A HISTÓRIA DE SEVERINO

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Essa é a história de Severino. Severino foi criado para uma apresentação de um seminário da disciplina “Saúde e SUS” do Programa de Residência Multiprofissional em Saúde da Família da Universidade de Ciências da Saúde de Alagoas (UNCISAL), que teve como tema Redes de Atenção à Saúde. Como tantos outros Severinos, nosso Severino também é usuário do SUS.

Esta história que vou contar dará o que falar. É a história de um morador do Pontal, que nem a “pau” gostava de se cuidar. Severino, um alagoano arretado, de uns 40 anos de idade, pescador de primeira, que de uns meses pra cá, sentiu umas canseira.

– Homi, e agora, quem vou procurar?

Josefina, sua mulher, católica cheia de fé, mas com um “bocado” de razão, disse logo ao varão:

– Severino, cabeção, vá no posto ali do lado cuidar dessa danação!

Então, o homi, meio avoado, logo chegou naquele lugar. Leu um aviso, letra dourada na parede, dizia: “Atenção Básica, porta de entrada e ordenadora da rede”.

Eita que Severino tava feliz! Aquelas canseira que sentia, no outro dia, logo iam se acabar. Primeiro passou por uma consulta. A enfermeira fez uma ausculta em seu peito:

– “Dotora, dê um jeito nas canseira que sinto”.

Severino ficou meio nervoso, atrapalhado, temeroso. Mal sabia o que acontecia consigo. A enfermeira percebeu o seu pesar e não hesitou a psicóloga chamar. Novamente uma escuta, um tanto curta. O homem ouviu a psicóloga citar, durante o conversar, um termo bonito, fácil de lembrar. Era uma tal integralidade que acontecia na unidade. Genial, uma ação multiprofissional! Depois, uma palavra que causa admiração: Universalidade. E uma palavra esquisita: equidade também tava nesta lista das palavras bonitas.

Severino foi atendido pela enfermagem e psicologia. No meio do dia, estava ali entre a sala de espera e da vacina. Faltava a Medicina.

– Bom dia! O que o senhor sente?

– É umas canseira e umas dor no coração, dotô! Acho que to doente!

– Chegue cá um momento e se assente. Vamos examinar então.

E começou o procedimento. Uma pegada aqui, uma fisgada lá. Uma escuta no coração. E Severino até um juramento fez: – “Se as canseira e a dor passar, a vida ah de mudar!”. E a cada toque, Severino mais temeroso. Parecia um menino atordoado e choroso. Não se acalmava o homi! E o dotô, enfim, chegou ao veredito:

– É Severino, a um lugar vou te mandar em que você rápido vai melhorar.

– Ô dotô, é pelo SUS?

– É sim, a Urgência e Emergência!! Deixe de sofrência!

E o homem começou sua luta. Da atenção básica foi mandado à UPA. Um aglomerado de gente, um calor danado, e Severino já descontente. Pense, na danação!

– Mais que atendimento demorado. Acho que vou ficar aqui plantado e morrer do coração!

A essa hora, o homem já avexado. Já não tava se sentindo forte. Ficava a pensar na morte porque dali não saia vivo. Calma Severino! Tudo isso por uma dor nos ventrículo?

Chegou sua vez. E ele não tava bem. O dotô examinou, enfim. E Severino:

– Meu Deus, o que será de mim?

Pra seu sossego, tudo terminou amenizado, normal. Porém, para a Saúde Mental um encaminhamento foi dado.

– Agora foi que deu! Logo eu! Pobi, nego, sem estudo! Agora doido! E vão atender um maluco?

Eita preconceito, Severino! Calma, descanse essa alma aflita. Talvez você não saiba, mas desde a Atenção Básica, nenhuma exclusão é permitida, seja por raça, crença, ou limitação física. Pisa pra o CAPS, homi, mas cuidado, não seja um Zé: CAPS não é Centro de Atenção dos Pé!

Até chegar ao CAPS, Severino passou pela Uncisal, pelo PAM Salgadinho, pela UPA, Centros Comunitário. Ufa! Mas um bocadinho, chegava ali no HU Universitário.

No CAPS, o homi chega. Só deseja ir pra casa descansar. Passar por cada lugar lhe deixou cansado, abatido e sem saber o que houvera sentido. O dotô educado, lhe chamou para a consulta. E Severino contou como chegou ao consultório. Falou da vida. Ficou notório na maneira descrevida que a canseira do homi não era coração. Era uma coisa estranha chamada emoção.

O dotô disse a Severino que seu tratamento não é em consultório, mas no território. É cuidar dos sentimento, estar vivo. Solicitou uma atividade física, uma comida da boa, uma meditação. E pediu pra não ter pressa, correria ou agitação.

A canseira, na verdade, Severino, é um sinal de atenção: não se avexe com o que o destino lhe reserva. É felicidade na certa! Mar menino, um cabra macho desse sofrendo por antecipação!

 

Equipe de Residentes

Filipe Albuquerque – Dentista Residente

Franklin de Oliveira – Psicólogo Residente

Júlia Onório – Terapeuta Ocupacional Residente

Mariana da Silva – Nutricionista Residente