O FUNDO DO POÇO: Considerações sobre o caos no setor saúde.

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Não é de hoje que a precariedade se instalou no setor saúde do Brasil, mas, o caos sempre apresenta facetas cada vez mais cruéis, prejudicando as camadas menos favorecidas da população, se analisados aspectos econômicos, políticos e sociais das suas maiores vitimas. Similar aos quadros evolutivos de doenças viróticas, os efeitos desse caos são mesmo devastadores e corroem as estruturas institucionais na velocidade destrutiva dos tornados.
Seus estragos causam sofrimento, frustração, revolta, desesperança da população nos profissionais e nas políticas públicas de saúde, pois aqueles que delas mais necessitam são abandonados, tratados com descaso, (des) humanizados, embora, prevaleçam questionáveis discursos de humanização dos serviços de saúde. Humanização de quê? Onde? Se as pessoas padecem a espera de atendimentos dignos em grande parte dos serviços públicos de saúde nas cidades brasileiras.  .
Somos diariamente bombardeados com noticiários da mídia sobre falta do básico nas redes de atenção básica de saúde, nos hospitais públicos, entre outros espaços de cuidados e atendimentos das pessoas em situações limite, vivenciando amargos momentos entre a vida e a morte. As pessoas são tratadas como objetos descartáveis, números, sequer são ouvidas em suas dores e dúvidas. Permanecem dias a espera de exames, medicamentos, tratamentos, transferências, ainda que munidas de mandados judiciais. Ninguém cumpre e tudo fica por isso mesmo.
Ambientes insalubres quando deveriam primar por princípios de higiene e limpeza exemplares. Insetos e roedores circulando livremente em ambientes de internação e procedimentos de diagnóstico e tratamento. Materiais e equipamentos nos quais se deveriam preservar princípios de degermação, assepsia, anti-sepsia, sem acondicionamento adequado representam riscos de contaminação, infecção e morte, para seus eventuais usuários.
Perderam-se valores éticos e morais no exercício profissional. Muitas ocorrências  de médicos compondo escalas de trabalho em diversos hospitais ao mesmo tempo, usurpando cofres públicos, mostrando como são mesquinhos, revelando os mais baixos escalões da personalidade e maldade humanas. Egos insuflados pela equivocada compreensão da sociedade que médicos têm de ganhar muito mais que os demais profissionais de saúde.
O resultado dessa distorção de valores está nas manchetes dos jornais, mostrando como fica difícil atrair médicos para assumir postos/contratos de trabalho após aprovação em concursos públicos municipais, estaduais e federais, ainda que com salários muito acima da média dos demais. Que me desculpem meus respeitados médicos da família. Mas, é sabido que raros são aqueles que cumprem a carga horária contratada. Que atendem aos cidadãos com respeito, cortesia, fazem exames, tocam as pessoas, param para ouvir o que o outro tem a dizer, expressar suas dúvidas.
Como os demais profissionais de saúde, muitos médicos estudaram em instituições públicas, mantidas pelos impostos pagos pela população brasileira, ou foram beneficiados por programas de incentivo ao ensino superior, também mantidos à custa de impostos pagos pelas pessoas que agora tratam tão mal.
Poderia tornar obrigatório que profissionais das diversas áreas de conhecimento que fizeram seus cursos em instituições públicas, ou que se beneficiaram dos programas de incentivo à sua formação, o cumprimento de período equivalente em setores do serviço público afim a cada carreira. Recebendo salário comum a todos do mesmo nível, e contribuindo sobremodo na promoção qualitativa dos serviços em benefício de toda a população. Uma forma justa de retribuição aos que direta ou indiretamente contribuíram para que todos eles chegassem onde estão.
Exemplos temos de nações onde todos os servidores públicos têm consciência de que são empregados de toda população, exercendo suas profissões com respeito, seriedade e compromisso para com os outros. Algumas com mais história que o Brasil, outras, nossas contemporâneas em termos de histórico de civilização e evolução social, no mesmo estágio ou mais avançadas.
Entretanto, o que nos causa espanto é a constatação do quanto temos a evoluir, amadurecer, considerando que convivemos inertes com situações absurdas de gestores que se apropriam dos recursos da saúde para adquirir imóveis de alto luxo, carrões importados, quilos de jóias, pedras preciosas e outras ostentações. Outros marginais disfarçados de empresários do setor saúde, mantendo fortunas em dinheiro em casa, enquanto faltam recursos para compra de materiais, pagamento de pessoal, etc.
Presos em flagrante, cumprem parte irrisória das penas/condenações, pouco tempo depois, voltam à prática dos mesmos crimes. Tudo se repete, sem que nada mude. Como se o fundo do poço fosse não existisse, afinal, o que mais pode nos surpreender?   
Wiliam Machado