"…atingir a máquina abstrata que opera a conexão [das cadeias semióticas]…
(…)
Uma cadeia semiótica é como um tubérculo que aglomera atos muito diversos, linguísticos, mas também perceptivos, mímicos, gestuais, cogitativos…
(…)
Uma multiplicidade não tem nem sujeito nem objeto, mas somente determinações, grandezas, dimensões que não podem crescer sem que mude de natureza (as leis de combinação crescem então com a multiplicidade).
(…)
Um agenciamento é precisamente esse crescimento das dimensões numa multiplicidade que muda necessariamente de natureza à medida que ela aumenta suas conexões. Não existem pontos ou posições num rizoma como se encontra numa estrutura, numa árvore, numa raiz. Existem somente linhas. Quando Glenn Gould acelera a execução de uma passagem não age exclusivamente como virtuose; transforma os pontos musicais em linhas, faz proliferar o conjunto."
Deleuze & Guattari
13 Comentários
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Por Erasmo Ruiz
E quando a proliferação do conjunto intensifica o amalgama com novos conjuntos? O virtuose então, ciente do seu papel, produz linhas que também proliferam outros conjuntos e, ao mesmo tempo, fagocita a proliferação que ajuda a produzir, faz parte dela, muda e se torna outro sendo o mesmo!
Por Erasmo Ruiz
Gould agora toca Beethoven! Agrega às linhas de uma outra lingua que absorveu grande parte da primeira. Busca a formação de novos conjuntos…se incorpora ao mundo que agora é uma orquestra sinfônica. Drama, dor, alegria, prazer, sofrimento! Gould é o espelho do mundo ao mesmo tempo em que feito narciso descobre a própria beleza nele. Entende enfim o significado do poema de Cecilia Meireles:
Não digas: Este que me deu corpo é meu Pai.
Esta que me deu corpo e minha Mãe.
Muito mais teu Pai e tua Mãe são os que te fizeram
Em espírito.
e esses foram sem número.
Sem nome.
De todos os tempos.
Deixaram o rastro pelos caminhos de hoje.
Todos os que já viveram.
E andam fazendo-te dia a dia
Os de hoje, os de amanhã.
E os homens, e as coisas todas silenciosas.
A tua extensão prolonga-se em todos os sentidos.
O teu mundo não tem pólos.
E tu és o próprio mundo.
O poema fala do RIZOMA…
Por Shirley Monteiro
lindo !!!
Só quero ouvir, não escrver.
Bjos,
Shirley.
Ricardo e Erasmo,
Mais um post que funciona como uma provocação da intensidade em nós. E esse "nós" não fala de sujeitos, mas de ENODAR-SE. Enodar-se com multiplicidades, deixá-las passar por tudo, um crescimento de muitas dimensões.
E o Erasmo embarca enodando-se de uma forma linda.
"Uma multiplicidade não tem nem sujeito nem objeto, mas somente determinações, grandezas, dimensões que não podem crescer sem que mude de natureza. Os fios da marionete, considerados como rizoma ou multiplicidade, não remetem `a vontade suposta una de um artista ou de um operador, mas `as multiplicidades de fibras nervosas que formam por sua vez uma outra marionete seguindo outras dimensões conectadas `as primeiras" ( Deleuze, 1995 – Mil Platôs – algumas linhas antes da citação feita por Ricardo ).
Pensei se poderíamos pensar em considerar a RHS como um rizoma…Da humanização das práticas do SUS, devires outros se criam, embora sp apareça alguma voz nos puxando inocentemente para os temas "de saúde". O agenciamento busca um organismo, mas também se conecta com os corpos sem órgãos o tempo todo. E é isso que me amarra nesta rede!!!!!!!!!!!!
uma multiplicidade de beijos prá vcs,
Iza
Por Rejane Guedes
Caríssim@s.
Exatamente por essa multiplicidade trazida à superfície pelos grandes Ricardo, Erasmo e Glenn Gould que hoje considero esse como um dos meus posts favoritos na RHS.
Uma deliciosa mistura de arte e conceitos, de exercício de torção do pensamento sobre o pensamento que ultrapassa a obviedade.
Um exemplo de que é possível integrar diversas intensidades em linhas que podem (ou não) brotar rizomaticamente, como as gramíneas, os gengibres, os bambus, as sinapses neuronais.
Sou fã dessa multiplicidade que não nega as diferenças de pensar, de agir, de viver, de morrer.
Iza, concordo com a analogia da RHS como experimentação rizomática (e não como uma estrutura arbórea). Estamos mais para talos e ramos (linhas) do que para pontos ou partes funcionais de um todo (caule, folha, tronco, raiz, fruto). A potência da rede está exatamente nesse diferencial. Creio e espero que assim continue.
Conversaremos mais sobre isso.
Saudações talófitas. Rejane.
Por Shirley Monteiro
Queridos,
Ontem assisti à ópera Carmem, de Bizet !!! Lindo.
