Série Andarilha da Utopia: Uma arte-educadora sanitarista ocupando a Saúde Coletiva e o SUS

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Arte: Cacau Fúria (enfermeira doutora em saúde coletiva, integrante do Coletivo de Estudos e Apoio Paideia da UNICAMP), desenho realizado com o afetar-se de sua presença na minha defesa de mestrado.

 

ANDARILHA DA UTOPIA.

Autor:   Gerardo Carvalho (Pardal do Piauí)

Ouço sempre uma pergunta
Que em muitos não quer calar
Como u’a arte-educadora
Na saúde foi parar.
“O espaço de inquietação
O início da reinvenção
Sempre é preciso ocupar”.
A inquietação vem de longe
De muitos aprendizados,
De desafios e angústias,
Revoltas compartilhados.
Sorrisos, encontros, abraços
Tentando assim os espaços
De meu ser serem ocupados.
Filha de piauiense
Sou da Terra Alencarina
Meu pai, cabra potiguar:
São verve nordestina.
Foi na arte e educação
Que encontrei a vocação
Uma utopia de menina.
Quando foi em 2013
Eu me via na enfermaria
Infantil do HGF
Era ali que eu intervia
Nos mais alegres espaços
De meus amigos palhaços
Pra minha Monografia
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Buscando então um teatro
Que fosse humanizador
Experimentei com palhaços
Mil atos de muito amor
Certa de que o meu lugar
Não era em palco a brilhar
Mas por trás no bastidor.
Na incansável caminhada
Vem a especialização
Em serviço de Saúde
(Gestão da Humanização).
Isso se deu lá USP
Na Escola de Educação.
Com os professores, colegas
Percebi a dimensão
Que na saúde ocupava
A sua humanização.
No conceito e na política
E talvez de forma crítica
Da teoria tive noção.
Em meio tantas leituras
Política Nacional
De Humanização levou-me
À UNICAMP afinal.
No esforço de compreender
O novo passei a ter
Nesta casa um bom canal.
Encontrei num Seminário
Com a participação
Numa videoconferência
Nosso professor Gastão.
E de forma proativa
Da Saúde Coletiva
Eu tive aproximação.
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E estava determinada
Em persistir e viver
Tudo aquilo que a Política
De Humanização prover
Para o SUS que é um Sistema
Que em meio a tanto problema
Mas é o melhor de se ter.
E neste ciclo da vida
É pra frente que se anda.
Em 2016
Me tornei uma Mestranda
Em Saúde Coletiva
Em Gestão e decisiva
Fui também Especializanda.
E assim com este Curso
Pude então acompanhar
Lá no Centro de Saúde
Que passou a se transformar
Em campo desta pesquisa
Cuja dinâmica visa
Processos a trabalhar.
Foi na Saúde Primária
Esta minha experiência
Que permitiu alcançar
Com uma certa consistência
A visão de uma futura
Sanitarista madura
Que Deus me dê sapiência!
As visitas às famílias
Se misturavam em meu ser
Desesperança e tristeza
Com o desmonte a ocorrer.
Em nosso SUS atualmente
Quando há deveramente
Tudo para acontecer.
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“Para onde há SUS dá certo”
Fui percebendo a mudança
Basta montar uma estratégia
E se renova a esperança
E com Humanização
O “SUS que dá certo” avança.
Como crítica o blogueiro,
Nelson Rodrigues dos Santos
Nosso “SUS não vai dar certo”
Enquanto existir os “entretantos”
Da Reforma Sanitária
Que não tirou da diária
Todos os seus desencantos.
Pois o que reza a Reforma,
Reforça, então, o blogueiro
No SUS ainda não existe
Um serviço verdadeiro.
Se “Onde há SUS dá certo”
É porque por longe ou perto
Não há governo certeiro.
O importante disso tudo
É que Nelson faz pensar
Num ideário apaixonado
Que um dia foi desaguar
Na criação deste SUS
Que vamos fazê-lo jus
A este Brasil além-mar.
Pretendo com esta pesquisa
Buscar a politização
E de um possível debate
Pra uma tomada de ação.
Transformá-lo em resistência
Tomada de consciência
Pra uma reconstrução.

            Fim – fev/2018

 

Caros colegas guerreiros do SUS,

Venho por meio da arte de minhas terras Cearenses, Fortaleza cidade da Luz, apresentar para vocês um pouco da minha história, para o início de uma série de posts mensais que começarei a partir de hoje aqui nessa rede de potentes encontros virtuais. Conclui em 2018, meu Mestrado Profissional em Saúde Coletiva na UNICAMP. Com o título “A humanização como política pública no Sistema Único de Saúde: Contribuições para atenção e gestão na atenção básica”, trago em cada capítulo o  desafio de compreender a humanização enquanto política pública no SUS . Aprendi nesses dois anos de estudos com um sanitarista inspirador, o médico e importante ator do Movimento Sanitário Brasileiro de vanguarda David Capistrano, que é importante a “urgência para que se evite a separação entre a consciência de uma prática política e a prática científica, e se construa mais fazejamento e menos planejamento”, logo tendo a consciência do pesquisador como um sujeito ético-político, rompi as barreiras da universidade e fui entender a relação dialética da PNH com o SUS Campinas, vivendo o dia-a-dia de um centro de saúde da atenção básica do município. Segundo David, a prática política, a prática científica e a cultural precisam estar em relação para que realmente se possa mudar a realidade, e é buscando essa relação que vou trazer para vocês um pouco do que foi essa construção de uma tentativa da pesquisa como práxis, abordando a PNH como meu caso de estudo. Espero que possamos trocar múltiplos olhares aos debates que irei propor das nuances da PNH em seus 15 anos de existência, assim como compartilhar com vocês um pouco do desafio que está sendo ser uma jovem arte-educadora sanitarista buscando romper os muros e o foço do setor saúde, como nos pediu calorosamente Arouca na 8º Conferência Nacional de Saúde. Serão posts de um desnudar-se para trazer a vocês o meu andarilhar da utopia de união das lutas contra o desmonte do SUS.

Até os próximos posts.
AbraSUS