Pegadas na Areia

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Apresentação
Trata-se de um projeto de intervenção sobre higiene pessoal e tungíase, realizada na escola Municipal Francisco Genival da Silva em 09/05/2012, desenvolvido pelos doutorandos do nono período de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN): Marcela Mara Eufrásio de Azevedo, Ranna Athena Pereira de Brito e Wendell Ricardo de M. A Fernandes, sob tutoria da Profª. Vyna Maria Leite, e preceptoria de Dra. Leandra F. de Oliveira e Enfa. Isabelle Silva de Albuquerque, na UBS de Vilar, Macaíba-RN, na grande Natal.

Introdução
A Tunga penetrans, tradicionalmente conhecida como bicho de pé, é talvez a causa da doença mais ligada à cultura popular. Contudo, a inocente imagem do homem rural sentado no alpendre de sua casa coçando o dedo do pé não denota os riscos envolvidos neste simples ato.
A tungíase é uma ectoparasitose autolimitada causada pela penetração da fêmea da T. penetrans na epiderme do hospedeiro, tendo duração de quatro a seis semanas. Entretanto, em regiões endêmicas, é comum a reinfestação, podendo os indivíduos apresentar dezenas de parasitos em diferentes estágios de desenvolvimento.
Em áreas rurais e com baixos indicadores de desenvolvimento humano, más condições de higiene são comuns e a remoção do parasito não segue uma técnica asséptica, sendo utilizado para tal prática qualquer instrumento perfurante tais como agulhas, alfinetes, alicates, espinhos e galhos de árvore. Nessas circunstâncias, a evolução com infecção secundária de pele e tecidos moles, amputações, tétano ou até mesmo óbito, torna-se regra, gerando mais morbidade, internamentos e custos para a saúde pública.
Assim, a prevenção da tungíase, através da redução de animais vadios, conscientização da importância do uso de calçados e higienização dos pés deve ser estimulada. De forma equivalente, a remoção inadequada deve ser repudiada e desestimulada pelos educadores e profissionais da saúde, fornecendo-se material para o procedimento adequado e apresentando à população a técnica e sua importância.

Justificativa
A necessidade da intervenção surge da elevada incidência de tungíase na população da área adstrita da USF de Vilar em Macaíba-RN, ocorrendo identificação de casos no ambulatório com múltiplas lesões e/ou infecção secundária por manipulação com material inadequado.
Assim, inseridos no contexto sócio-cultural dos usuários, pôde-se perceber a necessidade de melhorias das práticas de higiene pessoal e, mais especificamente, dos pés, uma vez que grande parte das crianças andam sem calçados frequentemente.
Por fim, a tungíase é ainda uma doença negligenciada, e que, apesar de ser auto-limitada, sua remoção com materiais contaminados, como espinho ou agulha, pode levar a infecção secundária, tétano e até mesmo óbito, aumentado o número de internamentos e custos para a saúde pública.

Objetivos Gerais
O objetivo geral do projeto é o de conscientizar a população acerca das complicações da retirada inadequada da tungíase; orientando quanto a importância da higiene pessoal e da imunização com foco na prevenção do tétano.

Objetivos específicos
Realizar a remoção correta da Tunga penetrans em todos os usuários que procurarem a USF, capacitando-os para retiradas futuras; Capacitar multiplicadores como pais, professores e profissionais da USF; Reduzir o número de complicações secundárias à retirada da tungíase; e Produzir dados estatísticos relativos à tungíase.

Metodologia

Os doutorandos foram previamente capacitados para a retirada adequada, através de literatura especializada, vídeos com a técnica adequada de remoção da T. penetrans e discussão com médicos dermatologistas.
A ação foi divulgada na sala de espera da UBS e nas salas de aula da escola em três dias consecutivos nos turnos matutino e vespertino. Ademais foi realizada busca ativa dos casos previamente atendidos em ambulatório para divulgação do projeto.
Foi viabilizada a retirada adequada do parasita na UBS podendo ser prescrito antibióticoterapia ou vacinação anti-tetânica quando necessário.
Foram confeccionados materiais educativos sobre “cuidados com pé” e distribuídos durante exposição dialogada com professores e pais de alunos da Escola Municipal. Após a atividade foram aplicados questionários relativos a tungíase com familiares dos alunos e professores, somando um total de 18 familiares e 6 professores entrevistados. Os dados foram tabulados em planilha do Excel e analisado com subsequente produção de gráficos.
No mesmo dia, foram desenvolvidas atividades lúdicas com exposição de vídeo educativo sobre higiene pessoal para alunos de 5 a 10 anos. Após a atividade foram solicitadas às crianças que desenhassem o que haviam aprendido.

Resultados e Discussão
O projeto Pegadas na Areia mostrou-se uma prática humanescente por proporcionar maior contato com a população, utilizando o diálogo como forma de educação em saúde. Além de proporcionar à população momentos de maior contato com a equipe de saúde local, fazendo com que a mesma retire dúvidas/mitos sobre algumas condutas, como o desconhecimento e a retirada do “bicho de pé” com o espinho de laranjeira. Prática essa bem comum na comunidade do Loteamento Esperança.
O primeiro momento ocorreu com uma exposição dialogada com alunos e pais no pátio da escola. Na roda conversamos sobre a importância da retirada adequada da tungíase, alertando sempre para uma de suas possíveis complicações: o tétano; e a maneira de prevenção do mesmo, enfocando a vacinação. Através de questionários padronizados, foram entrevistadas 24 pessoas, sendo 18 familiares dos alunos e 6 professores. Nenhum estava acometido no momento com tungíase, porém, todos os familiares de alunos entrevistados já tiveram infestação prévia. Dos professores, dois (33,3%) nunca contraíram tungíase. Quanto ao material utilizado para a remoção do parasita, 16 relataram uso de agulha contaminada, 6 utilizaram espinho, 5 material estéril e 3 usaram espinho e agulha contaminada. Investigada a evolução com infecção secundária após a retirada, 24% dos pacientes que realizaram a remoção apresentaram infecção secundária e, quando excluídos aqueles que relataram remoção com material estéril, esta parcela subiu para 42%.
Em um segundo momento, realizou-se uma breve dinâmica com as crianças. Primeiramente, apresentando um vídeo sobre higiene corporal, o qual mostrava a importância de uma boa higienização, uma boa alimentação e prática de atividades físicas para uma vida saudável. Seguiu-se com atividade lúdica, abordando os cuidados com os pés. Através da utilização de um personagem ilustrativo, o Zé Pezinho, as crianças envolveram-se em problemas que permeiam a temática da tungíase, da retirada da T. penetrans e de suas complicações; as crianças interagiram bastante e mostraram que estavam conscientes das informações trabalhadas. Finalizando o momento, solicitamos que as crianças expressassem, através de desenhos, o que haviam aprendido a respeito do tema. Vários desenhos foram confeccionados, alguns coloridos, outros, preto e branco. Mas todos, de alguma maneira, retratavam a higienização dos pés com um “pé alegre” (limpo) incentivando o “pé triste” (sujo) a se cuidar.
Ao final do dia, todos jogavam futebol, mas dessa vez, calçados. O primeiro passo já foi dado. Muitas pegadas ainda serão deixadas.