A parteira hippie e a Pedagogia da Intensidade
A primeira vez que eu vi o livro “spiritual midwife” de Ina May Gaskin, fiquei bem surpreso. O livro é um manual de parto e me lembrou o "resendinho". Estudantes medicina e enfermagem costumam usar. E ambos os livros têm muitos desenhos anatômicos e sobre a progressão do bebê em diversas situações, assim como respectivas condutas. Entre muitas diferenças, “spiritual midwife” foi escrito por uma Hippie (eu ia dizer ex-hippie, mas na verdade ela é uma hiper-hippie, uma hippie radical), enquanto o pobre “resendinho” foi escrito pelo respeitável Dr. Montenegro Resende Filho (que eu não conheço, mas irremediavelmente me lembra um personagem do Marco Nanini em uma “novela das sete”- felizmente não lembro o nome, mas assisti sim, fazer o que?). Mas o que é realmente impactante é a “Pedagogia” do livro da “midwife” (um bonito nome de para parteira). Ao contrário de todos os livros de medicina, metade do livro de Ina, justamente a metade inicial, é composta de relatos em primeira pessoa, escritos pelas próprias mulheres. Este relatos, apesar do livro estar em inglês, são muito fortes. È como se dissesse: quer aprender sobre o parto, primeiro aprenda sobre as pessoas. E não que sejam somente os casos ditos de risco habitual, ou seja, sem outros problemas associados à gestação. Ao contrário. Muitos casos difíceis, com problemas e complicações, mas todas histórias fantásticas. Este arranjo pedagógico para mim é inesquecível. Desde então me ocorre que o ensino médico, de enfermagem, de fisioterapia, de nutrição… deviam todos ser assim: cada abordagem teórica precedida de uma história, de um poema, de relatos da intensidade dos encontros entre as pessoas e aquilo que no momento se consolidou em um tema profissional, um diagnóstico, uma terapêutica ocasionalemente focalizada em uma escola. Primeiro a vida, a intensidade da experiência, depois a técnica. A autora manteve esta centralidade de relatos no seu site. Entre muitos, tem um relato em português (https://www.inamay.com/?page_id=232) de uma brasileira que fez o parto ou com ela, ou com algumas de suas colegas. Mais interessante ainda é que neste relato tem uma referência à dança do ventre durante o trabalho de parto. Só para saber o quanto sabemos pouco da poesia do parto segue um link do vídeo https://www.rituaismaternos.com/danca-do-ventre-durante-o-trabalho-de-parto/ , e vários vídeos
https://www.rituaismaternos.com/category/danca-do-ventre-para-o-parto/
Por jacqueline abrantes gadelha
Caro Gustavo,
O post já inicia provocando: "parteira hippie e a pedagogia da intensidade." O termo hippie já me convoca a pensar sobre nomadismo, desacomodação, energia mobilizadora, movimento! Sugere algo de contestação das práticas "convencionais", um certo desapego aos lugares fixos e por que não dizer, "saídas" para a celebração da vida?
"Primeiro a vida, a intensidade da experiência, depois a técnica." Isso é fantástico! Permitir que as narrativas, substâncias vivas, provoquem sentidos múltiplos para a produção de trabalho vivo.
Amigos da RHS, não deixem de conferir os links!
Grande abraço e obrigada por compartilhar,
Jacque