[Gasômetro…]
O ruído vário da rua
O ruído vário da rua
Passa alto por mim que sigo.
Vejo: cada coisa é sua.
Oiço: cada som é consigo.
[moradores de rua…]
Sou como a praia a que invade
Um mar que torna a descer.
Ah, nisto tudo a verdade
É só eu ter que morrer.
[condomínio…]
Depois de eu cessar, o ruído.
Não, não ajusto nada
Ao meu conceito perdido
Como uma flor na estrada.
(Fernando Pessoa)
Os consultórios de rua são uma proposta para o SUS, no entanto, há um certo ranço de especialismos aí… no sentido desses "profissionais" irem ao campo sem mudar a perspectiva "prescritiva"! Nisso, os RDs estão muito mais avançados, muitos já usaram drogas… usam, esporadicamente (gestão do uso), e se aproximam, vinculam com as pessoas que estão no uso abusivo, construindo caminhos menos impostos, com respeito e autonomia. Acho boa as duas ações, desde que primem pela singularidade das pessoas, de suas possibilidades e necessidades, que muitas vezes não estão nas drogas, mas no descompasso de relações afetivas, sociais, monetárias, de solidão… Caminhando no gasômetro, após o encontro, fotografei alguns moradores de rua, e lembrando do que discutimos ontem de manhã, sobre o SUS ainda não caber na rua, em acolher os moradores, as suas subjetividades… mesmo que já tenhamos políticas voltadas para as pessoas em situação de rua, há um movimento de "limpeza" das ruas (talvez, para a Copa?), privatização do espaço de rua??! O preconceito de acreditar que todo morador de rua usa drogas, comete delitos… movimento de homogeneização do viver, quantos modos há?!!
17 Comentários
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Por Luciane Régio
Estamos em POA, em um encontro de Redução de danos, em que muitas experiências estão sendo compartilhadas em 3 dias, muito intensos… O mundo fora do umbigo da "rede de serviços", abre um fora-desconhecido para muitos, que não conseguimos penetrar por vivermos cada qual no seu quadrado. Multiplicidade de formas de viver, muito preconceito, pouco entendimento para além dos livros-formação. Gente que gosta de gente, aceitar o outro como legítimo em sua diferença abissal, construir caminhos para produzir saúde, sem essa de pregação, prescrição de abstinência, olhar para o uso de drogas de cara limpa, não negá-lo, acolher em possibilidades, construir relações… Pensemos no acolhimento, no acesso, que os usuários de álcool e outras drogas têm nas unidades de saúde: periculosidade, especialismo, "terapia do au-au", não é aqui… o AD tem que resolver… o quê? CT… talvez. E a vida passa e não voltam os dias, os meses, os anos. As redes intersetoriais nos discursos parecem coisa de outro mundo, vamos abrir essa palavra, explorar a multidão!!!!! Droga, crack, onde ele está? Na rua ou na casa do patrão? É polícia, máfia, proibição, quem se importa — vamos eliminá-los da cidades? Habitar a polis, disputar esse sentido, acesso e acolhimento, vínculo e autonomia, direitos humanos e singularidade (PTS)…
Por Cláudia Matthes
a performances não ensinadas em universidades, não dimensionadas nos conselhos, e, não aceitas por politicas (micro-polis) em apoiar a ação dos profissionais de saúde em humanizar as práticas de atenção e gestão dos serviços de saúde.
Me vejo muitas vezes encarceirada em cumprir rotinas que nada me aproximam da realidade que dobra a esquina.
Com carinho
Um pouco
Cláudia Peju
um pouco
Pejuina
Por Cláudia Matthes
e agora José, José para onde?
Por Luciane Régio
Redes de serviços – portas abertas, muito mais as "portas" de acesso, acolhimento, de se colocar disponível ao outro na sua diferença…, redes de afeto – vínculo, confiança, cumplicidade, pra fora das redes — comunidade, rua, o desconhecido/temido/julgado… encontro… redes que se produzem nesse caminhar da pessoa que está na rua, da pessoa que usa drogas que está na rua, daqueles que não vivem na rua… aprender a reinventar nosso trabalho, nossas redes e acolher… Já as portas da boca estão sempre abertas…
Por Shirley Monteiro
nem há o que comentar …
mas é preciso divulga-lo ! Vou fazer isso certo querida amiga !? … Conversamos.
