CUIDAR DE CORAÇÃO

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Apresentação

Entendendo como ação fundamental a prevenção de doenças cardiovasculares, foi elaborado este projeto de intervenção pelos doutorandos Luiz Fagner de Paiva Silva e Pedro Henrique Dantas Silva do curso de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), durante o Internato em Saúde Coletiva na USF Alto do Ferreiro Torto, zona rural do Município de Macaíba/RN, na grande Natal. O estágio ocorreu sob a preceptoria da Enfermeira Ivana Patrícia Leite Vilar, do Médico Francisco de Vasconcelos Silva e tutoria da Professora Ana Tânia Lopes Sampaio com a colaboração das Professoras Vilani Medeiros de Araújo Nunes e Vyna Maria Cruz Leite.

 

Introdução

As doenças cardiovasculares tem um impacto expressivo sobre a mortalidade da população brasileira, representando hoje a principal causa de óbitos, além de promover elevados custos para os sistemas de saúde e da previdência social devido à mortalidade e invalidez precoces e, sobretudo, para a sociedade, famílias e pessoas portadoras dessas doenças. Compreendem um espectro amplo de síndromes clínicas, manifestas por doença arterial coronariana, doença cerebrovascular, de vasos periféricos e doença renal crônica. Uma grande parcela desses agravos pode ser atribuída ao controle inadequado (como o não uso ou uso incorreto das medicações) e aos fatores de risco associados ao seu desenvolvimento (como tabagismo, sedentarismo e maus hábitos alimentares). Dos fatores controláveis, a HAS e DM são críticos do ponto de vista de saúde pública para a incidência de eventos cardiovasculares, expressando a importância da adoção de estratégias de atenção integral visando à prevenção do aparecimento de HAS e DM e de suas complicações. A intensidade das ações preventivas deve ser determinada pelo grau de risco cardiovascular estimado para cada indivíduo, com base no Escore de Framingham.

Justificativa

Na área adstrita da USF Alto do Ferreiro Torto existe uma alta prevalência de hipertensão arterial, representando a maior parte da demanda de atendimentos. Além disso, houve no município de Macaíba uma alta incidência de acidente vascular encefálico e infarto nos anos de 2010-2011, atingindo, inclusive, uma incidência na zona rural 50% maior em relação à zona urbana.

A alta taxa de pessoas que não sabem ler e escrever, chegando a 56% no grupo com 60 anos ou mais, tem um impacto negativo sobre a eficácia da terapia medicamentosa. O usuário que não sabe ler o receituário médico e faz uso de polifarmácia, muitas vezes toma os medicamentos incorretamente e em horários irregulares inviabilizando o controle adequado da HAS e/ou DM.

A unidade dispõe de um grupo de caminhadas para os usuários, mas ainda não desenvolvia intervenções educativas de promoção à saúde e prevenção de doenças com esse grupo. A carência de equipamentos sociais para a prática de atividade física no bairro, além da falta de segurança pública e de pavimentação nas ruas, gerou a necessidade de transportar o grupo para a Praça Paulo de Holanda Paz, no centro de Macaíba, onde existe um amplo calçadão e uma academia da melhor idade.

 

 

Objetivos

Implantar ações para a prevenção primária e secundária das doenças cardiovasculares, bem como para promoção e recuperação da saúde na área adscrita da equipe saúde da família, realizando um cuidado integral dessas doenças, além de sistematizar as condutas atualmente recomendadas com base em evidências científicas para a identificação e manejo de indivíduos sem doença manifesta e em risco de desenvolver doenças cardíacas ateroscleróticas, cerebrovasculares e renais.

