Fórum discute humanização hospitalar

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A dedicação espontânea em prol de uma assistência
médica mais humana é tema de evento estadual

 

JANAYDE GONÇALVES
REPÓRTER

Unidades de saúde de todo o Brasil estão abrindo portas para voluntários bem como para a criação de um ambiente humanizado, de cuidado e atenção aos pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS). Essa é uma constatação do Fórum de Humanização Hospitalar, que tem reunido, desde ontem, médicos, assistentes sociais, enfermeiros e terapeutas do Estado.
 

Promovido pelo Instituto do Câncer do Ceará (ICC) em parceria com a Associação Viva e Deixe Viver, o evento, que acontece no Hotel Blue Tree Premium, está propiciando a troca de experiências e a mostra de iniciativas bem sucedidas na área. Do fórum, devem ser numeradas propostas de conteúdo para o próximo congresso nacional sobre o tema, explicou o presidente da Associação Viva e Deixe Viver, Valdir Cimino.
 

 

Fortalecimento
 

Satisfeito com a participação das entidades cearenses no encontro, ele apontou a importância de fortalecer grupos de trabalho em humanização. "Faz-se necessário motivar todas as pessoas que participam da rotina dos hospitais, e fazê-las perceber quem são aqueles indivíduos que chegam ao hospital. Não são clientes, usuários ou consumidores, são seres humanos que precisam de atenção e respeito, especialmente porque estão em busca de uma
recuperação", advertiu Valdir Cimino.
 

"Pacientes não podem ser tratados como pedaços, como parte, mas como um todo. E os profissionais que atuam na área de saúde devem estar imbuídos de positividade, coisa muito difícil de se ver nos hospitais. Os médicos têm de saber que umdia eles podem estar do outro lado da mesa", concluiu.

 

Para a coordenadorado Projeto Celebrar, do Hospital São José, Francione Araújo, outro aspecto que deve ser observado na humanização hospitalar é o familiar. "O vínculo da equipe de saúde deve ser fortalecido com os acompanhantes. Temos de observar a solidão diante da incerteza do tratamento".
 

 

Todos por um
 

Promover a confraternização dos pacientes com funcionários do hospital é essencial para a evolução dos quadros clínicos, observou Francione. Para ela, convidar médicos, assistentes sociais e auxiliares para a celebração de datas como Dia das Mães, Páscoa e Natal são atitudes muito significativas.
 

"O objetivo é trabalhar para que os pacientes evoluam para a alta ou melhoria no tratamento. Daí a necessidade de aliviar as tensões do internamento, elevar a autoestima e valorizar a dimensão espiritual de cada paciente", destacou a coordenadora, que também
ressaltou a importância de possibilitar um espaço de expressão do voluntariado nos hospitais da cidade.
 

O simples ato de segurar a mão de um paciente enquanto ele está passando por uma quimioterapia pode parecer simples para algumas pessoas. Porém, para quem recebe o calor da companhia, essa é uma atitude extremamente valiosa, ainda que o cuidador não seja um ente da família, mas sim um voluntário, observou a enfermeira Luciana Carvalho.
 

 

Fique por dentro
 

A legislação
 

Instituída pelo Ministério da Saúde (MS) no ano de 2003, a Política Nacional de Humanização da Atenção e Gestão do SUS (HumanizaSUS) reconhece, desde então, que estados, municípios e serviços de saúde devem reforçar o conceito de clínica ampliada, com a participação de diversos atores sociais. Assim, os hospitais devem ter, pelo menos, Câmaras Técnicas de Humanização com plano de trabalhos definidos.
 

Além disso, estão entre as diretrizes da política pública, a promoção de uma ambiência acolhedora e confortável, para trabalhadores e pacientes, desde a recepção ao internamento.
 

A criação e a sustentação das iniciativas humanizadoras devem ser implantadas de forma progressiva e permanente.
 

 

ENTREVISTA
Lúcia Maria Alcântara de Albuquerque
 

A importância dos resultados da humanização hospitalar na atenção e na recuperação de pacientes


O Instituto do Câncer do Ceará é uma das entidades que desenvolve a humanização hospitalar em várias instâncias,com voluntários que trabalham desde a recepção ao setor de radio terapia, por que o voluntariado é tão importante nessa unidade?

 

O diagnóstico de câncer, assim como outras doenças que requerem internação já deprimem o pacientes desde o inicio. Os diagnósticos são compreendidos como um selo. Já trazem uma insegurança em si. Posteriormente chegam as dores de ordem físicas. Mas são os fatores emocionais que deixam os pacientes mais instáveis. Eles são tomados por uma dúvida intensa sobre a recuperação, se estão caminhando para uma morte que pode estar, ou não, se aproximando.
 

Os tratamentos são agressivos, as cirurgias geralmente são mutiladoras. Para toda e qualquer mulher a retirada de uma mama é um grande trauma. Em outros casos ocorre a amputação dos membros. Esses processos são fortemente dolorosos, que debilitam e trazem consequências estéticas como a alopecia, ou seja, a queda do cabelo, que fragilizam emocionalmente todos os pacientes. Por todos esses fatores, a atenção humanizada, de todos os profissionais e voluntários funciona como um bálsamo reconfortante para aqueles que estão em tratamento, que precisam, mais do que em outro qualquer momento da vida, de muita amabilidade, carinho e cuidado.
 

 

Um dos painéis do Fórum tratou sobre a "Humanização da Morte e do Morrer". Na maioria das vezes, as pessoas preferem não falar sobre o assunto, por que ele é trazido para o evento?

Em geral, todos tem medo de pensar na morte, de falar da morte, mas já nascemos com ela, sabendo que cada dia que se vive é um a menos, essa ideia tem quem ser naturalizada.
 

Os profissionais de saúde, que lidam com a linha tênue entre a vida e a morte precisam refletir sobre o assunto.
 

É importante que os enfermeiros, voluntários e médicos, acompanhem e enxerguem os pacientes como pessoas, que tem sentimento e precisam que seu contexto de vida seja compreendido por eles.
 

Pacientes em momentos terminais possuem desejos, de ver alguém ou um simples apelo espiritual. Muitos dos pacientes que estão próximos de morrer ficam em UTIs, mas depois de um tempo, constatada a realidade do caso, alguns não tem mais que estar ali, do contrário, precisam estar no ambiente familiar, próximo aos entes queridos. Perguntou-se à plateia quem gostaria de morrer sozinho. Ninguém respondeu que sim. Então, temos que entender que o seio
da família éo melhor lugar nesses momentos. Muitos são aqueles que morrem sozinhos em hospitais porque existem horários de visita, porque não podem estar acompanhados da família, porque moram longe, etc. Temos que ficar atentos para essas questões de
maneira natural.
 

 

Como você avalia os resultados do Fórum de Humanização?

É um encontro de grande importância porque juntamos profissionais que trabalham em instituições públicas onde a humanização é intrinsecamente necessária. Tivemos a presença do Hospital São José, que atua no tratamento de doenças com prognósticos reservados como Aids e demais infecciosas. Do Hospital Albert Sabin, credenciado pelo Ministério da Saúde para realizar procedimentos de alta complexidade em Oncologia. E outras unidades que podem trazer bons resultados para a consolidação da
política de humanização hospitalar no Estado.
 

*Radioterapeuta do Instituto do Câncer do Ceará
 

 

(Fonte: Diário do Nordeste – Fortaleza/CE, 23/04/2010)