Cobertura da Virada Ocupação: Texto em apoio ao movimento dos estudantes das escolas estaduais de São Paulo

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Todos no palco

A Virada Ocupação em apoio aos estudantes secundaristas que lutam contra a imposição da reorganização escolar – Decreto n° 61.672 – que disciplina a transferência de servidores, remanejariam mais de 300.000 estudantes e fechariam 94 escolas, sobretudo pela atitude ditatorial do não diálogo, entre tantos outros desdobramentos…) aconteceu com criatividade e tecnologia na capital paulistana, a partir da participação popular, cuja competente organização devemos à rede de mobilização independente, “Minha Sampa”. À espera, de grandes nomes da música brasileira (como Arnaldo Antunes, Edgar Scandura, Paulo Miklos, Criolo, Chico César, Maria Gadú, Vanguart, Céu, Tiê, Letícia Sabatella e Caravana Tonterina, Tulipa Ruiz, entre tantos outros) clamava a multidão com alegria: “Antonio Alves [pausa], escola de luta; Fernão Dias [pausa], escola de luta; Andronico [pausa], escola de luta…; Todas as escolas [pausa], escolas de luta; fica declarado; que se fecha, nóis ocupa!”. “A nossa luta, unificou; é estudante junto com trabalhador!”; “Não é mole não, secundaristas vão fazer a revolução!”. “Governador, fala a verdade, educação nunca foi prioridade!”. “Aí Cara, bateu uma onda forte, tô vendo ocupação da zona sul a zona norte!”. “Ocupar é resistir”. “Não tem arrego!”. Também foram adaptadas canções; criado composições musicais e poemas, pelos próprios artistas, estudantes, pais e trabalhadores. Transcrevo e compartilho um trecho, com você leitor, parte de uma apresentação teatral; “Era um estado, muito engraçado […]/ ninguém podia/ contar com a mídia/ porque a mídia estava vendida/ ninguém podia/ tropeçar não/ porque a PM descia a mão/ governador fala a verdade/ educação não é prioridade/ Essa escola se tem labuta, secundaristas não fogem a luta!
Edgar Scandurra, um dos melhores guitarristas brasileiros, se não o melhor, entrou no palco antecedido de um lindo recital do Fernando Pessoa, poema Tabacaria. Não tem sala de aula, nem exame de vestibular que o assim faça sentir! Em sua apresentação, Edgar, transitou entre os trabalhos do “Pequeno Cidadão” aos incendiários e envolventes solos de Jimi Hendrix e teve sua apresentação encerrada com a canção, cujo a letra foi adaptada para “Flores em vocês”. “Eu vejo flores em vocês…”.
Também fui tocada pelos depoimentos dos estudantes entre um show e outro, e sei que, de fato, tem a ver com minha biografia, mas não tenho dúvida de que os depoimentos dos estudantes que resolveram encarar o microfone, sensibilizaram a todos que se dispuseram a escutar a juventude com compromisso. Os relatos foram sobre as violências de todos as formas que se apresentaram à eles; os discursos de protestos abordando sobre a difícil situação do ensino público, bem como, o grande número de estudantes em sala de aula, a falta de professores, as aulas vagas, a falta de tecnologia, estrutura, segurança, a mal remuneração dos professores, da qual também são vítimas, entre tantas outras situações, em contrapartida, muitos depoimentos e poemas também nasceram do esforço inconformado na defesa do justo e foram declarados na tentativa de resgatar as esperanças dos cidadãos, apontando novos rumos para educação.
Em meio aos poemas, gritos de paz [Nós acreditamos no amor!] e sob contagem regressiva entrou no palco, Arnaldo Antunes, um dos melhores poetas do nosso tempo, que deu início à sua apresentação cantando: “A escola é sua!”, versão adaptada de “A casa é sua”. No seu repertório relembrou canções antigas, como “Não vou me adaptar” e “Pulso”, todavia foi ao horizontalizar-se com as pessoas, descendo do palco, no centro da multidão, que o músico arrancou lágrimas ao cantar junto às pessoas à canção “Socorro”. Eu diria que Arnaldo Antunes marcou a Virada Ocupação com muito afeto, porque é preciso sentir o quanto esse aspecto é imprescindível para educação transformadora e produtora de sujeitos autônomos e construtores das suas próprias histórias.
No palco Pinheiros, muitos outros artistas se apresentaram, infelizmente impossível descrever. O espetáculo foi encerrado com a belíssima apresentação de Letícia Sabatella e Caravana Tonteria com sua interpretação da música Geni e o Zepelim de Chico Buarque de Hollanda, aguardadíssima pela multidão.
No final do evento, sacos de lixo foram distribuídos pelos jovens aos participantes, por conseguinte, limpamos a praça e o que não faltou foi espírito colaborativo. Como foi bom estar perto desses cidadãos, corajosos e sonhadores! Declaro todo meu amor!
Os outros palcos contaram com a participação de muitos outros artistas, entre eles, Chico César, Paulo Miklos, Vanguart, Maria Gadu, Bárbara Eugênia, Cidadão Instigado, Céu, Paulo Miklos, Tiê e André Whoong, Vespas Mandarinas, 2 Reis, Pitty, Fresno, Bixiga 70, Yiago Iorc, Lucas Santana, Karina Buhr e Metá Metá. A virada ocupação ainda contou com conversa sobre Jornalismo, Informação e Estratégias da Mídia com Vivi Whiteman e Paulinho Fluxus, assim como da análise de conjuntura.
O monopólio da mídia não perdeu a oportunidade de tentar manipular as pessoas e confundir os seus leitores publicando que a Virada Ocupação ocorreu para celebrar a suspensão do decreto da reorganização, o que trata-se de uma inverdade, porque seu objetivo foi o de mobilizar mais pessoas para fortalecer o movimento dos estudantes em prol da educação e a arte é potência educativa que consegue aproximar e mobilizar mais pessoas para participarem das discussões e mobilizações até o cancelamento da proposta de reorganização e até que seguranças maiores sejam conquistadas. A causa é justa e a luta legítima contra esse descalabro!
A ocupação continua e todos, ainda mais atentos, porque o discurso de Geraldo Alckmin ganha um novo foco – os pais dos alunos – assim, todo cuidado é pouco com as associações de pais que serão construídas para não sermos surpreendido pelo governo. A suspensão da reorganização é uma vitória, sobretudo o protagonismo dos estudantes, mas a escola de luta tem que continuar até o cancelamento da reorganização e que seguranças maiores decididas coletivamente sejam alcançadas!
“Tamo Junto!”

Nara Maria Holanda de Medeiros – Doutoranda da Universidade Federal de São Paulo e ex-estudante das escolas estaduais: Prof. Rosana Sueli Funari e Presidente Kennedy
Em apoio ao movimento dos estudantes!
06.12.15