Dona Ivone Lara: ícone do samba brasileiro e enfermeira pioneira na Humanização em Saúde Mental

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A cantora, compositora e enfermeira Ivone Lara morreu na noite de segunda-feira (16/4), os 96 anos, no Rio de Janeiro. Ícone do samba brasileiro, D. Ivone Lara estava internada desde sexta-feira (13/4), com insuficiência respiratória.

Órfã aos 11 anos, Ivone herdou da convivência com os pais o amor pelo samba. Sua mãe, a costureira Emerentina Bento da Silva, cantava em blocos de carnaval. Seu pai, José da Silva Lara, era exímio violonista e tocava no Bloco do Africano. A menina tocava cavaquinho desde criança e, na adolescência, teve aulas de canto com Lucília Villa-Lobos, mulher do maestro Hector Villa-Lobos, que elogiou seu talento.

Trajetória na Saúde Mental – Na juventude, Ivone formou-se pela Faculdade de Enfermagem do Rio (atualmente Faculdade Alfredo Pinto, da UNIRIO). Dedicou-se intensamente à profissão, especialmente à Saúde Mental. Costumava percorrer as enfermarias e pavilhões do Instituto Psiquiátrico Pedro II em busca das histórias, referências e laços familiares dos pacientes. Era uma rotina, que além de dar-lhe satisfação, fazia parte do tratamento terapêutico.

Prestou concurso público para o Ministério da Saúde em 1942, antes de ingressar na Colônia Juliano Moreira, onde atuou por mais de três décadas com pacientes afetados por graves transtornos mentais. Fazia plantões de 24/48 horas que, segundo ela, eram desgastantes, mas, ao mesmo tempo, muito gratificantes já que ajudavam a diminuir o sofrimento dos que procuram as unidades públicas de saúde.

Atuou com Nise da Silveira, psiquiatra brasileira que rebelou-se contra a lobotomia, eletrochoques e outros métodos agressivo de tratamento de Saúde Mental, defendendo um tratamento humanizado da loucura. Com Nise, especializou-se em terapia ocupacional.

Soube combinar a música e as habilidades de enfermeira para ajudar seus pacientes a enfrentar transtornos mentais. A música funcionava como um bálsamo consolador nas inúmeras festas que promovia com suas colegas de trabalho. Ela cantava e dançava com os pacientes e, assim, transformava aquela rotina, tantas vezes esgotantes, em momentos de felicidade.

Assinatura artística – Somente em 1977, d. Ivone deixou de trabalhar em hospitais, passando a se dedicar exclusivamente à carreira artística. “O samba de Ivone Lara tinha uma assinatura”, avalia o crítico musical Júlio Maria, do Estado de S. Paulo. “Ivone sabia como curar a dor de amor, algo que muito provavelmente tem a ver com outra de suas especialidades: a Enfermagem”, afirma.


Autora de sambas célebres como “Sonho Meu”, “Alguém me Avisou”, “Samba, Minha Raiz” e “Minha Verdade”, foi gravada por Clara Nunes, Caetano Veloso, Maria Bethânia, Gilberto Gil, Paulinho da Viola, Beth Carvalho e Marisa Monte, entre outros, além de gravar suas próprias composições.

Aproveito para parafrasear a Jacqueline Abrantes Gadelha que em seu mais recente post, nos  diz o seguinte:

As fronteiras entre os percursos no cotidiano do trabalho e a vida na RHS se diluem de tal modo que,  em muitos momentos, vem a lembrança: “podia contar isso na RHS”

Quando  li a matéria sobre Dona Ivone Lara, logo me veio a lembrança “podia colocar isso na RHS”

Confira a matéria original no site do Conselho Federal de Enfermagem