Olá pessoal.
Essa é a primeira vez que acesso a rede e gostaria de pedir ajuda. Hoje meu pai foi hospitalizado, seu caso era urgência, pois havia o risco de falência de um órgão. Quando chegamos ao hospital ele foi encaminhado diretamente para a classificação. A enfermeira não estava na sala de ACR (Acolhimento e Classificação de Risco), quando ela chegou ele relatou fortes dores, o problema dele era visível, e ela o classificou como verde. Minha mãe insistiu que era um caso de urgência mas ela ignorou completamente e manteve a classificação, quando ele foi atendido (3 Hs depois) foi imediatamente para o centro cirúrgico.
Graças à Deus foi só um susto e agora ele está bem. Mas quero denunciar a enfermeira pois como sempre conversamos no estágio, o ACR é a porta de entrada para o hospital. A falta do acolhimento gerou muito stress e a negligência da enfermeira poderia custar a amputação de um membro do meu pai. A questão é que ele foi antendido na rede privada e, nesse caso, não sei a quem devo me reportar para realizar minha denúncia.
Obrigada.
8 Comentários
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Por Altair Massaro
Olha, infelizmente, mesmo tendo dedicado muito esforço em conjunto com várias equipes para desenvolver as estratégias de Acolhimento e Classificação de Risco, sempre me preocupou os usos que poderiam ser feitos destas ferramentas de organização da assistência. Não que eu ache que sempre deva haver uma só maneira de se fazer as coisas, mas o problema era exatamente vieses que produzissem desassistência com qualquer prejuízo ao usuário.
Bem, a Rejane tem muita razão na sua análise: é preciso, nestes casos, ver o uso que tem sido feito da ACR, antes de se culpar o profissional. Não acho que os profissionais que atendem mal são vitimas do sistema ao qual se inserem. Há de fato a pressão para se fazer uma tarefa de tal ou tal modo, dependendo, como acentua Rejane, da concepção atribuída ao processo – no seu caso do hospital sobre a enfermeira – talvez. Mas também sempre há a própria atuação da profissional, que avalia se há ou não pertinência ética.
De qualquer forma, a questão não me parece do campo pessoal, mas mais do âmbito institucional. São posturas como esta que fortalecem teses que somente o profissional médico pode fazer Classificação de Risco, produzindo graves distorções no processo de trabalho nas portas de urgência.
Muitos serviços, Marcele, têm utilizado a ACR como um discurso de modernidade e também para cumprir normatizações exigidas por protocolos específicos, como acreditação hospitalar (tanto no público como no privado), obtenção de recursos públicos por meio de contratualizações (hospital de ensino, filantrópicos etc) sem se preocupar muito com a forma como são realizados os procedimentos de avaliação e, menos ainda, como o desdobramento da análise (pacientes que têm necessidades menos graves – os azuis – são frequentemente dispensados das unidades de urgências hospitalares sem serem atendidos e sem encaminhamento seguro – consulta marcada com brevidade na UBS ou PSF, por exemplo).
Quando há prejuízo ou risco de prejuízo para o usuário, como no caso de seu pai, sempre pode haver a denúncia para instituições de classe (CRM, COREN etc) ou mesmo ações públicas (Policial). O problema é que nestes casos já houve o prejuízo, pouco se pode fazer a respeito – reparações financeiras não trazem órgãos ou vida de volta, não é mesmo? E de concreto pouco ensinam aos serviços sobre o modo de operar.
Acho que o melhor meio é sempre a possibilidade de diálogo, contando com redes de ajuda – redes como a Rede Humanizasus (grupos do seu estado ou município sempre são mais sensíveis e disponíveis para questões locais), talvez as próprias secretarias de saúde de seu estado ou município também podem mediar diálogos com serviços desta natureza (mesmo sendo privados), os sistemas de ouvidoria dos serviços, enfim, ações menos punitivas e mais de sensibilização junto a estas instituições mostrando os riscos de ações pouco responsáveis.
Marcele, de qualquer modo, podemos continuar esta conversa, junto com outros companheiros da rede, para produzir modos de ações mais potentes nas práticas de saúde.
Um abraço e boa recuperação a seu pai.
Altair
Olá pessoal,
Obrigada pelos esclarecimentos, e pela reflexão que vocês me proporcionaram. No dia do ocorrido tentei ir por esse lado, fui até o coordenador dela (minha mãe havia tentado conversar com a enfermeira) e coloquei pra ele a situação e o procedimento da enfermeira. Ele afirmou que meu pai não relatou dores e tentou me dar uma errolada. Cometei com ele que faço estágio na área e que pelo quadro dele a classificação seria laranja, a resposta que obtive foi muito frustrante, o que percebi foi o que Altair colocou, a instituição não está preocupada com o procedimento de avaliação, ela segue o padrão por ser uma determinação do governo.
