Aumenta morte no parto no DF
Esta notícia da repórter Bruna Sensêve saiu no Jornal de Brasília do dia 20 de fevereiro. O texto apresenta a humanização do parto como a solução! Vale a pena ler e comentar!!
Em vez de diminuir e ajustar-se aos índices definidos pela Organização Mundial de Saúde (OMS ),a Razão de Mortalidade Materna (RMM) aumentou no Distrito Federal em 2010. Apuração recente do Núcleo de Saúde da Mulher da Secretaria de Saúde do
Distrito Federal (SES-DF) indica que, em 2009, a mortalidade de gestantes em decorrência de complicações no pré-parto, parto e pós-parto chegou a 50,4 por 100 mil crianças nascidas vivas.A previsão
é a de que este ano essa razão chegue a 56. A OMS considera aceitável aRMMentre dez e20 mortes maternas por 100 mil nascidos vivos. Os números da SES revelam, contudo, que aRMMda capital federal está quase três vezes maior do que o índice definido
pela Organização das Nações Unidas (ONU) há uma década.
OdadodaSES-DFainda épreliminar edeverá ser publicado oficialmente em junho deste ano, após a finalização da análise de outros cinco casos. Apesar de não estarem consolidados, o chefe do Núcleo de Saúde da Mulher, Avelar de Holanda Barbosa, afirma que os dados divulgados até agora são insuficientes para retratarem as dificuldades enfrentadas pelas gestantes na rede pública de saúde. "O Comitê de
Morte Materna investiga a quantidade e as causas das mortes. O estudo começou a ser feito com rigor em 2004. Havia a informação de que em 1990 esse número era de 20 e 30, mas certamente deveria ultrapassar cem. A razão aumentou porque a realidade da saúde começou a ser estudada", informa.No ano passado, segundo ele, o número esteve próximo a esse, apesar de a SES ter divulgado 50,4. O médico diz que "o caos na saúde pública do DF em 2010 atingiu em cheio as gestantes", afirma.
O mais grave da situação é que a taxa de mortalidade é resultado
de complicações evitáveis, tais como a hipertensão mal cuidada no pré-natal, que pode se tornar um AVC, a falta do cuidado médico quando ocorre uma hemorragia, dentre outras manifestações.
Uma pesquisa intitulada "Mor – talidade Materna na Perspectiva do Familiar", da Universidade de São Paulo (USP), mostra, entre outros fatores, que a morte da mãe priva a criança da amamentação e do carinho materno, influindo na mortalidade infantil e na incidência de desnutrição. Segundo o estudo, a perda familiar é imensurável, sobretudo, quando a sobrevivência da criança está ligada à sobrevivência da mãe.
Um retrato do caos da saúde no DF é o caso de Valdenice Pereira da Silva. Com 22 anos de idade e nove meses de gravidez, ela enfrentou várias barreiras para fazer um pré-natal satisfatório na rede pública.
Consultou no centro de saúde perto de sua casa, mas na hora dos exames não conseguiu assistência. "Tive de pagar R$ 200,00 por exames de sangue e ultrassom porque o posto não tinha como fazê-los.
Agendaram consultas no Guará às 8h. Não consegui ir de ônibus até lá", relata a dona de casa. A distância deSão Sebastião até o Guaráélonga. "São quase duas horas no ônibus", diz Valdenice. Para fazer o exame, ela precisaria sair de casa às 4h e pagar quase R$
48,00 de quatro passagens de ida e volta para ela e o marido.
Humanização é a saída
As olução indicada para a diminuição das mortes maternas no Distrito Federal é a humanização da saúde da mulher. O direito à presença de um acompanhante durante o parto e o pós-parto imediato é garantido por lei federal, bem como o conhecimento e a vinculação
à maternidadeem que vai receber a assistência.Mas a legislação não é obedecida pelas instituições de saúde.
"A grávida morre como umcordeiro no hospital, sem dizer nada.
