Apenas um rapaz no (des) Encontro Latino Americano de Direitos Humanos e Saúde Mental

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No dia 27.06.2017 ocorreu em Florianópolis, o 1º Encontro Latino Americano de Direitos Humanos e Saúde Mental contando em sua programação com representantes de diversos países.  Fiz uma fala na segunda mesa na qual destaquei a importância dos profissionais da saúde mental não menosprezarem seus usuários, exemplifiquei os diversos papéis que desenvolvo ou desenvolvi em meu processo de reabilitação pela educação, desta forma eu poderia ser chamado para muito além do rótulo de usuário.

No domingo lendo um texto intitulado: É preciso ter coragem para ser feliz   fui citado como um outro ativista que compartilhou sua atividade blogueira na Folha de Lírio www.folhadelirio.com.br

Naquela hora escrevi no grupo de whatsapp que foi criado e no qual eu fui inserido da Rede Latino Americana de Direitos Humanos e Saúde Mental, agradeci a forma como a citação foi feita mas disse tenho NOME e gostaria de ser chamado por ele. Daí criaram um outro grupo de whatsapp com apenas 3 pessoas, eu, o autor do texto e um organizador do evento, ao que eu escrevi simplesmente que não deveriam me inserir em grupos do aplicativo telefônico sem perguntar antes e que este evento para mim nada trouxe de bom.

Em terapia na manhã de hoje com minha psicóloga ela aconselhou-me a escrever sobre o ocorrido para que eu pudesse tirar esse sentimento de mim. Constatando infelizmente que mesmo entre os grandes que são reconhecidos internacionalmente e escrevem livros falando de Reforma Psiquiátrica e Luta Antimanicomial, a exclusão se repete, o esquecimento humano “apenas do sobrenome da usuária e do nome do usuário que ficou assim “sem nome”  como um outro ativista.

No fim das contas o meu nome foi incluído na matéria, mas eu não preciso de coragem pra ser feliz, eu preciso de respeito,  não quero ser o chato da história mas é cada uma que acontece que não dá pra engolir por  “um bem maior”

Quero falar em português alto e claro porque estamos no Brasil e a plateia ficou claramente entedeada com as falas em espanhol e aquelas em portunhol que não estavam nem lá nem cá, tentando agradar os visitantes. O público brasileiro ficava entendeado e despersava fácil quando alguém falava em espanhol.

Quero ter o direito de responder as perguntas e que a minha mesa não seja terminada antes porque o pessoal quer almoçar, já que o evento atrasou.

Não quero rivalizar com outro usuário uma briga que não é nossa, mas não quero ser colocado á sombra dele porque moro em Joinville e ele na capital, o que eu queria era ter o espaço de Fala no 3º Fórum Brasileiro de Direitos Humanos e Saúde Mental, mas não foi oportunizado.

Não sou famoso, acho que sou apenas um rapaz latino-americano sem dinheiro no banco, sem parentes importantes e vindo do interior…

Sonho com o dia em que a Reforma Psiquiátrica Brasleira, se efetive na perspectiva dos usuários, pois a representatividade café com leite nesses eventos já não nos serve, queremos paridade!

Quero ver muitos outros usuários, falando dos serviços que frequentam e também apresentando os trabalhos dos quais fazem parte de forma ativa e geralmente são enquadrados como sujeitos numa metodologia.

Não quero descobrir a América nessa perspectiva que reproduz o preconceito, afinal em nome do cuidado quantas formas de sofrimento ainda se tem produzido mesmo em espaços que deveriam ter superado essa questão. O que vocês escrevem nos livros e artigos não reflete as suas práticas….