Jesus e a Vida: Diversidade e Unidade.

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Dias da (in)certeza fática. A sexta-feira Santa e o domingo da ressurreição são comuns em muitas narrativas anteriores ao cristianismo.

Já o refinamento teológico de redenção e justificação da vida, têm relação com a peculiar reelaboração da filosofia grega, (especialmente com Sócrates, Platão e Aristóteles) em termos cristãos, simultaneamente de fé, dogma e lógica. Lentamente, após Paulo e seguindo pelos pais da igreja, Santo Agostinho, até São Tomás de Aquino foi trilhado o caminho da institucionalização da religiosidade inspirada por Jesus. 

Esse caminho levou a laicidade e a purgação do melhor aspecto da religião: a reverência pelo mistério em nome da certeza dogmática. Esse foi o curso, a inclinação histórica que nos deu a modernidade, a ciência e o ateísmo militante. A ciência, ao contrário do que muitos ainda acreditam, germinou no ventre da Idade Média, dentro dos mosteiros onde os monges copistas guardaram a chama do pensamento grego.

Mas, o empreendimento filosófico e depois teológico de justificar a vida, implica num pressuposto muito triste: O de que ela, a existência, está errada. É necessário, de várias formas, negar a vida, crer num Deus que se engana, que se ofende, para acolher a diversidades de coisas do mundo como remetidas a uma única e verdadeira unidade.

Um Deus não pode aprisionar-se com seus crentes em um desses polos. Ele não pode ser a um só tempo unidade ou diversidade. O deus da “Verdade” é uma caricatura. Ele só pode existir inteiramente no movimento entre unidade e diversidade e não na prisão de um ou outro extremo.

Nos evangelhos, pelo menos, naquilo que pode ser tido como indícios da singular experiência existencial de um jovem carpinteiro que viveu em Jerusalém, não há base para a ideia de que a vida clamava por redenção e justificativa. A vida era abundância e diversidade. Não finalidade e fim, mas diversidade e devir.

Os passos desse jovem homem foram de uma intensa aceitação da vida. Nenhum ódio, nenhum ressentimento. Apenas aceitação e empatia.

Muito do que se fez depois em seu nome (e que retorna intensa e violentamente nos dias de hoje) esteve mais de acordo com sua morte, do que com o modo como ele viveu.

Paradoxalmente, apesar de o instrumento de sua tortura ter sido tomado como símbolo de sua presença, ele é lembrado mais por seus passos na existência, que pela forma como foi morto. Ele ressuscita incessantemente pelo enigma de sua vida e não pelas “certezas” induzidas pela obsessão com sua morte.