ATENDIMENTOS DE LESÃO DE PLEXO BRAQUIAL EM RECÉM-NASCIDOS E GINÁSTICA ARTÍSTICA NO MESMO AMBIENTE: Incongruências.

5 votos

Nos últimos oito anos, a gestão pública de Centro Especializado de Reabilitação, em Três Rios, Centro Sul Fluminense, independente dos arranjos para acolher crianças com microcefalia, chamou-me atenção para o alto índice de recém-nascidos admitidos na unidade com histórico de lesão de plexo braquial, o que requer implemento de estratégias de intervenção precoce de reabilitação, com foco em atendimentos de fisioterapia e terapia ocupacional. O plexo braquial é um grupamento complexo de cinco nervos que se origina da medula espinhal na região do pescoço, passa debaixo da clavícula e, na axila, dá origem aos nervos que vão controlar os movimentos e a sensibilidade do ombro, braço, antebraço e mão.

Uma lesão de plexo braquial gera déficit motor e/ou sensitivo; paralisia parcial; anestesia incompleta; arreflexia e reflexo patológico. Em recém-nascidos, causa preocupação dos pais que não compreendem as razões para que seus filhos se mostrem com tantas dificuldades de movimento, considerando que o feto se apresentava bem através dos exames de imagem realizados no acompanhamento pré-natal. Ocorrências com índices elevados no Centro Sul Fluminense, sobretudo, acima da média, tomando como base de cálculos os nascimentos nas instituições hospitalares da região.

Sem que o recém-nato seja encaminhado aos serviços especializados de reabilitação para início das intervenções precoces, o déficit motor tende a aumentar o quadro de paralisia e atrofia muscular, cujo comprometimento da dimensão da lesão neurológica dependerá de tratamento de reabilitação física de longo prazo, inclusive, com indicações para procedimentos cirúrgicos. A propósito das intervenções cirúrgicas em bebês, os reflexos em termos de ansiedade, angústia e estresse dos pais, familiares e pessoas significativas, são inimagináveis, requerendo avaliação, acompanhamento e intervenções de psicologia e serviço social, além de avaliação, intervenções e orientações de enfermagem acerca de como cuidar adequadamente do ferimento, ministração de medicamentos, da mobilização correta para cuidados, conforto e higiene corporal da criança.

Embora dados estatísticos indiquem que as lesões do plexo braquial ao nascimento ocorrem cerca de 1,5 vezes para cada 1000 nascimentos vivos, a incidência no Centro Sul Fluminense está bem acima dessa média, o que requer avaliação das causas para essa distorção face aos indicadores nacionais. Curioso constatar que maioria dos casos atendidos no CER II Planeta Vida, referência no Centro Sul Fluminense, trata-se de gestantes que fizeram pré-natal na rede básica do SUS. Nesse sentido, espera-se que as equipes da Rede Cegonha, atuantes na região, especialmente criadas para acompanhamento sistemático das gestantes cadastradas no programa de atendimentos no pré-natal, do Ministério da Saúde – SUS, implementem instrumentos oficiais de avaliação dos resultados, com vistas na identificação das causas para o alto índice dessas ocorrências.

Embora existam diversas causas possíveis, aparentemente a mais frequente é a tração lateral excessiva da cabeça durante o nascimento. Isso ocorre principalmente nos casos em que, devido a uma desproporção entre o tamanho do bebê e da mãe, o ombro da criança fica preso em um osso da pelve da mãe e durante as manobras obstétricas para soltá-lo o plexo braquial é lesado. Manobras essas, muitas vezes, efetuadas às pressas, por profissional não habilitado e/ou desatento para o advento de complicações neurológicas de maior porte, como isquemia e consequente paralisia cerebral. Intercorrências previsíveis, desde que o procedimento obstétrico ocorra em consonância com os resultados dos exames realizados pela gestante no pré-natal, porém, referenciais desconsiderados pelos profissionais que atuam nas maternidades, acusando flagrante desarticulação entre equipes da mesma rede de serviços de saúde da área materno infantil.

Bebês com lesão de plexo complicada por paralisia cerebral, tendem a apresentar episódios convulsivos, maior sensibilidade auditiva, visual, tátil, razões para que seus atendimentos sejam efetuados em ambientes adequados, preferencialmente, aqueles com sonorização de baixo volume, inclusive, que os profissionais verbalizem em tom suave. Nesse ponto, fica clara a incoerência de se manter no mesmo ambiente atendimentos dos usuários do Centro Especializado de Reabilitação – CER II, Planeta Vida, referência regional do Ministério da Saúde, dividindo espaço com atividades da Ong Qualivida e seus projetos de ginástica artística. Enquanto o som alto rege a lógica de estimulação das atletas para produção de adrenalina, crianças com paralisia cerebral são adversamente estimuladas por cargas hormonais similares, desencadeando reações de pequenas, médias e grandes convulsões, que lhes prejudicam atingir metas traçadas pelo programa de reabilitação. Não seria oportunidade para desfazer essa aliança inconveniente? Afinal, espaço é o que não falta, na atual conjuntura da Secretaria Municipal de Esportes.