiquiátrica e a construção de pontes

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A PNH traz consigo as questões já propostas desde a criação SUS. Mas ela propõe mais: a real aplicação aos objetivos, desfazendo os desencontros entre oferta e demanda. Melhorando não só para o usuário, mas também para o trabalhador da área de saúde. A PNH começa a trazer à tona um “SUS que dá certo”, deixando de ser um domínio abstrato e ganhando consistência nas experiências das práticas de saúde.

Concebida como um modelo de prática, a PNH tem na metodologia o apoio institucional como sua principal estratégia de mobilização, estes apoiadores institucionais fomentam e acompanham os processos de mudança na organização, ainda oferecendo suporte, conceitos e tecnologias aos movimentos desencadeados pelos coletivos, para qualificar os processos de promoção e produção de saúde.

Por isso, o principal objetivo da PNH é a formação de profissionais adequados ao processo de humanização e apoio institucional a humanização na produção de saúde. Nesse sentido, a PNH é muito cara aos profissionais da área da Psicologia, em especial.

Trazendo a PNH ao processo Reforma Psiquiátrica, esclarecemos que esse processo começa na década de 70 e vem a partir de o processo de redemocratização do estado, e foi fortemente inspirado na experiência da Psiquiatria democrática italiana, cujas politicas fizeram prosperar o processos de fechamento dos manicômios naquele país. Mas se faz necessário explicar que, Reforma Psiquiátrica, não se trata apenas da desinstitucionalização do paciente psiquiátrico, mas é também a ruptura dos estigmas relativos a ele.

É, antes de mais nada, a aproximação entre paciente e comunidade, a humanização do processo de tratamento, a inserção ativa do paciente em seus contextos sociais, possibilizando a alteração do seu valor social e estabelecendo um diálogo permanente com a sociedade.

No campo da Reforma Psiquiátrica, a PNH ajuda na estruturação de estratégias para atingir as necessidades da real Reforma. Segundo Bezerra (2007, p. 247), é necessário

produzir uma nova sensibilidade cultural para com o tema da loucura e do sofrimento psíquico. Trata-se de promover uma desconstrução social dos estigmas e estereótipos vinculados à loucura e à figura do doente mental, substituindo-os por um olhar solidário e compreensivo sobre a diversidade e os descaminhos que a experiência subjetiva pode apresentar, olhar fundado numa atitude de respeito, tolerância e responsabilidade com aqueles que se encontram com sua normatividade psíquica restringida.

A partir dessa desconstrução, a Reforma adota uma estratégia de dois eixos: a desconstrução do modelo hospitalocêntrico e a expansão de uma nova proposta de cuidados em saúde mental. Com isso, pretende-se avançar no que é mais complexo e fundamental para se levar a cabo um processo de reforma.

Sabe-se que são necessárias mudanças significativas da sociedade como um todo. Utópico seria pensar que esse eldorado será possível imediatamente. Entretanto, é necessário que todos nós – profissionais da área da saúde, estudantes, sociedade civil, usuários do SUS, amigos e familiares de usuários -, formemos redes colaborativas, estabeleçamos pontes.

É necessário que troquemos experiências, que nos construamos a partir de nossa alteridade.  Para que haja a verdadeira produção de saúde a partir de novas esferas de cuidado (de si e do outro), emergida da partilha e dos cruzamentos de subjetividades, é necessário que sejamos atravessados pelo outro e que o outro seja atravessado por nós. Esses são os verdadeiros encontros. Assim poderemos pensar em travessias e em um processo de saúde pública mais humanizado.

Referências
BEZERRA JR., B. Desafios da reforma psiquiátrica no Brasil. PHYSIS: Revista de Saúde Coletiva, Rio de janeiro, v. 17, n. 2, p. 243-250, 2007.