Dez anos da Rede Butantã
No dia 07 de julho de 2000, uma quarta-feira, realizou-se uma reunião na Paróquia São Patrício, Butantã, articulada por pessoas que trabalhavam em diversas instituições públicas e do terceiro setor da região e que desejavam muito mudar o estado de coisas no momento. Estávamos no oitavo ano de duas gestões municipais que detonaram a participação social e política na cidade (Maluf e Pitta). Havia um vazio de participação e uma sede de encontros e vontade de mudar. Falávamos da violência no bairro, do estado deplorável dos serviços de saúde (o PAS, plano implantado na saúde, retirou à revelia profissionais de seus locais de trabalho e os espalhou irresponsavelmente pela cidade. Tinha médico lotado em creche, nutricionista em biblioteca, etc, etc), da situação das escolas públicas, da falta de vagas nas creches, etc, etc. E essa rede se constituiu, e de boca em boca fomos nos convidando: a cada mês (sempre a primeira quarta) pela manhã nos reuniríamos em uma entidade da região e organizaríamos uma pauta. Sempre iniciávamos com um café oferecido pela entidade anfitriã, e essa entidade tinha um tempo para apresentar seu trabalho. Ao final da reunião decidíamos onde seria o próximo encontro. No primeiro ano ainda ficamos nos reunindo na São Patrício e depois nos tornamos itinerantes. Tínhamos um livro de ata e uma comissão executiva de uma três pessoas que periodicamente se revezavam. Aos poucos fomos montando uma lista virtual, e uma colega muito importante, Martha Pimenta, funcionária da USP, assumiu organizar mensalmente um boletim com informes e atas das reuniões presenciais. Construímos um logotipo (pessoinhas diante de um sol laranja, cujos corpos formam um R e um B se deitarmos a figura de lado) que sempre anexamos em nossos documentos e moções (aprovados nas reuniões presenciais) mas nunca nos preocupamos em oficializar essa entidade em uma associação, em uma pessoa jurídica. Sempre fomos um espaço de encontros, de trocas, onde as diferentes opiniões são acolhidas. Mas o grosso das pessoas que compõe e fica na Rede sustenta a idéia de que esta seja uma força fomentadora do debate e da construção de políticas públicas interligadas que respondam aos interessem da maioria dos cidadãos e cidadãs. Por nossas reuniões já passaram muitos gestores regionais e municipais, candidatos a vereador/ deputado de diversos partidos, intelectuais, professores, militantes para apoiarem nossos debates sobre diversos assuntos: violência, educação, saúde, habitação, plano diretor, saneamento, parques públicos, cultura, etc, etc. E ontem, dia 07 de julho de 2010, na mesma Paróqua São Patrício, nos reunimos mais uma vez para celebrar esses 10 anos de existência, e nesse ritual, revigorar a missão dessa Rede, esse patrimônio imaterial que construímos e estamos sustentando. Tivemos a presença de artistas do bairro que nos presentearam com a música e a dança (Wagner Freire, arte-educador e Dinho Nascimento e a Orquestra de Berimbaus). Fiquei muito feliz por estar presente nessas duas reuniões e poder reencontrar as parceiras e parceiros de luta e utopia por uma cidade para as cidadãs e os cidadãos, a despeito da fama de São Paulo ser uma selva de pedra, uma cidade onde somos apenas mais um na multidão. Em São Paulo existem oásis, e a Rede Butantã é um deles. Parabéns Rede querida, e que sua vida seja muito longa! Em anexo vai uma foto de nosso encontro tirada pela fotógrafa de nossos encontros, Dirce de Assis (médica da UBS Malta Cardoso e coordenadora da ONG Espaço Comenius que faz um lindo trabalho com arte, cultura e atendimento a dependentes de álcool e drogas. Minha parceira de Terapia Comunitária!)
Por Maria Luiza Carrilho Sardenberg
Lembra o poema de Brecht:
Hay hombres que luchan un día
Y son buenos
Hay otros que luchan un año
y son mejores.
Hay quienes luchan muchos años
y son mui buenos.
Pero hay los que luchan toda la vida
Essos son los imprescindibles.