Belo, solidário e humanizado…

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Maria Luiza Carrilho Sardenberg 24/04/2016

A cena lotou as páginas das redes sociais. De que se trata? Quem e o que aqui trata? Como trata?

 

 

 

 
 

15 de abril

 

 

 

Hoje vim passar o dia com minha amiga no hospital, em um certo momento do dia, uma senhora de (86anos) que está internada no leito ao lado do da minha amiga, a senhora começa a sentir fortes dores pelas feridas criadas nas costas pelo tempo que tem deitada na mesma posição, precisava de um colchão especializado pra amenizar a dores. No mesmo momento o Maqueiro veio pegar outra paciente pra fazer um exame, E viu toda a situação o mesmo saiu na mesma hora conseguiu o colchão especial pra senhora, ainda pegou a senhora no colo e ainda cantou uma linda canção pra ela, pra ela se acalmar enquanto sua nora, trocava o colchão. 
Fiquei emocionada pela atitude dele pelo gesto de humanidade. 
Por Mais Humanos assim. 
 
 
 
 

 

A visão da cena funciona como um bálsamo em tempos de uma espécie de reedição da vida nos moldes da Idade Média. Alguém poderá algum dia esquecer a exaltação da tortura feita por um deputado na praça pública do Congresso Nacional? 

A narração do acontecido nos chega pelo testemunho da moça que a postou. “Gesto de humanidade”, diz ela. “Por mais humanos assim”, completa. Milhares de comentários trazem a dimensão angelical do homem apelidado de Farofa. “Tem o dom da bondade”, afirma um. “Foi um anjo na minha vida”. “Ser humano invejável”. “Tem pessoas que tem o dom da bondade, são essas pessoas que o Brasil está precisando, pessoas simples, mas com o coração enorme”. À medida em que leio os comentários, vou me contagiando pela beleza ingênua, mas totalmente legítima e sincera do povo brasileiro e em contraste com a sanha violenta e usurpadora de nossas potências de uma parte daqueles que nos representam nas instâncias de poder. 

Ocorre que o poder instituído constitui apenas uma parte ou uma forma de poder. Aquela mais visível e supostamente mais forte. E é porisso que o gesto de Farofa ganha tanta potência. Ele se insere nos modos de resistir. Ele tem o dom de contagiar e nutrir outras forças em jogo na sociedade. Melhor dito, ele é o efeito destas outras forças em jogo na constituição de outras possibilidades de subjetivação.

A nobreza do gesto de Farofa aumenta em progressão geométrica a luta pela humanização dos cuidados em saúde, mais que isso, na vida. Nela vemos o funcionamento das forças invisíveis e poderosas de instituir outras práticas e que não esperam pela “implantação” de programas ou planos governamentais. 

A nobreza do gesto de Farofa aumenta infinitamente ainda o contraste entre esta beleza e aquela do recato estéril e triste da vida circunscrita ao “lar”.

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7 Comentários

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Por Erasmo Ruiz
Querida amiga!
 
Tem duas coisas nessa história que me incomodam. Mas antes um elogio. Linda expressão do humano colocada ali na imagem. É de chorar, toca intensamente a alma e o coração. Chama a atenção pela aparente raridade de se ver gestos de solidariedade chegarem a esse limite do cuidado, de oferecer o que se pode oferecer naquele instante limite para mitigar dor e sofrimento. Quiça essa fosse a regra e não chamasse tanto as pessoas porque considerariam o gesto absolutametne comum.
 
Mas agora vamos ao que me incomoda:
 
1) O que levou a idosa a expressar dor? A julgar pelo texto, escaras que podem ser interpretadas como NEGLIGÊNCIA. Em casa pode acontecer por desconhecimento e por condições materiais inadequadas. Em situação de internação hospitalar é negligência imperdoável, é descuido, imperícia, BARBÁRIE.
 
2) Qual o manejo sobre a dor que essa idosa estava tendo? Ausência de profissionais médicos e assistência farmacológica inadequada a processos dolorosos nos pacientes parece criar uma espécie de banalização da percepção da dor alheia por trabalhadores em hospitais, principalmente quando a hotelaria e condições gerais faz lembrar Gaza no auge dos ataques aéreos de Israel. Ou seja, se existem muitos pacientes expressando desconforto imenso ao mesmo tempo, isso se torna o “normal”.
 
Óbvio reforçar que o gesto do maqueiro foi maravilhoso, algo idílico do expressar humanidade. Como precisamos disso. Mas, em parte, essa solidariedade “extrema” ou “extremada” não é consequência da ausência de intervenções adequadas? Farofa atuou talvez porque faltou manejar adequadamente a dor dessa idosa. Faltou também cuidado anterior adequado e competente e, dessa forma, também mais humano (principalmente, repito, se as escaras ocorreram durante a internação hospitalar). 
 
Acho que é preciso ressaltar a beleza dos gestos de amor e solidariedade no cotidiano das práticas de saúde, mas estarmos atentos que esses gestos não sirvam como escudo que esconda o que em parte os determinam. Lembro-me aqui das capanhas de Betinho contra a fome no Brasil. A primeira ação massiva foi a arrecadação de alimentos para que as pessoas que estivessem no limite da subnutrição pudesem ter alguma esperança. Mas com o tempo Betinho sinalizou para outras ações como a discussão e mudança da estrutura fundiária no Brasil e a valorização do trabalho coletivo. 
 
