A EXIT e o Suicídio Assistido: Você Ajudaria Alguém a se Matar?
A pergunta provavelmente surpreendeu você. Pode ser considerada um despropósito, afinal, a maioiria de nós parece ter posicionamentos muito rígidos e contrários a prática do suicídio, ainda mais em circunstâncias onde podemos nos colocar num papel de auxiliar à concretização do ato suicida.
Mas talvez as coisas não sejam tão simples assim. Caso qualquer um de nós tome a decisão de cometer suicídio – e aqui não vamos adentrar nas inúmeras razões e contextos em que isso poderia acontecer – essa ação não seria passível de maior regulação. Na nossa legislação não existe nenhuma cláusula que criminalize o gesto em si. Isso só acontece se, ao tentar cometer suicídio, o próprio gesto de cometimento possa de alguma forma produzir dolo e/ou prejuízo a outras pessoas.
O que quero dizer é que, tomada a decisão, estamos áptos, com maior ou menor "competência", em realizar o que pretendemos. Mas e quando por determinadas circunstâncias uma pessoa esteja fisicamente limitada para realizar esta ação? Por exemplo, no caso de pessoas que estejam na condição de tetraplegia, como pode esse indivíduo por termo a própria vida?
Ou em situações onde a pessoa deixa expresso seu desejo de "sair de cena" deste mundo, no avançar de uma doença grave ela simplesmente pode estar em condições tão debilitadas que precisará da ajuda de alguém para tomar um conjunto de substâncias para poder rmorrer.
Sabemos que esse assunto é desagradável e pode provocar um debate interminável. Mas não podemos estar indiferentes a esta situação posto que ela está acontecendo a todo momento, o que implicou que alguns países e Estados Norteamericanos intentassem alguma forma de regulação onde o ato de ajudar alguém a se matar fosse descriminalizado. O caso mais notório é o que acontece na Suiça onde a prática do suicídio assisitido é regulamentada, contando inclusive com a colaboração de organismos da sociedade civil para sua implementação.
Por isso convidamos você a assistir ao documentário "EXIT". Ele nos mostra um pouco do cotidiano de uma associação que auxilia pessoas vítimas de doenças para que não prolonguem uma dolorosa agonia ou que, pelo menos, num certo quadro de previsibildiade, poder evita-la. Há quase vinte anos grupos de voluntários acompanham o cotidiano de pessoas portadoras de doenças crônicas ou de graves deficiências para ajuda-las a alcançar uma saída mais digna dessa vida onde suas vontades sejam respeitadas e a autonomia exercida. O nome desta associação é o título do documentário.
Embora essa questão seja muito polêmica, o documentário nos ajuda a diluir estereótipos que poderiam nos levar a perceber as pessoas que fazem parte dessa associação ou de outras que defendam a prática do suicídio assisitido como "frias", "insensíveis" ou de "afrontarem contra a dignidade da vida humana". Para mim é um excelente material que nos provoca a discutir sobre a qualidade de vida das pessoas no final de suas existências ou então a refazer o sentido que damos a expressão "dignidade da vida humana".
Isso nos leva a colocar algumas questões em discussão, por exemplo: não seria a busca do suicídio assisitido um dos efeitos da falta de autonomia dos pacientes diante da morte e do morrer, um grito de desespero contra a distanásia? Ou então, um fenômeno social mais restrito àqueles países e culturas que afirmam a supremacia das liberdades individuais frente as determinações coletivas? Afinal, de quem é a vida? Ela pode ser vista como um elemento correlato a uma propriedade individual que a torna portanto um bem que pode ser usufruído e disposto apenas pela minha vontade? Com a palavra o leitor!!
Abaixo vocês podem assistir ao documentário a partir de links do Youtube:
Por Rejane Guedes
Erasmo,
Você traz holofotes poderosos que evidenciam uma questão que está em nosso cotidiano, mas insistimos em ‘fazer de conta’ que não existe. A MORTE.
Mas não é ‘qualquer’ morte, e sim o TABU do SUICIDIO. Mais ainda: Do suicidio assistido. Um dos ‘interditos’ religio-políticos em nossa sociedade ocidental (cada vez mais global).
Com certeza há muitas opiniões interessantíssimas, mas estou impressionada com o silêncio por aqui…
Antes que me perguntem, eu já vou respondendo: Não sei como eu agiria enquanto ‘paciente’, nem como profissional de saúde que acompanharia o processo.
Quando meu pai foi reanimado após uma parada cardio-respiratória e a equipe o manteve pulsando (mecanicamente) por 14 dias numa UTI, aconteceram momentos nos quais eu pensei em desligar tudo e acabar com o sofrimento dele (e o nosso), mas em outros momentos, parecia que ele ‘queria’ continuar por aqui. Talvez sua consciência não estivesse ali, mas era como se ele continuasse vivo em mim mesma.
De um familiar ouvi: – Não se ILUDA! Ele não voltará!
Penso que, se o viver for ilusão, talvez a morte também o seja. Se adotamos a idéia de qualidade de vida, porque não adotarmos também a noção da qualidade de morte?
Meditarei mais sobre isso!!!!!
Saudações do alto de minhas ilusões. Rejane.