Isso porque ela teme reclamar ou observar algum procedimento errado e sofrer algum tipo de retaliação que atente contra sua vida eado seu filho.Com acompanhante, ela se sentirá segura para cobrar. Isso influencia. É a humanização da saúde. Não custa dinheiro. Éapenas gestão", esclarece Avelar.
O chefe do Núcleo de Saúde da Mulher da SES-DF esteve à frente da maternidade do Hospital Regional da Asa Sul (HRAS) por vários anos.
Foi um dos responsáveis pela criação da Casa de Parto de São Sebastião. O local é especializado em partos normais humanizados que, de acordo com dados do Ministério da Saúde, apresenta os menores riscos para a saúde da mãe e do bebê. Fernanda Vitória
de Carvalho, 31 anos, foi entrevistada poucos minutos após o nascimento de Giovana. Ela havia tomado banho e almoçava em seu quarto individual enquanto a filha recebia as primeiras vacinas, na sala ao lado. Sua acompanhante foi a comadre, a qual esteve
todo o tempo ao lado da amiga: na triagem antes do parto, durante o nascimento e no momentodas vacinas paparicava a criança.
A tranquilidade do local e a enorme assistência prestada pelos profissionais foi o que mais confortou Maria de Fátima Barbosa, 42 anos. Ela saiu da Casa de Parto nessa sexta-feira com Lorena nos braços e nunca imaginou que o momento do parto pudesse ser tão
tranquilo. "Es – tava assustada,massó de ter meu marido ao lado consegui me acalmar.
As dores são as mesmas, mas não sofri o desespero que tantas mães relatam. Falta de informação, abandono, assistência precária. Foi um alívio só de ter meu marido ao lado o tempo todo", conta.
A secretária de Saúde da Mulher, Olgamir Amâncio Ferreira, explica que o problema não se limita às gestantes, mas a atenção à saúde da mulher deve ocorrer em todos os aspectos. Segundo ela, a mulher precisa de acompanhamento em todas as esferas: psicológica,
física e orgânica.
"O tratamento humanizado pressupõe ver a pessoa em sua totalidade e ajuda na qualidade de vida da mulher, a contribuir na ação de políticas públicas e até no enfrentamento da violência doméstica e abuso", declara.
Ela adianta que a Secretaria vai trabalhar em conjunto com a SES-DF em busca de medidas para a humanização da saúde da mulher na rede pública. __ "O tratamento humanizado pressupõe ver a pessoa
em sua totalidade" Olgamir Amâncio Ferreira, secretária de Saúde da Mulher.
SAIBA+
Cerca de 20 mulheres morreram, em 2010, no período pré-parto, parto e pós-partono Distrito Federal. A Razão de Mortalidade Materna (RMM), no ano passado, pode alcançar 56.Onúmero é estimado pela
quantidade de óbitos maternos, ocorridos até 42 dias após o término da gravidez, atribuídos a causas ligadas à gravidez, ao parto e ao pós-parto, em relação ao total de nascidos vivos. O número de nascidos vivos éadotadocomo uma aproximação do totaldemulheres
grávidas. O índice reflete a qualidade da atenção à saúde da mulher.
Taxas elevadas de mortalidade materna estão associadas à insatisfatória prestação de serviços de saúde a esse grupo, desde o planejamento familiar e a assistência pré-natal, até a assistência ao parto e ao pós-parto.
Por Liliane Camargos
É uma vergonha que, vivendo na era da tecnologia e da informação, uma mãe tenha que arriscar sua vida para colocar outra vida no mundo.
Mesmo os hospitais que se dizem "humanizados" não estão seguindo à risca os princípios da humanização. Em alguns, a mulher só tem direito a acompanhante se exigir, ou seja, se perceberem que ela é bastante esclarecida e que poderá dar-lhes alguma dor de cabeça. Ou seja, para a maioria a humanização inexiste. Estamos regredindo?