Refletindo sobre a importância da tecnologia das relações na perspectiva do atendimento humanizado no cotidiano do PSF.

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Considerando a Política Nacional de Humanização enquanto aporte central no atual cenário em que se desenvolve a Residência Multiprofissional em Saúde da Família e Comunidade no Tocantins, que propõe a reorganização dos processos de trabalho através da valorização dos diferentes sujeitos envolvidos no fazer saúde, bem como da construção de novas subjetividades, falar sobre e vivenciar o uso da tecnologia das relações torna-se uma práxis imprescindível no ato cotidiano do fazer/ produzir/ ofertar saúde.

A experiência que me tem sido viabilizada pela Residência Multiprofissional em Saúde da Família e Comunidade aqui no Tocantins, a partir da experiência de estágio na Atenção Básica, USF 612 Sul, localizada na região central de Palmas, vem sendo de extrema significância para a apreciação e vivência real da importância do uso da tecnologia das relações na produção e ressignificação das práticas de saúde da ESF.

Nessa perspectiva, torna-se praticamente impossível, falar-se em atendimento humanizado sem repensar e reconstruir os modos como as pessoas se relacionam e se interagem em suas práticas cotidianas, e este vem sendo um dos trabalhos objetivados pela Residência Multiprofissional em Palmas-To. Partindo de tal experiência, tenho percebido na minha vivência enquanto residente (bem como no relato das experiências de meus colegas residentes) que, em se tratando de atenção básica, em especial da ESF, não há como se efetivar a estratégia sem contemplar as categorias do acesso, do acolhimento e do vínculo, que se dão prioritariamente e porque não dizer em “essência”, no entre das relações que se constituem nesse contexto. Porém, a prática cotidiana do real, vem demonstrando que de maneira demasiada, os trabalhadores da ESF, bem como a própria comunidade, não compartilham da compreensão da tamanha relevância que se encontra em tais elementos para a concretização de um serviço que seja verdadeiramente potencializador e produtor de mais qualidade de vida a todos os sujeitos envolvidos no processo de produção de saúde.

E, ao se falar em tecnologia das relações, ou, de acordo com Merhy (2005) em “tecnologias leves”, ao mesmo tempo, fala-se em mais qualidade de vida aos trabalhadores e gestores, construindo-se uma teia dialógica intersubjetiva que beneficia e possibilita a todos os sujeitos o gozo de uma boa saúde, de uma boa vida.

Dessa maneira, se pensarmos a atenção básica como porta de entrada do usuário no sistema de Saúde Pública e a Equipe Saúde da Família, como estratégia fundamental que se propõe a mudar a organização do trabalho, não há como se distanciar do trabalho humanizado e sobremaneira da PNH e dispositivos que esta oferece ao processo de trabalho bem como ao processo de produção de sujeitos.

 A acessibilidade, o acolhimento e o vínculo fazem parte desse contexto e são em suma, recursos que necessitam substancialmente do uso das tecnologias leves, do contato de pessoa para pessoa, o que significa destituir, ou desconstruir a idéia de neutralidade na relação trabalhador-usuário e não somente nesta como comumente estamos habituados a pensar e discutir, mas primeiramente, na própria relação com o serviço, bem como na própria relação trabalhador-trabalhador. Destaca-se nesse sentido, o fato de os processos de trabalho em grande instância instituírem uma modalidade habitual de relações destituídas de afetos, de uma dialogicidade de seres autênticos que possam expressar livremente seus sentimentos, expectativas e frustrações em relação ao ambiente de trabalho, aos processos decisórios e à maneira como estes são articulados, e as pessoas envolvidas no serviço.

O atendimento humanizado deve, portanto, respeitar e valorizar a subjetividade e a dignidade humana tanto dos trabalhadores, quanto dos usuários, favorecendo a construção de um espaço libertador, onde as pessoas possam se lançar ao experimento do novo e de si mesmas, vivenciando uma atmosfera que através de relações positivas e construtivas, potencializem a vida, e a capacidade humana de criação, de indignação, de invenção e ressignificação de novos modos de produzir saúde, de se relacionar e se envolver com o outro. A facilitação da construção dessa atmosfera e o fomento a novos modelos de relações tem sido uma prioridade no trabalho desenvolvido pelos residentes multiprofissionais na USF 612 Sul, na cidade de Palmas-Tocantins.