Bjos,
Shirley Monteiro
Por Luciane Régio
Divulgar, conversar, produzir um sentido outro… a SM estará encarcerada, se pregarmos abstinência, controle/limitação das pessoas com transtornos mentais — que rede queremos?!!!! Criminalização das pessoas que estão em situação de rua… Precisamos parar e pensar no que estamos produzindo, lembrando que a cada encontro com as pessoas, as possibilidades se manifestam…
Bj, Lu
Por Shirley Monteiro
Lu,
voltei porque estou capturada pela emoção deste Post, e outro que se complementa com o teu. Ambos são toques sutís para reflexão que todo profissional de saúde deveria fazer, para a qualificação da Vida em suas mais variadas condições, para a sensibilidade da sutileza do que realmente importa à integralidade da Vida, em momentos únicos.
Veja aqui: https://redehumanizasus.net/12145-uma-conduta-humanizada
Um beijo !
Shirley
Por Luciane Régio
Quero também voltar lá, e em muitos posts que nos contagiam… também escrever mais! Pra ti sentir, estou sentada no meio, entre-meio, vi fotos lindas (daquelas que são envelhecidas) e o cara me olhando no olho dizendo, que era no tempo só do pó… ainda não era pedra. Corpo "ao" corpo, as palavras abrindo os caminhos, intercessoras… Ontem o pessoal foi numa escola de samba à noite (eu fiquei para aproveitar esse fluxo, deixar vazar, ler alguma coisa, ver a rhs), depois eles passaram em alguns locais na madruga… Contrapondo com o que apareceu nos grupos há pouco, nesta manhã, poucos se deram conta do fluxo pretencioso, engessado, onipotente das redes… que arte está no encontro com as pessoas, será que a ficha cai? Volto depois, que está ficando quente…
Bjs!
Lu
LU,sai do encontro com muitas reflexões, o quanto ainda as pessoas nós profissionais estamos dentro do modelo prescritivo, sentimos dificuldades nas discussões de caso. Conhecer de perto e conviver por 03 dias maravilhosos com os profissionais RD foram experiencia dificil de discrever. As culturas ,o outro olhar, os diferentes, saindo da formacão academica foi contagiante.
Término do encontro fui até a Saraiva comprar um livro aguardando horário de voltar veio as minhas mãos o futuro da humanidade estou devorando, e vem complementar o encontro.
um beijão e já com saudades
Por Luciane Régio
Peguei o material, e vi que tu estavas completamente entorpecida pelo encontro, que foi demais. Impossível das palavras darem conta, oportunidade de estar junto com os RDs e usuários que estão formando seu estatuto! — "das pessoas que usam drogas" — precisamos avançar para "com-preender"… deixar de lado a onipotência, de ditar o que é melhor para os outros e compartilhar, para estar junto "com", disponibilizar esses tais saberes "em saúde" para que ele seja de uso… produzindo outros! Não há fórmula, protocolo, norma que chegue, que possa abarcar o humano, que é produtor de saúde, produtor de si e está no mundo…
Que ótimo te ver,
Bjs, Lu
Oi, Lu!
Teu post nos afeta. Belas imagens, poesias, palavras que chegam da rua.
"O SUS não cabe nas ruas", mas você "estica" a RHS até as ruas.
Beijos,
Jacque
Por Luciane Régio
Nas ruas de POA, Natal, Santa Maria… vamos?! Respirar a rua na rhs:) Bjs!
Lu
Oi Luciane, me lembrei deste poema sobre o morador de rua, e compartilho aqui.
Bjs!!!
Poesia: Morador de Rua
Por Regina Azenha
É apenas mais um ser
que já teve de tudo, um dia
mas que por ironia desta vida
viu seu sonho se perder
…
Ele segue em busca
do seu próprio destino
Anda por longas estradas
e logo chega o cansaço…
Pára..
O olhar vazio
vagueia no infinito…
É apenas um homem
que deseja encontrar uma luz…
uma saída…
Mas, por mais que tente
só encontra sombras do passado
ao longo do caminho…
Faz da rua, o seu mundo
o seu teto… seu sustento…
tomara um dia
ele possa acreditar em sonhos
novamente…
Por Luciane Régio
Ter um této de estrelas* …………………….
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Duvido que os sonhos não venham!!!!!
Bjs,
Lu
Minha querida Lu,
O teu post acabou logo e fiquei com aquele desejo de mais! Começou com a delicadeza das observações e a ética de uma posição que não se deixa capturar pelas prescrições dos especialistas, mas acaba muito rapidamente…Quero mais…
Iza
Por Luciane Régio
O post não acaba, está aberto nas multiplas leituras que se farão… mesmo que não venham para a conversa, cada um deve estar sentindo algo, e é nesse algo que aposto está a produção mais rica, subjetiva e livreee… né!!!
Eu também quero mais,
e já nasce mais conexões……. desse nosso encontro.
Que maravilha!
Bjs, mas é claro que vamos assuntar nesse e "noutros",
Lu
Por Cláudia Matthes
??????