Os grupos na atenção básica à saúde

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Apesar de existirem portarias que estabeleçam critérios legais e válidos para a terapia grupal na assistência básica, sabemos que existe resistência nessa prática, por falta de estrutura física e até mesmo por falta de preparo de alguns profissionais sendo que estes na sua formação não tiveram oportunidade de vivenciar tal experiência. Mesmo assim, os profissionais conhecedores da prática também têm dificuldades de sair do foco terapeuta-cliente e mergulhar em algo mais amplo como os mais variados grupos.

Poucos se arriscam em grupos, mas quando o fazem, o trabalho é realizado em forma de palestras, voltados a grandes plateias e acreditam que assim terão sucesso. Os autores citam cinco razões sobre a importância dos grupos. Em um grupo a aproximação clientes terapeuta é maior, a linguagem se torna mais coloquial e assim mais compreensível para o grupo, até mesmo porque a ajuda mutua entra os participantes na maneira de compreender sua linguagem e expressão.

O grupo também pode trazer bons resultados na clinica e no manejo com o cliente proporcionando assim maior probabilidade da continuidade dos encontros, é claro que outro fator que contribui para a prática em grupo é o fato de que a demanda é intensa na assistência básica, o grupo propicia maior amplitude em atendimentos, mas, é claro que antes de formar determinado grupo se avalia a possibilidade de participação de cada usuário de acordo com sua demanda e especificidade.

Nos grupos a expressão não é só verbal é afetuosa e emocional, pois os participantes se identificam com as experiências relatadas pelos outros, isso encoraja a abertura no falar, no trocar experiências, o sentimento de grupalidade que acontece é o sentimento de que a pessoa se identifica como pertencente àquele lugar, àquela massa, isso é, ao grupo.

Assim, também facilita a compreensão e interpretação do terapeuta, pois em um grupo que há vinculo, há afetos, emoção contribui para as ressignificações dos pacientes e sua relação com o mundo, pois este paciente se enxerga no próximo, conseguindo exteriorizar sua dor e assim, obtendo ajuda do terapeuta para ressignificá-la.

Alguns profissionais receiam que o grupo traga uma exposição desnecessária do sujeito, frente a desconhecidos, ou que o paciente nunca dirá a verdade num grupo porque não quer se expor frente aos demais. Para essa reflexão, faz-se necessária a distinção dos tipos de grupo: aberto, fechado ou, ainda, semiaberto e distinção entre grupo e agrupamento ou série.

Exemplo de grupo fechado: grupos terapêuticos em saúde mental e de planejamento familiar para laqueadura/ vasectomia, pois iniciam com pessoas definidas. Para pessoas novas há que se ter novo contrato, e é preciso o seguimento para concluir o tratamento/ orientação.

Exemplos que damos de grupos abertos: dislipidemia, hipertensão, diabetes, terapia comunitária. Num grupo aberto, o número de pessoas poderá ser um pouco maior que nos demais grupos, pois os critérios de seleção são menos exigentes e a regularidade de reuniões não é tão rígida (FOULKES, 1948).

O foco dos grupos pode ser variado, dependendo da condução, do tema, da patologia abordada e do risco à saúde que apresentam os participantes. Podem ser: esclarecedores, de aprendizado, informativos, terapêuticos, de ajuda mútua, geradores de renda, motivacionais, de aprendizado dos conhecimentos culturais locais, analíticos, de autoajuda, de treinamento, desde que propiciem o aumento do grau de autonomia de suas ações e do autocuidado para melhora da qualidade de vida.

Pode haver um revezamento dos profissionais participantes ou convite a pessoas externas ao grupo, definir um profissional de referência fixo para a condução, organização do grupo, formação de vínculo e seguimento é bem importante. Em alguns grupos, é possível que o profissional de referência inicie, e o outro chegue num momento pontual para conduzir outra atividade.

Os trabalhos em grupo estão ganhando espaço cada vez mais, e não somente na assistência básica, mas também na assistência particular, e apesar da resistência de alguns profissionais o campo de atuação em grupos vem crescendo.

Acreditamos que nos trabalhos em grupos a avaliação do terapeuta pode ser mais rápida e eficiente, pois há oportunidade de conseguir observar o cliente em seu manifesto de subjetividade desnudo de medos, descrevendo suas experiências com enfoque intenso na realidade experenciada, dessa forma proporciona ao terapeuta uma amplitude de observação e consequentemente o cliente recebe um auxilio mais adequado e eficaz para ressignificar experiências anteriormente dolorosas.

O que também auxilia em muito a terapia em grupo é o fato de que o participante tem a oportunidade de manifestar emoções e afetos, sendo que esses sentimentos em uma sessão individual seria mais difícil de manifestar e observar, dessa forma se criam elos entre terapeutas e participantes o que proporcionará o seguimento de um tratamento com probabilidades de interrupções diminuídas.

É importante destacar que para o sucesso do funcionamento e eficácia de um grupo, é preciso que sejam considerados os seguintes pontos: Por que reunir um grupo, em torno de qual temática e qual a metodologia será utilizada. A linguagem deve ser clara de fácil compreensão para o grupo em questão, o ambiente deve ser acolhedor. Estes detalhes podem ser facilitadores da dinâmica do grupo e do bom funcionamento e por consequência a obtenção de um melhor resultado.

Consideramos de suma importância a terapia em grupo, sendo que esta proporciona crescimento profissional para o terapeuta, considerando também que será em breve um novo e vasto campo de atuação ao profissional da psicologia. Além de proporcionar a criação de uma rede social entre os integrantes de um grupo, socializando e dividindo experiências, propiciando apoio e auxílio não apenas do profissional para o cliente como entre membros do grupo. A criação destes vínculos também auxilia para a continuidade e sucesso da operação de grupo.