O CONTRIBUINTE E A FALTA DE MÉDICO NO BRASIL

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Por mais pobre que possa ser qualquer cidadão, ele sempre contribui pagando imposto sobre tudo que compre/consuma, o que significa afirmar que todos cidadãos e cidadãs brasileiros contribuem para que a máquina funcione como deveria. Os mais favorecidos do ponto de vista social e econômico, pagam exorbitâncias em impostos e não têm retorno equivalente de serviços essenciais disponibilizados pelo setor público, como saúde, por exemplo. Por isso, ainda precisam recorrer aos planos de saúde para garantir o que o Estado deveria dispor gratuitamente. Enquanto aos de poucos recursos, cabe o desafio de vagar de serviço em serviço público da rede hospitalar, de exames, diagnóstico e tratamento, enfrentando a cruel realidade estampada no descaso das autoridades.

Não obstante a falta de material, insumos básicos, equipamentos, etc., o que nos causa mais indignação é a recorrente alegação da falta de médicos para os atendimentos de ambulatório, urgência, emergência e das especialidades, considerando que maioria desses profissionais foram beneficiados pelos impostos pagos pela população desassistida. Esquecem que os médicos que fizeram seus cursos de graduação em instituições públicas não pagaram mensalidades, toda a estrutura foi custeada pelo contribuinte. O mesmo para cerca de 90% dos estudantes de medicina das faculdades particulares, cujas mensalidades são financiadas pelo Erário, através de programas de incentivo, portanto, também custeadas pelo povo brasileiro.

Em ambos os casos não há menor controle e compromisso oficial para que os estudantes dos Cursos de Graduação em Medicina, como os demais, compensem com serviços prestados à sociedade em período equivalente ao benefício recebido. Mesmo que a restituição do benefício continue sem caráter oficial norteador e fiscalizador, deveria prevalecer o componente moral, ético, humanitário, aquele que emerge da virtude, sensibilidade e gratidão para com quem possa precisar dos seus serviços para manter a vida.

Ao contrário, envaidecidos pelo privilégio que a classe médica desfruta na sociedade brasileira, prestam concurso para exercer função de servidor público, de acordo com editais, cuja função deve ser desempenhada em jornadas semanais de 30 ou 40 horas, como os demais concursados. Ocorre que, se aprovados e convocados, em maioria, não cumpre horário e impõe regras adversas ao estabelecido nos editais. Acabam por representar maiores motivos de insônia e pesadelo para os gestores públicos, pois figuram como laranjas podres a contaminar os demais servidores públicos, com o péssimo exemplo de não cumprir o determinado nas regras que vigoram para todos. Eis uma das mais graves razões para justificar a falta de médicos nos serviços de saúde da rede pública, porque nas instituições particulares eles não ousam fazer o que fazem no serviço público, cumprem como cordeiros as regras impostas pela instituição, cientes de que a concorrência é que determina mudança de conduta.

 

Wiliam Machado