Mas de novo, senti uma emoção que há muito me chama a atenção. Sempre gostei de música clássica, desde adolescente busco ir aos Concertos da OSPA, da Sinfonica da UFRN, Cameratas, Quartetos de Cordas… e outras do Velho Mundo que nos visitam … Sempre a mesma emoção eu sinto, antes, no prelúdio, … antes que as luzes se apaguem: Falo da música misteriosa, caótica e linda dos instrumentos em afinação … Cada um no seu tom, buscando a harmonia do conjunto, mas cada um na sua intensidade e insensatez, preparando-se para as Melodias puras de fluxos … E é assim, que acontece.
Entendo isso como os rizomas, as linhas de fuga, os agenciamentos, e a intensidade das multiplicidades ! Ora afinação no Caos, ora a pureza melódica do encontro dos compassos, e entradas.
Bjs,
Shirley Monteiro.
Por Altair Massaro
Experimentem a musica atonal:
John Cage:
https://www.youtube.com/watch?v=gN2zcLBr_VM
https://www.youtube.com/watch?v=K7zBG2p8g94&feature=related
Abandono absoluto da estrutura. Encontro com o caos, com o rizoma na matéria sonora.
Por Erasmo Ruiz
Mestre Altair!!!
Eu gosto mais dessa versão aqui:
https://www.youtube.com/watch?v=AdT5h46ILrA
Acho essa interpretação mais profunda. O problema é que o meu ventilador no escritório insiste em se transformar em Bach e fica compondo fugas a 4 ou 5 vozes em contraponto ao Cage. E os teclados do computador fazem a percussão enquanto escuto essa obra prima. Mas o Cage conseguiu o que ele queria! Acho que depois de um concerto interminável de alunos em formação num conservatório, essa peça de Cage será sempre bem vinda! Uma metáfora que também poderia ser explorada é da obra "Oferenda Musical" de Bach: o estabelecimento da ordem onde isso é aparentemente impossível, a produção de novos sentidos em busca de ordenamentos tidos como improváveis ou, a percepção da ordem onde só é percebido o vazio ou o caos. Para quem não conhece, link com a história desta obra de Bach:
https://pqpbach.opensadorselvagem.org/js-bach-1685-1750-a-oferenda-musical-bwv-1079/
Um abração Altair!
Por Shirley Monteiro
Altair,
os Silencios nos remetem aos maiores Contatos … e a Psicologia tem trabalhado muito bem com este poderoso silencio. … assim como alguns sons. Depois de um dia cheio de aulas, e a mente querendo ficar quieta, vim ouvir a tua música atonal. …A arte inusitada nos seduz, na expectativa, de nós mesmos, … de repente eu comecei a me sentir junto da platéia, percebida na sombra: Que platéia educada, e sensível, respeitosa. Fiquei a imaginar como seria a reação da mesma ( a platéia) em uma noite de sábado no tradicional Teatro Alberto Maranhão, na Velha Ribeira de Natal… como reagiria a platéia ??… Prefiro não comentar. Mas certamente que seria diferente da reação dos academicos, e comunidade UFRN, que faz a platéia do Auditório da querida Escola de Música
da nossa Universidade Federal, … a mesma platéia do Café Filosófico, do GRECOM, e mais… Depois destas reflexões em 4:33 minutos. curiosa fui ver outro vídeo do Cage: https://www.youtube.com/watch?v=1UPlYnBFrI0&NR=1
Este porém, me pos em contato com emoções difíceis, sentimentos transcontinentais que desde o dia 11/ 03 tem me atravessado ponderações existenciais, ecológicas, genéticas e planetárias de irmandade com o Japão. A música me trouxe os rostos das crianças japonesas, em meio a tantas águas, ondas, ~e nuvens radioativas; e eu fiquei com vontade de chorar de novo, a música deste link, dream, trás a angústia misturada com sonhos infantís, que estas crianças devem estar vivenciando.
Beijos, de rizomas multiplos: Entre o Inconsciente cotidiano/ as fugas/ os contatos/ e as elaborações simbólicas na Consciência, através da Arte, e dos encontros em um Post ( Coletivo).
Veja, no que dá, as provocações do Ricardo !!!
post rizomático: Efeitos múltiplos e vivos em ato.
Bjos, enfim. … para terminar.
Shirley.
Oi pessoal,
Vendo o post, os comentários, fiquei a pensar, e se fôssemos como as rizomas? Que bom seria, né? Iriamos longe (finitamente falando), nos multiplicando, nos transformando, seguindo caminhos outros. As rizomas estão sempre se renovando, quando você pensa que elas morreram, brotam com todo vigor, dando origem a novas plantas maravilhosas.
E estas músicas, nossa, como as rizomas nos conduzem a vários lugares, reflexões, saudosismo, sentimentalismo, enfim, nos fazem viajar.
Obrigada, Ricado, Altair, Erasmo pelas músicas e possibilidades de reflexão e transbordamento!
Abraços!!!
Emília
Eu acho, Emília, que podemos mesmo nos pensar como rizomas pois não somos os mesmos com a passagem do tempo e das experiências de vida. Vamos fazendo múltiplas derivas pelos caminhos…Que bom!
Beijos,
Iza
Por Rejane Guedes
Palavras são boas para PENSAR, já dizia Claude Lévi-Strauss.
Nessa contemporaneidade de tantas palavras peço licença para registrar que esse vídeo é um oceano de pensamentos sem palavras.
Saudações pensativas. Rejane.