Pandemia: distanciamento social ou distanciamento do desejo?

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Diante da falta de sentido, ameaças e perdas que estamos vivendo, ninguém melhor do que os poetas e loucos para diminuirem um pouco nosso angústia.

Com Freud ficamos sabendo que as principais fontes de nosso sofrimento vêm da natureza, do nosso interior e das relações humanas. E a pandemia traz esse sofrimento pelos 3 caminhos. Todas as formas de sofrimento assim o são porque nos evidencia o quanto não somos completos e com total saber. Além de criaturas sozinhas e desamparadas.

Fernando Pessoa, no Livro do Desassossego, já trazia a pergunta: “Onde está Deus, mesmo que não exista?”

Na tentativa de alívio, duas reações possíveis acontecem: a do personagem de Fernando Pessoa no livro citado acima e a reação dos psicóticos em crise diante da falta de sentido e ausência de palavras.

Diante do inefável e vazio, podemos seguir o caminho do heterônimo de Fernando Pessoa, abrindo mão das paixões, desejos e ambições ou buscando o caminho da vida, do desejo, através de um enlaçamento e inclusão do próprio sujeito, saída da crise psicótica.

Abrir mão do desejo é uma tentativa de obturar nossa falta essencial às custas de uma mortificação. Contraditoriamente, ao se tentar se “distanciar” do desejo, mais abrimos mão do distanciamento social preconizado para a prevenção da contaminação pelo COVID.

Do outro lado, temos as pessoas que ao se distanciarem socialmente, estariam na realidade se aproximando do próprio desejo, tentando se aliviar, mas sabendo que se dar conta da falta é poder colocar-se em movimento pela vida. Distanciar-se socialmente neste momento é levar o outro em conta, incluindo-o como sujeito e a si próprio.

Diante das ofertas de soluções para nosso desamparo, não podemos deixar de nos perguntar se nossas ações estão a serviço da vida ou da morte. Da vida ou do capital. Nisso incluímos as políticas, ciência e religiões.