Reflexões acerca da Redução de Danos e Guerra às Drogas

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No artigo “Reduzindo Danos e Ampliando a Clínica: Desafios para garantia do acesso universal”, os autores problematizam o alcance do SUS frente à população usuária de álcool e outras drogas. O texto aborda a perspectiva de redução de danos e os contrapontos do tema, ressaltando ainda os malefícios da criminalização das drogas, bem como a cultura e a moralidade que a cercam.

O artigo salienta como a redução de danos ganhou força com o surgimento de novas estratégias de uso. Na Holanda, uma associação de usuários de drogas, a partir do risco de contaminação viral, tiveram a iniciativa de substituir as seringas como forma de proteção. Esse pensamento, claramente, vem em prol de um benefício da saúde e qualidade de vida da população que utiliza drogas. Com o tempo, a redução de danos deixa de ser um conjunto de estratégias e passa a ganhar força, tornando-se um conceito mais abrangente, que engloba tais estratégias.

Um fator importante para o surgimento e crescimento do conceito de redução de danos foi justamente a contraposição à cultura de abstinência, e “não às drogas”, predominante. Com isso, fica mais claro entender porquê a polarização e o julgamento das práticas de redução de danos ainda é um problema para a aplicação e aceitação da mesma, pois ao se contrapor a tal cultura hegemônica, essa nova perspectiva é vista como um incentivo ao uso de drogas.

Permeando o assunto, podemos falar também sobre os estudos relacionados ao vício, onde as conclusões mais recentes apontam que o fator principal para o abuso de substâncias químicas está justamente no contexto social. Johan Hari, em seu livro “Em busca do grito: Os primeiros e últimos dias da guerra contras as drogas”, relata essa perspectiva embasando-se em alguns exemplos, como experimentos com ratos, relatos da guerra do Vietnã, e até mesmo com o simples fato de alguém quebrar uma perna, ir para o hospital, e receber morfina, sem se tornar um viciado por conta disso.

Apenas na quebra da cultura de abstinência, já se pode imaginar um ganho para o bem-estar biopsicossocial do indivíduo em questão, e junto à isso, com a implementação da redução de danos – em conjunto com cuidados interdisciplinares e multifocais –, supre-se de forma mais evidente as demandas do tripé da saúde. Para o SUS, esses fatores se tornam primordiais para o acolhimento e inclusão dos indivíduos.

O assunto aqui abordado faz parte de uma demanda social, que está diretamente ligada à morte e sofrimento da população. Portanto, salientamos a importância do incentivo a essa discussão, pois é a partir dela que a solução mais razoável irá emergir. Com a leitura e estudo de artigos como esse (citado no início do texto), podemos colaborar mais com a construção de práticas mais humanizadas no cuidado.

Autores: Karla Motta e Vitor Nascimento.

 

Artigo referenciado: Reduzindo Danos e Ampliando a Clínica: Desafios para garantia do acesso universal. Cadernos HumanizaSUS, volume 5 – Saúde Mental. Página 216.

Vídeo adaptado do livro de Johan Hari: https://www.youtube.com/watch?v=ao8L-0nSYzg