Qual “ESTADO DA ARTE” na Atenção ao Parto QUEREM MOSTRAR?
17 votos
Fátima Oliveira- Ex- Coordenadora da Regional Minas Gerais da Rede Feminista de Saúde- SMS de Belo Horizonte-MG, e Secretária Executiva da Rede Feminista de Saúde, escreveu ao Blog Saúde com Dilma, solicitando a publicação no mesmo da matéria publicada pelo Jornal Folha de São Paulo, em 24/02/2011, em ANEXO no final deste Post.
A mim, chamou a atenção sua apresentação e entusiasmo com a matéria, quando justifica: "A pesquisa ratifica o que o feminismo brasileiro vem denunciando há pelo menos duas décadas. Agora temos em mãos uma pesquisa recente do estado da arte da situação. Mas a novidade é saber que agora podemos contar com a intolerância do Dr. Helvécio Magalhães Jr. – Secretário de Atenção à Saúde do Ministério da Saúde".
A matéria e seu comentário foram publicados, segundo avaliação da equipe organizadora do Blog. Mas, um segundo post foi elaborado, em resposta à definição “Estado da Arte” que Fátima Oliveira atribui à matéria da Folha, acerca deste tema que vem sendo central nos trabalhos desenvolvidos pelo Ministério da Saúde nos últimos anos, como bem está registrado aqui, na Rede HumanizaSUS, como veremos no texto que escrevi compilando um pouco da memória do SUS que dá certo !
Fátima Oliveira,
Sabemos que nem a ciência, nem o Jornalismo são neutros. Sabemos também que, alguns segmentos da mídia e do jornalismo no estado de São Paulo, intencionalmente, escrevem mais que outros, no sentido de desqualificar o SUS, e a gestão pública dos ultimos 8 anos.
Nesse sentido te peço muita cautela em citar tais pesquisas como reveladoras do estado da arte, de qualquer temática que se refira à qualidade da assistência materna-infantil no SUS. Claro está para todos nós, que ainda ocorrem situações inaceitáveis de desqualificação do atendimento; mas uma reportagem que polariza a questão não pode ser tomada como Estado da Arte ! Nem mesmo posso crer que imaginas que somente agora, o Ministério da Saúde, e mesmo a SAS-MS inicia atenção especial à Qualificação das Maternidades, e a Humanização do Parto.
Quando o Dr. Helvécio enfatiza que “A humanização do parto está no centro da política de saúde do governo”, ratifico esta afirmação e ainda complemento que não é de hoje, 2011, e nem mesmo de ontem, 2010. Talvez o estado de São Paulo esteja pouco atualizado em acompanhar os avanços do SUS, dada sua opção por privatizar com Organizações Sociais grande parte dos serviços públicos de Saúde ! Isto sim !
A SAS e a PNH desenvolvem há alguns anos, ao que parece desde 2004, o PLANO DE QUALIFICAÇÃO DAS MATERNIDADES E REDES PERINATAIS com avanços e resultados de experiencias exitosas registradas desde 2008, com crescimento das ações em 2009, e grande expansão em 2010, como voce pode ver a seguir, em vários estados do País como Minas Gerais ( Hospital Sofia Feldman), Piauí, Tocantins, Amazonas, Ceará, Rio Grande do Norte, Rio de Janeiro, e Distrito Federal, só para citar algumas experiencias.
Talvez, o que se torna mais “intolerável” nisso tudo, seja como a mídia brasileira é viciada em criticar um SUS que pouco conhece, e pouco procura conhecer. De cada 20 reportagens sobre o SUS, em média 70 % é no sentido de desqualificá-lo. Fico muito indignada que apareça alguém para apontar uma reportagem como esta, vinda do estado de SP, como ” estado da arte” e ainda associa-la ao SUS.
Além de qualificar a Atenção e a Gestão do SUS, O Ministério da Saúde, e muitas das gestões estaduais, ou municipais, em que se destaca inclusive MG e Belo Horizonte, nos ultimos anos (referência em muitos setores como Saúde Mental e outras linhas de cuidado), tem se dedicado através da PNH- (Política Nacional de Humanização da Atenção e da Gestão da Saúde) transversalizada com outras políticas de saúde, a seguir os seus PRINCÍPIOS e DIRETRIZES, entre os quais, e pouco lembrado por alguns, o registro da MEMÓRIA DO SUS QUE DÁ CERTO.
E concluo esta resposta com o convite para uma amostra deste registro, somente para que voce possa aprimorar o que chama ” Estado da Arte” ( CLIQUE nestes 12 links, ou copie/cole os links, e conheça 12 experiencias espalhadas por este país, que vai muito além de São Paulo ).
