Festim Cronológico: andanças desejosas e a arte doidejante de fomentar vidas
O Curso de Psicologia da FHO|UNIARARAS tem realizado desde sua implementação em 1999 eventos que visam à reflexão da Psicologia como ciência e profissão, além da utilização de seus conhecimentos em prol da sociedade. Esses eventos são destinados ao corpo discente, à comunidade acadêmica e à população em geral, constituindo-se em uma tradição do Curso de Psicologia da FHO|UNIARARAS, alcançando uma projeção considerável na nossa cidade e região.
Narrar uma história não é uma tarefa das mais simples. É usual que nosso relato sobre algo aconteça conforme a demarcação primeiramente de pontos iniciais, avançando, em seguida, por fatos que mediariam essa trajetória e, por fim, chegar-se-ia aos desdobramentos finais do presente. Ou seja, a história corresponderia a uma trajetória inteligível, demarcada por um início, meio e fim, dimensões correlacionadas e compostas pelo determinismo dos acontecimentos humanos ai produzidos.
No entanto, entendemos que a (re)construção de um passado ou de uma história, não contempla apenas o relato dos pontos cruciais, dos episódios e cenas nas quais aqueles que os experimentaram descrevem como fatos. Embora tratar-se de uma narração coesa, inteligível, descritiva e formal, fruto da potência humana em abstrair da realidade aquilo que lhe traz sentidos, entendemos também que a narração de uma história traz como potência a possibilidade de atribuirmos novos significados ao presente e recapturarmos do passado aquilo que ainda produz marcas em nosso corpo. Nessa perspectiva, o passado só terá sentido enquanto “provocar” naqueles que o experimentaram a procura constante de novas realidades e, ao mesmo tempo, refazer esse mesmo decorrido sob outras sintonias presentes.
Embora acreditemos que o passado esteja consolidado e firmado naquilo que se foi, o presente é o momento no qual materializamos e reatualizamos sensações e afetos que ainda estão porvir. Por paradoxal que seja, é o presente que dispara, assim, novas configurações daquilo que se foi, possibilitando outros ordenamentos da vida diante dos desejos, emoções e sonhos ainda não sonhados. É o presente, então, que oferecerá ensejo à novas potências de vida, novas descobertas, novos sonhos e, por fim, “reconstruir o passado enquanto ele está vivo no agora, enquanto ele está atuante e pode determinar ou já está determinando o futuro” (Baremblitt, 1992).
É nesse sentido que estamos comemorando os 10 anos do Evento da Luta Antimanicomial, realizado pelo Curso de Psicologia do Centro Universitário Dr. Hermínio Ometto – UNIARARAS. Neste ano, promoveremos o evento “Festim cronológico: Andanças desejosas e a arte doidejante de fomentar vidas” – 10º ano de Comemoração à Semana de Luta Antimanicomial do Curso de Psicologia – FHO|UNIARARAS, nos dias 29 e 30 de Maio de 2012, na perspectiva de consolidar a demarcação de histórias, cenas, atores e parceiros na construção paulatina (e desafiadora) de um projeto ético e civilizatório que incide na produção constante da Reforma Psiquiátrica brasileira.
Há uma década estamos compondo histórias. Propusemos o diálogo com profissionais, usuários de serviços de saúde mental, gestores, docentes de universidades, alunos, militantes, sociedade civil, serviços de saúde e Conselho Regional de Psicologia (CRP). Materializamos, em 10 anos de Evento de Luta Manicomial, canais de diálogos políticos para as questões que se referem às práticas de cuidado no campo da saúde mental do município de Araras – SP, bem como outras cidades da região.
Nessa trajetória, buscamos e descobrimos parceiros, construímos laços, produzimos novos atores para o campo da saúde mental e nos deparamos também com uma série de desafios, enfretamentos “naturais” que estão nas bases da insígnia “Por uma sociedade sem manicômios”; paradigma norteador das atuais políticas públicas de saúde mental no Brasil.
Por Maria Luiza Carrilho Sardenberg
Que alegria te ver agora escrevendo por aqui. Pois sei que já nos acompanha há muito tempo.
Que este "Festim" seja tão belo e potente como o filme que inspira o nome.
abraSUS,
Iza Sardenberg