“O bebê obrigou a psicanálise a ir para a Pólis”- Wagner Ranna

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Mesa 1 do evento RISCO PSÍQUICO E DETECÇÃO PRECOCE DO AUTISMO: UMA QUESTÃO CONTROVERSA EM PSICANÁLISE

 

A RHS atualiza a sua vocação de ágora aberta às questões candentes no campo da saúde ao dar novamente visibilidade a alguns dos registros das proposições em torno da Lei 13.438/17. A recente promulgação provocou uma saudável polêmica sobre o que vem a ser o risco psíquico e a sua detecção precoce no campo da infância.

A referida lei  inclui “um parágrafo ao Artigo 14 do Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8069, de 1990), tornando obrigatória a aplicação a todas as crianças, nos seus primeiros dezoito meses de vida, de protocolo ou outro instrumento construído com a finalidade de facilitar a detecção, em consulta pediátrica de acompanhamento da criança, de risco para o seu desenvolvimento psíquico” ( conforme citação em excelente documento elaborado por Luciano Elia, professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro e anexado a este post ).

 

Embora todos concordem com a necessidade de promover os cuidados com universalidade e integralidade às crianças, a lei provocou efeitos que chegaram a tomar uma proporção de contenda entre os atores em jogo no campo social pois envolve toda uma discussão sobre os modos de vida no contemporâneo. O biopoder e a biopolítica comparecem com toda a sua insidiosa maquinaria de produção subjetiva, conforme a interessante contribuição de Luís Achiles Furtado, professor adjunto da Universidade Federal do Ceará ( ver a mesa 2 do vídeo do evento promovido pela PUC – SP – Risco Psíquico e detecção precoce do autismo: uma questão controversa em psicanálise )

Wagner Ranna, professor do curso de Psicossomática Psicanalítica do Instituto Sedes Sapientiae e Mestre pela Faculdade de Medicina da USP, e principalmente um parceiro de primeira hora dos projetos de inclusão de crianças com graves comprometimentos psíquicos na escola, também esteve presente na referida discussão promovida pela PUC no dia 25 de agosto de 2017 ( ver a mesa 1 ).
Ranna faz um panorama dos caminhos trilhados pela psicanálise a partir da observação de bebês. Lembra da bela formulação de Giorgio Agamben, ao dizer que o bebê obrigou a psicanálise a ir para a Pólis, na medida em que se faz uma reforma psiquiátrica também neste nível, retirando-o do confinamento dos lares e abrindo-o para os encontros na escola. A psicanálise também sai dos consultórios e vai para a atenção básica, vai compor o matriciamento nos cuidados à saúde como mais uma parceria para pensar e acolher o sofrimento dos pequenos. Preocupa-se com a intrusão da psicopatologia da vida adulta na vida das crianças e seus protocolos de detecção baseados nas estatísticas e nos manuais de saúde mental tipo DSMs. O bebê em risco hoje seria justamente aquele excessivamente medicalizado, alvo de todo tipo de procedimentos do vasto cardápio biopolítico oferecido em todos os âmbitos da vida. A falsa epidemia de autismo parece ser efeito da inclusão precoce e indiscriminada de muitas crianças em categorias como o expectro do autismo.
Destacaremos aqui, dentre a grande produção de material para se pensar a lei e seus efeitos, os dois vídeos do evento da PUC por considerar que abrangem quase que a totalidade das argumentações e proposições que estão circulando. Serão muitíssimo bem vindas outras possibilidades que venham a se somar na compreensão e problematização do assunto em questão.

 

Durante o fecho realizado no segundo vídeo, há uma lembrança resgatada por Raul Albino Pacheco Filho, professor titular da Faculdade de Ciências Humanas e da Saúde da PUC-SP e coordenador da mesa, sobre de onde vem o uso do termo risco. Vem dos cálculos atuariais, dos seguradores e atuários. “O atuário é o profissional que calcula o impacto financeiro do risco e da incerteza”, calcula os custos e riscos de eventos futuros de morte, doenças, invalidez, perda de propriedade. Calcula-se então os “prêmios e as reservas”. Lembra que o sistema judiciário da Inglaterra deu ganho de causa para as seguradoras que queriam incluir o cálculo de riscos a partir da avaliação genética no cálculo de prêmios. E termina desejando que não se coloque o autismo nestes cálculos e que sejamos um pólo de resistência a isso caso venha a ocorrer.