Todos os links registram experiências em ação a partir do
Plano de Qualificação das Maternidades e Redes Perinatais – PNH/ MS :
https://redehumanizasus.net/8865-maes-trocam-plano-de-saude-por-parto-humanizado-do-sus
https://redehumanizasus.net/11574-ministerio-da-saude-apoia-humanizacao-do-parto
https://redehumanizasus.net/11428-hospital-sofia-feldman-e-parceiro-no-plano-de-qualificacao-das-maternidades
https://redehumanizasus.net/11580-sinfonia-para-saudar-a-chegada-de-naara-vivencias-de-um-parto-humanizado
https://redehumanizasus.net/10753-doulas-na-humanizacao-do-parto-e-nascimento
https://redehumanizasus.net/11554-sair-da-rotina-qualifica-a-relacao-entre-profissionais-de-saude-usuarias-e-suas-familias
https://redehumanizasus.net/11679-canguruzar-e-preciso-assista-aos-videos-sobre-o-metodo-canguru-na-maternidade-evangelina-rosa
https://redehumanizasus.net/11589-parto-que-te-quero-perto-expandindo-para-outras-maternidades
https://redehumanizasus.net/11562-boletim-sas-no-plano-traz-boas-praticas-do-parto-humanizado
https://redehumanizasus.net/10238-maternidade-dona-regina-de-palmas-tocantins-gestantes-tem-acompanhamento-de-familiares-no-parto
https://redehumanizasus.net/9260-maternidade-dona-evangelina-rosa-em-teresina-pi-inaugura-centro-de-parto-normal
https://redehumanizasus.net/205-parto-uma-dimensao-do-gozo-feminino
Obrigada, pela oportunidade de divulgar o SUS QUE DÁ CERTO, tão pouco favorecido pela Mídia.
Shirley Monteiro.
Psicóloga Clínica e Bióloga Geneticista/ Apoiadora da PNH.
Shirley Monteiro.
Psicóloga Clínica e Bióloga Geneticista/ Apoiadora da PNH.
(Profissional do SUS – pela Sesap-RN).
Fontes e Anexos:
fonte da Imagem Doulas: anadoulaenutri.blogspot.com
Primeira Imagem: https://www.bbmoderno.com.br/blog/index.php/archives/815
Por catia martins
Oi Shirley,
Excelente sua resposta! Como vc é rápida… Que maravilha! Também quero entrar nesta discussão.
O Plano de Qualificação das Maternidades e Redes Perinatias está produzindo mudanças – culturais, políticas, afetivas e etc e etc e etc – em 26 maternidades da Amazônia Legal de Nordeste brasileiro. Os guerreiros apoiadores institucionais e supervisores do Ministério da Saúde buscam intervir no modelo de atenção e gestão ao parto e nascimento nessas regiões. Eles estão construindo consensos e produzindo mudanças na rede SUS para garantir a qualquer mulher o direito ao acompanhante de livre escolha em todos os momentos (desde o pré-natal até o pós-parto), conhecer onde irá parir ou saber qual serviço procurar nas intecorrências com ela e com o bebe (vinculação e ACCR), assistência baseada em evidências científicas (as boas práticas preconizadas pela OMS), ambiência adequada (o espaço físico reflete/induz um tipo de atenção que atual/e é como numa linha de montagem…), a constituição de espaços de co-gestão nas maternidades e nas redes, como os fóruns perinatias (espaços coletivos de análise e intervenção). Buscam assim a construção de um outro ethos, pelo direito à saúde de qualidade e pelo respeito e dignidade das mulheres e seus bebes. Entretanto, o que temos atual/e, e que a matéria denuncia (mostrando só um lado de um problema que comporta uma multiplicidade de questões…) e que nos causa repulsa, é a submissão da mulher ao saber biomédico, as discriminações por cor, classe social, as diferenças entre um serviço público e privado, dentre outras.
O paradoxo perinatal – o maior acesso a tecnologias e equipamentos biomédicos não garantem menos mortes de mulheres e crianças – é um fenômeno discutido mundialmente. A desmedicalização do parto e nascimento implica um outro modo de fazer, mudanças profundas na atenção e gestão, mudanças coletivas no trabalho em saúde, e na formação dos profissionais de saúde, na construção (já em curso… ) de uma nova ética no cuidado. Tarefa imensa! Tarefa para todos nós, trabalhadores do SUS e/ou cidadãos deste país.
Cito duas importantes notícias:
A pesquisa Nascer no Brasil: Inquérito sobre Parto e Nascimento. O estudo da Ensp/Fiocruz, IFF/Fiocruz, universidades estaduais e federais e a Agência Nacional de Saúde Suplementar que fará 24 mil entrevistas em hospitais públicos e privados com representações em todos os estados. https://www.fiocruz.br/fiocruzbrasilia/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=662&sid=6
Para quem se interessar, a PNH está produzindo um lindo boletim, o "SAS no Plano", que traz os avanços e os desafios do Plano de Qualificação das Maternidades e Redes. Vale a pena dar uma olha. Aí vai o link: https://portal.saude.gov.br/portal/saude/visualizar_texto.cfm?idtxt=35806
No SAS no Plano n° 4 há um texto de Sonia Lansky, “Por um novo modo de nascer no Brasil”:
“É preciso mudar o modelo de atenção ao nascimento no Brasil para a solução deste grave problema de saúde pública. É preciso alcançar os níveis os patamares desejáveis na mortalidade materna e infantil, e melhorar a satisfação da mulher e da família no momento do nascimento de seus filhos. O foco deve ser o parto respeitoso e digno, apoiado na rede de atenção articulada que garanta acesso oportuno à atenção qualificada desde o pré-natal até o parto. Que garanta o protagonismo e os direitos da mulher e da criança neste momento ímpar de celebração da vida e do afeto, de forma a promover sua saúde e as relações humanas e da sociedade”.
um abraço, Catia