Masculinidades e saúde, precisamos falar sobre

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Olá a todas e todos,

Sou acadêmica de psicologia da Faculdade Integrada de Santa Maria -RS (FISMA),

Gostaria de promover uma reflexão sobre a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem (PNAISH), abordando a temática por uma perspectiva de gênero, em especial sobre as masculinidades e suas implicações com os processos de adoecimento  do homem.

Por que uma política de saúde para homens? Por que o machismo também mata os homens.

Após assistir o documentário “The mask You live in”, tenho pensado muito sobre a construção das masculinidades em nossa sociedade e sobre o quanto o machismo oprime não apenas mulheres, mas também os homens. Pois desde meninos são educados para serem fortes, competitivos, corajosos, destemidos, agressivos, violentos, provedores, suportar tudo sem demonstrar fraqueza, sem chorar. Assim, os homens precisam reafirmar constantemente sua masculinidade, sua virilidade, comportamento que muitas revezes os coloca em situações de risco à própria saúde.

Pesquisas demonstram que homens têm uma expectativa de vida menor do que as mulheres, morrem mais por causas violentas. O atlas da violência 2019 demonstra que mais de 90% das vítimas de homicídio são homens. As principais causas de morte em homens de 15 a 49 anos no Brasil são violência interpessoal em primeiro lugar, seguida por acidentes de trânsito. Autolesão, HIV/AIDS, cirrose e transtorno relacionados ao álcool estão entre as 10 primeiras causas de morte dos homens. Uma pesquisa realizada em 2019 pelo Grupo Papo de Homens em parceria com a ONU Mulheres verificou que 6 entre 10 homens afirmam lidar com distúrbios emocionais em algum nível, tais como ansiedade, depressão, vício em pornografia, insônia. Vícios como álcool e demais drogas, apostas e jogos eletrônicos também foram muito presentes na amostragem. No entanto ao participantes afirmam que evitam buscar ajuda. Apenas 01 em cada 10 homens já foi ao psicólogo.

Por isso, precisamos nos questionar e refletir sobre como esse tipo de educação e cultura contribui para formar homens violentos, que se envolvem com álcool e drogas, brigas e acidentes de trânsito. Como esses tipo de masculinidade influencia na relação do autocuidado masculino, acarreta em descaso com a própria saúde, como isso reflete nos modos de adoecer e morrer dos homens.

É recente a preocupação com a saúde dos homens, entendo-os para além de “contaminadores” e “violadores”,  e trazendo-os para a cena como sujeitos  e objetos do cuidado a partir de suas vulnerabilidades  como homens diversos. Os homens, geralmente  não possuem o hábito de procurar os serviços de saúde para realizar  atividades de prevenção e de autocuidado. (COELHO, et al, 2018, p.9)

Nesse sentido, a PNAISH visa criar condições que ofereçam o pleno acesso da população masculina aos serviços de saúde, de modo a garantir a atenção integral à saúde ao respeitar e incluir as questões de gênero nos processos e serviços de saúde. Considerando que as barreiras socioculturais são um dos principais fatores de não adesão dos homens aos serviços de saúde, culturalmente o cuidado ainda é entendido como algo feminino, através da PNAISH são promovidas campanhas de conscientização sobre cuidado e saúde como espaços também para os homens. Entre elas a campanha Novembro Azul, Agosto mês da paternidade ativa. Também são oferecidos cursos de capacitação sobre essa temática.

Com essa exposição espero ter promovido uma reflexão aos profissionais e futuros profissionais da saúde, em especial psicólogos, para que possamos pensar sobre as questões de gênero, os modos de produção cultural das masculinidades e feminilidades, bem como suas implicações nos subjetividades e nos processos de saúde e adoecimento dos sujeitos. Dessa forma, a compreensão sobre a construção social das masculinidades hegemônicas são fundamentais para compreender a dificuldade dos homens em procurar ajuda.

Para compreender um pouco mais sobre as especificidades de ser homem na contemporaneidade convido a todas e todos a assistir os documentários:

The Mask you live in;

O silêncio dos homens;

Precisamos falar com os homens;

 

REFERÊNCIAS

ALVES, Railda Fernandes et al . Gênero e saúde: o cuidar do homem em debate. Psicol. teor. prat.,  São Paulo , v. 13, n. 3, p. 152-166, dez. 2011 . Disponível em <https://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-36872011000300012&lng=pt&nrm=iso>. acessos em  21 set. 2019.

ANJOS, Ismael dos. Os números do Silêncio: Veja e baixe os resultados da 1ª parte da pesquisa apresentada no documentário. Papo de Homem. Disponível em: https://papodehomem.com.br/report-da-pesquisa-parte-1-os-numeros-de-o-silencio-dos-homens acesso em set. 2019.

COELHO, Elza Berger Salema; et al. Política nacional de atenção integral  à saúde do homem [recurso eletrônico] — Florianópolis : Universidade Federal  de Santa Catarina, 2018. Disponível em: https://www.saude.gov.br/saude-de-a-z/saude-do-homem acesso em set. 2019.

Departamento de informações e análises epidemiológica. Secretaria de Vigilância em saúde. Principais causas de morte. Disponível em:https://svs.aids.gov.br/dantps/centrais-de-conteudos/paineis-de-monitoramento/mortalidade/gbd-brasil/principais-causas/ acesso em set. 2019

Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. Atlas da violência 2019. Disponível em: https://www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=34784&Itemid=432 acesso em set. 2019.

Ministério  da Saúde. Política Nacional de  Atenção Integral à Saúde do Homem. Plano de. Ministério da Saúde. Gabinete do Ministro. Portaria n. 1.944, de 27 de agosto  de 2009. Institui no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem. Disponível em https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2009/prt1944_27_08_2009.html