Nada é Imutável!
“Desconfiai do mais trivial, na aparência singelo. E examinai, sobretudo, o que parece habitual. Suplicamos expressamente: Não aceiteis o que é de hábito como coisa natural, pois em tempo de desordem sangrenta, de confusão organizada, de arbitrariedade consciente, de humanidade desumanizada, nada deve parecer natural, nada deve parecer impossível de mudar.” (Bertold Brecht).
Deixo aqui uma provocação. É possível pensarmos nessa assertiva de Brecht quando vemos várias instâncias de poder neste país hoje exercido por aqueles que no passado questionaram a ordem vigente?
Não estamos hoje diante de muitos que passaram suspeitamente a apregoar a estabilidade e a imutabilidade?
Não existe um silêncio ensurdecedor diante de unidades básicas de saúde que depois de oito anos, e agora mais três meses, ainda padecem da mais aguda falta de estrutura mínima para atendimento digno de trabalhadores e suas famílias que buscam, muitas vezes desesperados, a manutenção de suas vidas para que possam continuar a ser brutalmente explorados?
Como sentar em mesas de reuniões com pessoas que a partir de políticas públicas de EXCLUSÃO produzem dor, miséria e morte?
Enquanto a presidente busca mudar sua imagem mostrando ao pais que sabe cozinhar e que pode fazer uma síntese primorosa com a coleção Julia e Dostoievski; quando nos brinda com sua presença em baluartes das liberdades democráticas da estirpe de Hebe Camargo; mulheres continuam morrendo em salas de parto ou de abortos mau feitos!
Ora, ora. Não tenham tanta pressa. A presidente não pode fazer tudo de uma vez, afinal, ela não tem a popularidade de Lula. E o presidente Lula não podia fazer mais, até porque podia perder sua popularidade. É isso. Estamos nos quedando cada vez mais ao jogo cênico (ou seria cínico?) da lapidação midiática da imagem pública. O que importa é saber fazer o omelete nosso de cada dia escoltado por Unidades de Pronto Atendimento enquanto a dengue se alastra, a tuberculose reaparece em mistura e rima perversa com a escabiose e a esquistossomose!
Teremos trem bala…e a diarréia ainda mata!
Vamos fazer olimpiada e o povo feliz do Rio de Janeiro esta a mercê de uma rede de saúde que exclui e mata!
Não entenderam ainda? A crise do SUS é interesse dos grupos de medicina privada. Tornar o SUS viável é bater de frente com essa gente! Viabilizar o SUS significa livrar a classe média da mercantilziação do corpo e investir na vida de quem carrega este país nas costas: a classe trabalhadora que muita gente diz representar!
Ah que maravilha! Teremos Copa do Mundo. Estádios construídos ou reformados. Novos hospitais equipados para atender ingleses em coma alcoólica, tudo isso em cidades se afogando em esgoto sem tratamento onde os filhos da miséria são tratados de verminose e dermatites para no mês seguinte exigirem novamente a medicação paliativa das mazelas sociais.
Tem algo muito estranho acontecendo neste pais quando Paulo Pain é liberado pela CUT para votar o arrocho do salário mínimo enquanto ACM Neto dá vivas a luta dos trabalhadores em seu discurso e Marta Suplicy convive amistosamente com Sarney no Senado. É hora de tomada de decisões. Existe hoje uma preocupação muito grande com a imagem pública construida a base de laquê, estilistas de moda e receitas culinárias.
Companheiros de luta, acordem! Vocês tem o poder! Cabe agora desvelar que interesses dos grupos dominantes precisam ser contrariados para que as pessoas possam ter água tratada, esgoto e escolas nas cidades; esparadrapo e médicos nas unidades básicas e hospitais; terra e comida no campo! Com certeza, no curto prazo, ir nessa direção vai tornar muita gente "impopular", pelo menos aos olhos da Rede Globo e similares. Talvez a presidente então não seja mais convidada para ir a Ana Maria Braga conversar com o Loro José…que lástima para o país!
Por Rejane Guedes
Assumo minha incapacidade para comentar esse post, mas sinto que preciso dizer algo…
Esse algo não é uma ‘verdade’ , nem uma prescrição, nem uma certeza.
Cada vez que leio o texto sou inundada por tsunamis de suposições, de constatações, de inquietações, mas ainda não encontrei o fio da meada para articular a ‘voz’.
Vocês podem estar pensando: – Se não sabe o que dizer, porque está aqui ‘dizendo’ algo?
Ouso responder: Porque parece que o silêncio precisa ser incomodado com os ruidos que pensamos não existir ou não queremos ouvir.
Saudações barulhentas em meu deserto (aparentemente) silencioso. Rejane.