O que me tirou do sério foi justamente esse descaso com a saúde e com a qualidade do serviço pois o coordenador disse que poderia conversar com a enfermeira mas estava muito claro que ele disse isso apenas para que eu me sentisse satisfeita e parasse de falar que a enfermeira deles classificou errado. Minha intenção inicial era que ele conversasse com a enfermeira sobre a falta do acolhimento e a classificação inadequada para que outras pessoas não passassem pela situação que vivenciamos. Penso que realmente a melhor porta é o SUS. Quando trabalhava no hospital essa tensão era presente e na verdade era maior e mais intensa e mesmo assim eu via os funcionários preocupados com a saúde dos usuários, procurando vaga para que se realize a transferência de algum paciente. Realmente o setor privado faz da saúde um comércio …
Ufa, acho que acabei de fazer terapia com vocês rs rs
Obrigada
Por Ricardo Teixeira
Marcele,
Eu penso que todos nós é que temos que lhe agradecer!
Aprendi demais com você, com os companheiros que entraram nessa conversa, com esses seus novos esclarecimentos e, sobretudo, com sua postura cidadã e comprometida.
Amplia nossa convicção de que só um sistema de atenção à saúde verdadeiramente público (animado de cabo a rabo por um espírito público, que trate a saúde como bem comum e não uma "mercadoria privada") é que pode dar certo!
Seu modo de relatar o problema vivido, mesmo sendo no setor privado, não foi o de uma mera "consumidora", mas de uma verdaeira cidadã, imbuida de uma preocupação que transcende o interesse particular (o caso do seu pai) e compreende que sua vivência negativa expressa problemas que são coletivos.
Acho que não se trata de te parabenizar, mas agradecer mesmo!
Sua atitude melhora a paisagem ético-política do mundo…
Abraços,
Ricardo
Coodenador da RHS
Cara Marcele,
Penso que quase tudo já foi dito pelos compas que comentaram seu post. O pai está bem? Esperamos que sim.
A tua fala sobre "sentir" este espaço como uma terapia, mas não qualquer tipo de terapia, é muito legal. Uma das facetas desta rede é acolher com afeto o outro e suas questões com os assuntos da saúde. Nesse sentido, podemos considerá-la terapêutica.
Mas uma nova acepção de cuidado terapêutico: a coletivização pelo contágio e implicação.
Seja muito benvinda!!!
Iza Sardenberg
Coletivo de Editores da RHS
Não é agradável a nehum de nós profissionais da área de saúde estar na posição de usuários do sistema. Se a todo momento estamos nos cobrando no exercício profissional (entre nós), quando nos tornamos usuários deixa de ser entre nós, pois passamos a ser usuário e o profissional passa a ser o outro. No exercício da docência procuro desenvolver em meus alunos a prática de se colocar no lugar do outro, pois é a única forma de nos encontrarmos do mesmo lado do nosso cliente. Acho que é este o espírito da humanização, desenvolver a prática profissional ao lado do nosso cliente. Também trabalho em um PA e sinto diarimente o que acontece. Acontece que a classificação de risco tem protocolos estabelecidos pela instituição e executados pelo enfermeiro. Acontece que muitas escolas de enfermagem formam profissionais sem preparo inclusive para a propedêutica que é tão importante na CR. Acontece o enfermeiro ainda não tem sua autonomia profissional respeitada. Acontece que o prestador de serviço particular está vendendo serviços e tem foco nos seus lucros. Acontece que ainda precisamos humanizar a formação profissional. Acontece que nem sempre os usuários entendem o que acontece e se manifestam. Estamos ainda engatinhando no Acolhimento com Classificação de Risco. Desejo que sua família e nenhuma outra família brasileira sofra por negligência. Um abraço
xxx
Por Rejane Guedes
Olá Marcele.
Sua chegada à RHS é bem vinda.
Felizmente seu pai está bem após a maratona do atendimento hospitalar.
Aqui em Natal/RN recorremos à Promotoria da saúde para denunciar questões nas quais os direitos dos cidadãos são desrespeitados no SUS.
No seu caso, como o fato ocorreu em um hospital privado, deve existir alguma ouvidoria para a qual sejam encaminhadas suas queixas/denuncias.
Quando o fato se refere ao exercicio profissional, a entidade de classe pode ser acionada (CRM para médicos, COREN para enfermagem etc).
Aproveito para perguntar: – A falha no fluxo de atendimento ao seu pai foi decorrente de 1 só profissional, ou a enfermeira citada também estava sendo, de algum modo, pressionada? Em outras palavras:- Será que o problema não está na concepção do que vem a ser o ACR para esse hospital como um todo?
Pensemos sobre essa possibilidade.
Saudações luminosas.
Rejane Guedes
Nutricionista-Natal/RN