Descrição
O artigo problematiza as concepções de humanização encontradas no relato de apoiadores institucionais formados nos cursos desenvolvidos pela Política Nacional de Humanização (PNH) nos estados de São Paulo, Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Ao colocar em análise as concepções de humanização produzidas por apoiadores institucionais, foi possível problematizar o lugar do pesquisador que investiga suas ações no SUS. Sendo pesquisa implicada, que envolveu pesquisadores da academia e pesquisadores com inserção nos serviços e na gestão destes processos de formação, o estudo avaliativo, em uma de suas categorias de análise, debruçou-se sobre os diferentes sentidos de humanização produzidos pelos cursos. Como resultados, foram encontradas tanto dimensões da humanização como algo imanente ao plano das experiências concretas, refratárias à idealização do homem ou das práticas, quanto concepções sintomáticas, reprodutoras de modos instituídos de conceber a humanização e a ideia de homem. Entre estas últimas, sobressaíram-se aquelas com destaque e centralidade à figura do apoiador, reproduzindo modos idealizados ou hierarquizados de perceber o sujeito nos grupos. No horizonte de análise do plano de produção de tais concepções sintomáticas, encontram-se fatores associados ao tempo de duração dos referidos cursos e aos objetivos vinculados à formação. A duração foi apontada como insuficiente para um adequado manejo dos conceitos-ferramenta trabalhados nos cursos. Os objetivos foram se conformando como vinculados à ideia de implementação da Política, gerando efeito de atribuição de ‘encargo’ junto aos apoiadores, insuflando-os a se autorizarem em movimentos contra-hegemônicos. Essas hipóteses foram estranhadas nas entrevistas e grupos focais com os apoiadores, que permitiram constatar um interessante efeito de desestabilização provocado pelos cursos. A metodologia participativa do estudo foi dispositivo problematizador da pesquisa e da implicação dos atores envolvidos.