Faço amigos, não como quem forma um partido político, com seu estatuto e normas a serem seguidas e punições para os que não as seguem. Não faço amigos para criar uma força que me apoie e confirme quem eu sou. Não puno os que me contrariam com banimento ou linchamento moral.
Faço amigos como quem se abre para uma aventura numa terra desconhecida, agradecida por cada gesto de gentileza, cada sorriso amistoso, cada abrigo, cada porta que se abre. E se a confiança surge, fico mais um dia.
Faço amigos não como quem monta um time do qual se exige disciplina e rigor, em que todos estão juntos só para cumprir um objetivo comum e vestir a mesma camisa. E caso não haja um bom desempenho, substitui-se!
Faço amigos como quem procura peças de um quebra-cabeças, que se encaixam umas nas outras para formar uma outra imagem. Cada uma cumprindo seu papel com igual importância.
Faço amigos como quem sabe que o que vemos no outro é um reflexo de nós mesmos, que cada amigo é um espelho que mostra quem somos sendo ele uma superfície lisa. Aqueles que me deformam, não são meus amigos, mas instrumentos de reflexão.
Amigos são para completar, refletir, aconchegar… Amigos são para nos contrariar, desafiar, nos descontruir e ficando ali, juntinho, para ajudar a consertar, reconstruir, iluminar!
Amigos acontecem. Surgem guiados por afinidades e vão ficando, ainda que distantes, presentes em nossas vidas.
Amizade é bálsamo que cura muitas dores, calor que alivia a frieza do mundo, abrigo que protege do medo, colo que embala, riso que relaxa, silêncio que acalma.
Não faço amigos como quem investe num bom negócio, esperando retorno líquido e certo. Faço amigos como quem joga na loteria, meio desconfiada, meio incrédula, mas no fundo no fundo torcendo para levar o grande prêmio! E, ainda que não leve nada, valeu pela diversão!
Não faço amigos… são eles que me fazem ser quem eu sou!
Lucyana Simal
Por Emilia Alves de Sousa
Que lindo texto Raphael, me fez lembrar o poema Amizade de Fernando Pessoa.
“Meus amigos são todos assim: metade loucura, outra metade santidade. Escolho-os não pela pele, mas pela pupila, que tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante. Escolho meus amigos pela cara lavada e pela alma exposta. Não quero só o ombro ou o colo, quero também sua maior alegria. Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos. Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos, nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice. Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto, e velhos, para que nunca tenham pressa. Tenho amigos para saber quem eu sou, pois vendo-os loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a normalidade é uma ilusão imbecil e estéril” (Fernando Pessoa)
AbraSUS