Repensando os Modelos Assistenciais no SUS
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Minha proposta de escrita parte de um método avaliativo desenvolvido na disciplina de Introdução à Psicologia da Saúde, pelo professor Douglas Casarotto, conhecido na Rede Humaniza. A partir da leitura da Cartilha da Política Nacional de Humanização (PNH) – Equipe de Referência e Apoio Matricial, me proponho a fazer algumas reflexões sobre o Sistema Público de Saúde e os modelos assistenciais.
Quando pensamos em SUS, a primeira coisa que vem à mente são as filas, a grande dificuldade em acessar os serviços e atendimentos totalmente desprovidos de cuidado com os usuários. Estas são realidades de um modelo assistencial individualista, descompromissado e descontextualizado. Isso é fato. Mas, como bem sabemos, é de uma crise que atentamos para a necessidade de mudança.
Aqui no Brasil, apesar de o sistema de saúde pública ainda não ser hegemônico, vivemos uma realidade política das mais avançadas no mundo com o Sistema Único de Saúde. Apesar de ser lento e deficiente, devemos reconhecer a magnitude do que temos em mãos e partir para melhorias. É aqui que entra a Política Nacional de Humanização (PNH) com a proposta de buscar novos modelos de atenção e gestão nas práticas em saúde, priorizando a valorização dos diferentes sujeitos implicados neste processo.
Os pressupostos básicos deste trabalho são o trabalho em equipe, a interdisciplinaridade e a contextualização do usuário. O objetivo é alcançar um modelo de atenção voltado para as necessidades de cada usuário que permita melhor acompanhar o processo saúde-doença. Com isso torna-se possível a construção de vínculos terapêuticos, compromisso e responsabilização das equipes para com o sujeito-usuário.
Para isto foram planejadas as equipes de referência e o apoio matricial. As primeiras são responsáveis pela atenção integral a todos os aspectos da saúde de um determinado número de sujeitos-usuários. O apoio se refere a profissionais próximos aos usuários que possam estar colaborando com o seu projeto de saúde. Estes dois aspectos constituem-se como ferramentas indispensáveis para a humanização da atenção e da gestão no Sistema Único de Saúde.
Já é de nosso conhecimento que as práticas nos serviços de saúde, baseadas num ideário individualista e determinista, se tornaram ultrapassadas e não surtem os efeitos mais benéficos. Os primeiros passos para a superação desta dificuldade estão sendo dados. Entretanto, um amontoado de ideias não é tão efetivo se não posto em prática. Realmente é muito difícil alterar paradigmas estabelecidos há algum tempo. Mas existem sim experiências positivas e concretas de modelos assistenciais nos serviços de saúde pública que são funcionais. São estas experiências que precisam ser multiplicadas. O grande desafio é fazer com que todos os profissionais da saúde reconheçam a necessidade e a importância de um olhar social e de trabalhar em rede com a unidade básica de saúde, com a comunidade assistida e com cada sujeito-usuário em especial.
Desafio maior ainda é fazer com que esta mesma rede seja não só curadora, mas produtora de cuidado. A atenção e o cuidado quando dedicados têm por si só grandioso poder de reviver nos sujeitos seus potenciais para a saúde. E, infelizmente, são os fatores do processo de produção da saúde mais desprezados pelos profissionais da área. Ao contrário do que se tem visto nos modelos de intervenção em saúde vigentes, os atos cuidadores deveriam ser encarados como a base segura para o planejamento das equipes de referência e do apoio matricial, pois a partir deles seria propiciado espaço para o conhecimento do sujeito em toda a sua amplitude, reconhecendo os seus recursos e as suas possibilidades de interação com a realidade contextual na qual está inserido.
Torna-se evidente a necessidade de um entendimento preliminar da dinâmica funcional do sujeito, daquilo que contorna seu sofrimento, para que seja elaborado um trabalho de intervenção terapêutica adequado, que considere as suas possibilidades de também se integrar ao processo de produção de saúde.
Apesar dos pesares, desafios existem para que sejam superados. Mesmo algo que pareça tão defeituoso pode ter qualidades. É aí que devemos focar, enfatizar os seus aspectos positivos, as suas partes funcionais e então trabalhar sobre os seus defeitos para intensificar e potencializar este “algo”, torná-lo um todo mais harmonioso e em sintonia com o espaço no qual está inserido. Assim podemos pensar tanto o SUS quanto os sujeitos-usuários do sistema.
Por patrinutri
Cara Morgani,
Permita me discordar de você quando ao iniciar seu texto apresenta um SUS que você classifica ao final como "defeituoso".
O SUS na sua formulação nada tem de defeituoso, o que me parece muitas vezes provocar problemas são modos de gestão que tomam como base a centralização do poder, a verticalização das ações, e a focalização nas doenças em detrimento da saúde e defesa da vida!
Encontramos nestes espaços equipes que não se constituem como espaços relacionais de encontro, mas amontoados de especialistas cada um fazendo a sua parte.
Quando os profissionais agem desta forma produzem pouca saúde para os usuários e com certeza sua próprio adoecimento.
A PNH convoca a todos a refletir sobre as potencialidades de uma gestão participativa, uma organização do trabalho mais coletiva e um fortalecimento dos vínculos entre trabalhadores, gestores e usuáruos.
Deste modo não é o SUS que é defeituoso, mas o que alguns fazem com o sistema.
Obrigada pela oportunidade de conversa… seguimos no diálogo!
Patrícia S C Silva
Blumenau SC