O gesto de Farofa é de uma beleza e poesia intensos…mas é um grave “sintoma” de que algo não vai bem em alguns hospitais nesse país, e esse “não ir bem” é um outro sintoma que brotaria de problemas mais complexos como a crise de financiamento do SUS entre outros. 
 
Bj e carinho do ERASMO 
    Por Stella Maris Chebli

    Essa imagem também chegou no meu celular e não sabia de onde provinha…

    Me lembrou uma foto que vi em uma exposição no Instituto de Cultura Arabe de París, forte, muito colorida e se tratava de um homem carregando um menino em uma cena de guerra em algum país oriental… 

    Acho que disso se trata, de um modo individualista de viver, nada de solidariedade nesses tempos “sombrios”… não acho, como diz o Erasmo, que o subfinanciamento do SUS seja o problema nessa situação, mas um descaso para com o outro e  ainda em uma situação de fragilidade pela idade e pela doença!

    Parabéns ao Farofa! Conte conosco!

      Por Erasmo Ruiz

      Oi Stela! 

       

      Não disse que o subfinanciamento seja o problema nessa situação. Disse tão somente que ele  pode ser UM  DOS componentes em gestos de soldiariedade extrema, o que nunca invalida o gesto do Farofa, que também conta comigo incondicionalmente. Que ele sirva de exemplo para muitos outros, principalmente gente com diploma que as vezes se nega a atemnder pessoas porque o horário de plantão está terminando, como já acontecer algumas vezes, infelzimente. Um grande abraço

Por patrinutri

O que move nossa sensibilidade?

O que é capaz de despertar em nós este sentimento de compaixão, gerando atitudes de tomar para si o cuidado?

Vejo nesta cena em particular coisas que podem aproximar estas duas pessoas, mas todas elas apontam para uma atitude mais individual do Farofa que outras coisas que o levariam por razões profissionais ou institucionais.

Então me vem a pergunta: por que parece que a a humanização tem sido deixado na conta do individual? Precisamos mais de mudanças estruturais na saúde que façam do cuidado uma ação coletiva, institucional, muito mais que o acaso da compaixão de cada ser.

Como disse muito bem o Erasmo, temo que estejamos errando no cuidado em aplacar as dores de nosso doentes, que estejamos deixando as instituições falharem nas ações de saúde .

Falta mesmo muita humanização na saúde! Humanização como um ato de gestão. Humanização com a diretriz da clínica ampliada, do acolhimento.

Obrigada por compartilhar conosco este momento em que o Farofa foi grandioso, sem planejar ser, somente porque seus sentimentos estavam a serviço de um bem comum e não somente individual.

Que bom que existem Farofas por aí!

Bjs Pat 

Por deboraligieri

O respeito à dignidade humana, mais do que um fundamento do Estado Democrático de Direitos expresso na Constituição Federal, deveria ser o fundamento da existência de cada pessoa nesse mundo, tão seduzido por qualidades externas de uma beleza e comportamento social padronizados e padronizantes. Farofa sim é belo, em sua constituição como figura humana. 

Obrigada pelo lindo e tocante post Iza!

Por Marilene F. Ritter

mto válido todos os pontos de vista, das pessoas com relação esse gesto nobre diria de AMOR ao próximo, respeito. Mas me leva a refletir por que a administração política deixa chegar a decadência um serviço que começou com tudo para dar certo, por que os interesses políticos enxergam apenas o próprio “umbigo”, deixam o caos se instalar para depois dizer que a estratégia é terceirizar, quem luta e acredita num SUS de qualidade sabe a falta de planejamento, de competência, de valorização do outro como um dos seus familiares. 
É preciso desconstruir perfis gerências próprio, e fazer gestão para o povo e de qualidade

Por Marilene F. Ritter

 Eu trabalho na saúde pública, e vivo, e já vivi dentro de hospitais, mas uma coisa sempre fiz lutei pelo paciente e não me deixei corromper, busquei conhecimento e mtas vezes fui chamada de louca. Pois hoje estou aqui e não tenho vergonha do SUS, luto por ele (SUS), pelos trabalhadores da saúde e principalmente pelos usuários.

Enquanto viver defenderei esse sistema. E quando precisar atendimento é lá que irei buscar também sou usuário, se todos cobrarem por melhorias , participando dos conselhos de saúde, do planejamento das ações de acordo com as necessidades locais, não com interesses particulares. “Benefícios, a terceiros com valores sub faturados”, a mudança começa a acontecer, a fiscalização cabe a nós o povo.

O Brasil é mto carente de controle social. Se fizer uma pesquisa hoje no Brasil aos gestores públicos e /ou outros servidores da saúde e for perguntar você tem coragem de buscar atendimento em no hospital que vc trabalhar? As respostas, seriam surpreendentes…, por que não tem coragem de utilizar o próprio sistema que trabalha, na minha visão é por que não acredita no seu próprio trabalho ou não conhece o SUS.