Aspectos relevantes para a efetivação da Valorização do Trabalho e do Trabalhador-PNH

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Já parou para pensar no que lhe faz permanecer no seu local de trabalho? Uma reflexão que faço para pensarmos em quantos aspectos influenciam no nosso querer estar no nosso local de trabalho. Só a parte financeira, proximidade de casa ou estabilidade, por exemplo, não são suficientes para a gente estar bem e querer permanecer ali. São inúmeras questões que variam de pessoa para pessoa. Isso se aplica a qualquer segmento de trabalho, mas e quando se trata especificamente do trabalho em saúde, lidando diretamente com vidas, como cuidar do outro se não estivermos bem? Nesse sentido, temos como aliada a Política de Nacional de Humanização do SUS que em sua estrutura aborda a efetivação da valorização do trabalho e do trabalhador.

Trabalho no único Caps infantojuvenil da minha cidade e até mesmo do estado. Sabemos que não é todo profissional que tem aptidão, capacitação e está disposto a trabalhar com saúde mental, a lidar diariamente com histórias de vida muito sofridas e com pessoas (no meu caso crianças e adolescentes) com transtornos mentais graves, onde se trabalha também a família que muitas vezes também possui algum tipo de transtorno. Precisamos valorizar e cuidar de quem está no nosso serviço. Para cuidar do outro, é preciso estar bem, ser cuidado. E saúde mental é questão crucial na vida de qualquer pessoa. Vivenciamos uma realidade de adoecimento profissional, em que é crescente o estresse e a angústia dos profissionais por ver a demanda aumentando e não conseguir dar conta de resolver os problemas de todos que procuram.

Para o cuidado e valorização do trabalho e do trabalhador, tendo como base a estrutura da PNH, entendo ser necessário investir não somente numa ambiência adequada e segura para a realização do trabalho, o que envolve não só os trabalhadores como os usuários também, que precisam ser bem recebidos não só na forma do acolhimento mas em um local confortável, como também na educação permanente e qualidade de vida do trabalhador.

Faz diferença uma gestão justa e coerente, que saiba liderar (e não chefiar), inspirar, cobrar resultados de forma responsável e ao mesmo tempo ser empática, que saiba ouvir os profissionais e entender suas particularidades para melhor conduzir o trabalho. Vejo também como formas de valorização o envolvimento no propósito da instituição (qual a nossa missão enquanto instituição, qual o sentido do nosso trabalho, que diferença na vida das pessoas nós iremos proporcionar), nas metas e indicadores (participação dos trabalhadores em todo o processo de entendimento e construção, não apenas na cobrança por resultados), dar autonomia, estimular e valorizar as iniciativas, promover o reconhecimento do esforço e do trabalho realizado, criar espaços de discussão e dar voz dos trabalhadores proporcionando construções coletivas da organização do trabalho promovendo a cogestão e responsabilização de todos (reuniões de equipe, por exemplo).

Em relação à educação permanente, é imprescindível o investimento no desenvolvimento pessoal e profissional dos trabalhadores (não apenas promover capacitações internas, mas disponibilizar participações em cursos, congressos, seminários externos, visitas técnicas a serviços de outras cidades, além de permitir que os profissionais se especializem, façam mestrado e doutorado sem prejuízo na sua carga horária e salário, visto que é um aperfeiçoamento importante para o desenvolvimento de suas atividades profissionais). Realizar ações que formem multiplicadores dos saberes, estimular e reconhecer as iniciativas de crescimento e autodesenvolvimento dos profissionais. É válido destacar que não é preciso apenas esperar da instituição, mas também o trabalhador ir atrás de aperfeiçoamento profissional e gerir da melhor forma sua carreira.

O trabalhador necessita também de momentos de bem-estar, cuidado e lazer, o que resulta no aumento da motivação, na melhoria as relações interpessoais e num clima organizacional favorável. É preciso identificar as necessidades e verificar o que mais se adequa à equipe e ao serviço. Do contrário, corre-se o risco de não ter adesão e a ação não atingir o resultado esperado. Atividades físicas, rodas de conversa, dinâmicas que promovam aproximação e integração da equipe, disponibilidade para o trabalhador frequentar psicoterapias (ou alguma outra forma de válvula de escape), realizar atividades externas e proporcionar atividades com a família são alguns exemplos. Cada instituição tem sua realidade e verá o que mais se adequa. Mas isso é fato: é um investimento seguro, certo, que faz bem a todos. Um trabalhador estando bem reflete diretamente na melhoria do trabalho desenvolvido e consequentemente no serviço prestado à população. Todos ganham!

Por Adriana Madeiro, agente de gestão do CAPSi Dr. Luiz da Rocha Cerqueira (Maceió-AL) e aluna do Curso de Apoiadores da Política Nacional de Humanização do SUS promovido pela Secretaria de Saúde do Estado de Alagoas, turma 2019.2.