Humanizar o anúncio da má-notícia

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Os caçadores que voltavam com a caça sobre os ombros vinham eufóricos, dançando em alegria contagiante: a de que traziam consigo não só os resultados de sua bravura, bem como a boa notícia de que tudo estava bem. Já os caçadores que voltavam de ombros vazio, vinham cabisbaixos, pois não eram apenas os derrotados, eram também os portadores de uma má notícia: a de que algo não ocorrera bem. Assim, desde os tempos em que caçávamos nas savanas e isto era essencial à nossa sobrevivência, uma má notícia é algo indesejável, associada, sobretudo, à derrota. No entanto, existem muitas situações nas quais é necessário que esse anúncio seja feito. Na área da saúde, mais especificamente no cuidado à saúde, essa realidade é um desafio cotidiano. Isto nos chama a atenção para a forma como o temos feito, o que nos revela que, em muitos casos, a soma entre a falta de preparação profissional para essa tarefa e a esquiva de fazê-la tem interditado aos usuários um de seus direitos basilares: o direito à informação. Como conseqüência direta dessa interdição benefícios sociais e vantagens espirituais, psíquicas e sociais ficam comprometidas. Assim precisamos garantir que o direito à informação (mesmo quando o seu conteúdo não for agradável) seja garantido e que o seja feito de forma humanizada. Lembrando-se sempre de que a informação, além de ser um direito do usuário, é um dever do profissional (quem faz o diagnóstico é o responsável pelo anúncio, mas isto não significa que ele não possa pedir ajuda). A OMS reconhece como protocolo para anúncio da má-notícia o Protocolo Buckman. Esse protocolo foi adaptado para a realidade brasileira pela médica Carolina Pereira (SP) sob o anagrama P.A.C.I.E.N.T.E que, em síntese, significa: Prepare-se para o anúncio (cheque a informação, prepare o lugar e se prepare emocionalmente para fazê-lo); Avalie o quanto o paciente já sabe e o quanto ele deseja saber a respeito; Convide-o à verdade; Informe-o na quantidade e com a qualidade que ele deseja e precisa saber; Esteja atento às emoções do paciente, respeitando-as acolhendo-as, além de dar espaço para as suas manifestações; Não o abandone nem o deixe desacompanhado; Trace uma estratégia de acompanhamento.