Direito a escolha do local do parto

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Neste domingo dia 16 de junho de 2012 eu, minha esposa e meu filho nascido em casa nos juntamos a mulheres, crianças e homens que foram às ruas de diversas cidades do Brasil para protestar pelo direito a escolha do lugar de parto, bandeira de um movimento emergente que traz uma nova perspectiva para o problema do parto e nascimento no Brasil. A matéria veiculada pelo fantástico no domingo dia 10 de junho sobre o vídeo que bombou na internet em rede mundial trouxe a tona o temo do parto e nascimento no Brasil. A matéria mostrou partes do vídeo de Sabrina Ferigato, sanitarista e TO que decidiu compartilhar na rede o nascimento do seu filho Lucas em casa, acompanhada do marido, da doula e da parteira; mostrou também falas da doula Lara Gordon, da obstetriz Ana Cristina Duarte e do médico obstetra Jorge Kuhn (médico, professor e coordenador do Departamento de Obstetrícia da UNIFESP), que se pronunciaram a favor do parto domiciliar. https://fantastico.globo.com/Jornalismo/FANT/0,,MUL1680907-15605,00.html.  No dia seguinte, o CREMERJ denunciou o médico ao CREMESP por este ter se pronunciado favorável ao parto domiciliar em rede nacional, alegando que o posicionamento de Jorge Kuhn foi anti-ético. Foi o estopim para eclodir um afeto de indignação de milhares de mulheres brasileiras!
 

O parto entendido como um evento natural e não-médico recoloca o problema da centralidade do saber médico e seus efeitos para a saúde. O feitiço virou contra o feiticeiro: pois ao censurar o parto domiciliar os Conselhos de Medicina tem a obrigação de explicitar, com base em pesquisas científicas, não só o motivo desta retaliação autoritária, mas também os motivos que fazem do Brasil campeão mundial em cirurgia cesariana. Os Conselhos de Medicina tem a obrigação com a sociedade brasileira de explicitar que ética desautoriza o parto domiciliar e autoriza intervenção desnecessária em milhões de mulheres brasileiras. Que evidências científicas justificam a transformação de um momento natural em um procedimento cirúrgico a contrapelo ao que indica a Organização Mundial da Saúde e diversos países desenvolvidos do mundo. Segue abaixo parte do texto veiculado nas redes sociais para mobilização da Marcha do Parto em Casa:
 

O estudo mais recente publicado no British Journal of Obstetrics and Gynecology (2009) analisou a morbimortalidade perinatal em uma impressionante coorte de 529.688 partos domiciliares ou hospitalares planejados em gestantes de baixo-risco: Perinatal mortality and morbidity in a nationwide cohort of 529,688 low-risk planned home and hospital births. [https://www3.interscience.wiley.com/journal/122323202/abstract?CRETRY=1&SRETRY=0]. Nesse estudo, mais de 300.000 mulheres planejaram dar à luz em casa enquanto pouco mais de 160.000 tinham a intenção de dar à luz em hospital. Não houve diferenças significativas entre partos domiciliares e hospitalares planejados em relação ao risco de morte intraparto (0,69% VS. 1,37%), morte neonatal precoce (0,78% vs. 1,27% e admissão em unidade de cuidados intensivos (0,86% VS. 1,16%). O estudo concluiu que um parto domiciliar planejado não aumenta os riscos de mortalidade perinatal e morbidade perinatal grave entre mulheres de baixo-risco, desde que o sistema de saúde facilite esta opção através da disponibilidade de parteiras treinadas e um bom sistema de referência e transporte.
 

O parto realizado em casa desloca o saber médico e o Hospital (ou Maternidade) do lugar de centralidade para um lugar de retaguarda. Isso passa a ser insuportável para os interesses corporativos! A cesariana representa um avanço da medicina na medida em que salvam vidas em casos específicos. Entretanto, quando este procedimento passa a ser realizado de forma indiscriminada é a própria medicina que abdica de seu avanço em nome de reserva de mercado, corporativismo e concentração de poder. As políticas do medo, da impotência e da violência institucional passam a ganhar proporções avassaladoras. Milhares de mulheres passam a ser levadas a agendar o dia do parto, através da realização de uma cirurgia de médio porte (cesária) sob as mais variadas alegações: de que não aguentarão a dor do parto, de que o bebê está com circular de cordão, de que o bebê é muito grande ou a placenta está velha, que a mãe de mais de 35 anos não tem condições de parir seu filho, ou que é muito perigoso ter um parto natural, entre outras. A mobilização de milhares de pessoas em torno do direito a escolha do local do parto ultrapassa a questão da escolha pelo parto domiciliar na medida em que atenta para as intervenções desnecessárias que os Conselhos de Medicina buscam ocultar. Mas agora são estes Conselhos que nos devem explicações. Vivemos um importante momento em que agenda do parto e nascimento se torna prioridade no SUS. Caberá a nós darmos o tom de movimento social para que outras forças instituintes possam compor a construção de políticas públicas como é o caso da Rede Cegonha. É nosso compromisso não deixar que este seja mais um programa gerencialista e governamental e sim um dispositivo de mobilização e debate público de modo a fazer avançar o sentido de democracia e saúde no Brasil!
 

Link do vídeo parto em casa da Sabrina Ferigato: (https://www.youtube.com/watch?v=qiof5vYkPws&oref=http%3A%2F%2Fwww.youtube.com%2Fresults%3Fsearch_query%3Dsabrina%2Bferigato%26oq%3Dsabrina%2Bferigato%26aq%3Df%26aqi%3D%26aql%3D%26gs_l%3Dyoutube.3…631.6929.0.7671.16.14.0.2.2.1.367.2219.5j4j3j2.14.0…0.0.TkEfn2mobwM&has_verified=1)