Metodologia

O projeto de intervenção foi executado no período de 15 a 22 de junho de 2012. Foi implantada uma Ficha de Acompanhamento do Hipertenso e/ou Diabético a ser utilizada a cada consulta na unidade e que contempla a identificação do paciente, seu diagnóstico, fatores de risco, complicações prévias, dados antropométricos, pressão arterial, glicemia capilar, exames complementares, estratificação de risco global pelo Escore de Framingham e tratamento medicamentoso. Para o cálculo do Escore de Framingham, inicialmente são coletadas informações sobre idade, LDL-C, HDL-C, pressão arterial, diabetes e tabagismo. A partir da soma dos pontos de cada fator é estimado o risco cardiovascular em 10 anos. Em termos práticos, costuma-se classificar os indivíduos em três níveis de risco – baixo, moderado e alto – para o desenvolvimento de eventos cardiovasculares maiores.

 

 

A dificuldade de adesão ao tratamento medicamentoso pelos pacientes foi abordada por meio da criação dos “Adesivos Humanescentes”, com desenhos lúdicos, representando a manhã, a tarde ou a noite. Os adesivos são fixados no blister do medicamento conforme o horário de administração, facilitando a compreensão da posologia pelo paciente não alfabetizado ou que apresenta dificuldade para assimilar todos os horários dos seus medicamentos.

 

 

Foi programada a realização da “Roda de Conversa Itinerante” durante o translado do grupo de caminhada em uma Van, duas vezes por semana, da unidade até a Praça Paulo de Holanda Paz, para a discussão de temas relacionados à promoção à saúde como alimentação adequada, atividade física e cessação do tabagismo.

 


 

Resultados e Discussão

O uso da Ficha de Acompanhamento do Hipertenso e/ou Diabético, anexada ao prontuário do paciente, mostrou-se muito útil para manter a organização do seguimento das consultas, além de guiar para a conduta mais adequada de acordo com a estratificação de risco global pelo modelo de Framingham, sendo bem aceita pelo médico e pela enfermeira.

Os Adesivos Humanescentes foram aplicados nos blisters no momento da dispensação do medicamento na farmácia para os pacientes que necessitavam desta intervenção. A equipe foi orientada para o uso dos Adesivos e aceitou incorporá-los à rotina da unidade, avaliando como uma medida de baixo custo e muito eficaz, no sentido de facilitar o uso correto dos medicamentos pelo paciente.

A Roda de Conversa Itinerante foi realizada durante o translado até a Praça Paulo de Holanda Paz, abordando inicialmente o tema tabagismo. Na ida, dialogamos sobre os riscos do tabaco e os participantes da roda que já foram tabagistas expuseram suas experiências de como pararam de fumar, encorajando as pessoas que ainda fumavam a pararem. Na Praça, foram feitos alongamento, caminhada e finalizamos com a prática de exercícios na academia da melhor idade. Na volta, discutimos curiosidades sobre os benefícios e malefícios da ingestão alcoólica dependente da dose diária e sobre hábitos alimentares saudáveis. A Roda de Conversa Itinerante mostrou-se um excelente método para a educação em saúde, proporcionando um momento de interação entre o grupo de caminhada e de estímulo às mudanças no estilo de vida como forma de promoção à saúde e prevenção contra doenças cardiovasculares. Esta continuará a ser realizada duas vezes por semana pela equipe da USF juntamente com os usuários.

 

 

No último dia das ações, foi oferecido um café da manhã humanescente com frutas variadas para os pacientes na sala de espera da unidade, como forma de incentivo a uma alimentação saudável, além de uma exposição dialogada sobre as ações do projeto desenvolvidas durante a semana.

 

 

Desejamos que a semente plantada durante as sete semanas de vivência nesta USF possa germinar e dar frutos.

A continuidade dessas ações de forma sistemática será capaz de transformar a realidade em saúde desta população, promovendo um cuidado integral, humanescente e DE CORAÇÃO.

 

Referências

1. Ministério da Saúde. Prevenção Clínica de Doença Cardiovascular, Cerebrovascular e Renal Crônica. Cadernos de Atenção Básica – n°14. Brasília-DF, 2006.

2. Souza DMM. A Prática Diária na Estratégia Saúde da Família. Editora UFJF. Juiz de Fora, 2011.