Mesa 2

RISCO PSÍQUICO E DETECÇÃO PRECOCE DO AUTISMO:

UMA QUESTÃO CONTROVERSA EM PSICANÁLISE

Data: 25 de agosto de 2017 na PUC-SP

Organização e Promoção:

Núcleo de Pesquisa Psicanálise e Sociedade (Pós-Graduação em Psicologia Social da PUC-SP)

Núcleo Psicanálise: Práticas Clínicas e Saúde (Curso de Graduação em Psicologia da PUC-SP)

Rede de Pesquisa Psicanálise e Saúde Pública (Fórum do Campo Lacaniano-SP)

Rede de Pesquisa Psicanálise e Infância (Fórum do Campo Lacaniano-SP)

 

PROGRAMAÇÃO:

MESA 1:

TEREZA ENDO

Professora da Faculdade de Ciências Humanas e da Saúde da PUC-SP e do curso de Teoria Psicanalítica da COGEAE – PUCSP. Doutora em Psicologia pela PUC-SP. Assistente Técnica da Área de Saúde Mental, Álcool e ****** da Secretaria Municipal de Saúde SP. Professora do curso de Psicossociologia da Juventude da FESPSP. Psicanalista e Psicóloga. Autora de “Sofrimento Psíquico à Margem do SUS: Vastidão e Confinamento na Clínica” (Zagodoni);

WAGNER RANÑA

Professor do Curso de Psicossomática Psicanalítica do Instituto Sedes Sapientiae. Mestre pela Faculdade de Medicina da USP. Psicanalista do Departamento de Psicanálise com Crianças do Instituto Sedes Sapientiae. Médico Pediatra e Psiquiatra. Coordenou o Projeto Hospital Aberto e o Projeto de Saúde Mental em Inclusão de Crianças com Psicopatologias Graves. Co-organizador e autor da série “Psicossoma” (Casa do Psicólogo);

BEATRIZ OLIVEIRA

Mestre em Psicologia pela PUC-SP. Psicanalista AME da Escola de Psicanálise dos Fóruns do Campo Lacaniano, onde coordena a Rede de Pesquisa Psicanálise e Infância do Fórum São Paulo. Psicóloga. Organizadora do livro “Criança: Objeto ou Sujeito” (Escuta);

ANA LAURA PRATES PACHECO (Coord.)

Doutora em Psicologia pela USP. Pós-Doutora em Psicanálise pela UERJ. Psicanalista AME da Escola de Psicanálise dos Fóruns do Campo Lacaniano, onde coordena a Rede de Pesquisa Psicanálise e Infância do Fórum São Paulo. Pesquisadora colaboradora do LABEUB/UNICAMP. Psicóloga. Autora do livro “Da Fantasia de Infância ao Infantil na Fantasia – a Direção do Tratamento na Psicanálise Com Criança” (Annablume) e Organizadora do livro “Criança: Objeto ou Sujeito” (Escuta).

 

MESA 2:

JULIETA JERUSALINSKY

Professora do curso de Teoria Psicanalítica da COGEAE – PUC-SP e dos cursos de especialização em Estimulação Precoce e em Problemas do Desenvolvimento Infantil no Centro Lydia Coriat. Doutora em Psicologia pela PUC-SP. Especialização em clínica com bebês pela FEPI (Argentina). Psicanalista e Psicóloga. Autora de “A criação da criança: brincar, gozo e fala entre a mãe e o bebê” (Ágalma) e “Enquanto o futuro não vem: a Psicanálise na clínica interdisciplinar com bebês” (Ágalma);

LUIS ACHILLES RODRIGUES FURTADO

Professor Adjunto III da Universidade Federal do Ceará (curso de Psicologia e Mestrado em Saúde da Família). Doutor pela UFC. Pós-doutorando em Psicanálise na UERJ. Psicanalista da Escola de Psicanálise dos Fóruns do Campo Lacaniano (Fórum de Fortaleza). Psicólogo. Autor do livro “Sua Majestade o Autista: fascínio, intolerância e exclusão no mundo contemporâneo” (CRV) e organizador do livro “O autismo, o sujeito e a psicanálise: consonâncias” (CRV);

RAUL ALBINO PACHECO FILHO

Professor Titular da Faculdade de Ciências Humanas e da Saúde da PUC-SP. Doutor em Psicologia pela USP. Coordenador do Núcleo de Pesquisa Psicanálise e Sociedade da Pós-Graduação da PUC-SP. Psicanalista AME da Escola de Psicanálise dos Fóruns do Campo Lacaniano, onde coordena a Rede de Pesquisa Psicanálise e Saúde Pública do Fórum São Paulo. Psicólogo. Organizador do livro ” Ciência, pesquisa, representação e realidade em Psicanálise” (EDUC/Casa do Psicólogo).

https://br.eventbu.com/sao-paulo/debate-pucsp-risco-psiquico-e-deteccao-precoce-do-autismo/5323141

 

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