Desnaturalizar o social: Fumar maconha pode, Arnaldo?
Olá pessoal! depois de alguns meses sem postar, resolvi compartilhar com vocês um trabalho que fiz para a disciplina de Psicologia Social II. Espero as contribuições de vocês. Abraços
Desnaturalizar o social: Fumar maconha pode, Arnaldo?
Em outubro de 2011, foco de todas as atenções se voltaram para a USP, onde 2 estudantes foram presos por estarem fumado maconha no patio da instituição, esse foi o assunto mais falado entre os meses de outubro a dezembro, mês onde foi publicado este texto na revista super interessante, “Fumar maconha pode, Arnaldo?”, no Brasil desde 2006 para usuário de drogas não há pena de prisão, logo surge a duvida então porque prenderam os estudantes?
Em meio a um assunto tão polêmico, com muitas críticas, e poucas soluções, eis que surge mais uma polêmica dentro desse grande enredo que norteia a maconha, seu uso e sua legalização no Brasil, até onde pode-se tratar como crime o que tem como penalidade uma advertência?!
Este que é um dos maiores, se não o maior problema, enfrentado pelos brasileiros nos últimos tempos, é um problema social naturalizado, tratado por ninguém, sim, porque em um país onde nem mesmo as leis são claras, quem irá “meter a cara” e esclarecer o que é certo e errado? Já que nem mesmo os que deveriam esclarecer sabem por onde começar.
Políticos que são quem ditam as leis no Brasil, vivem há esbarrar em questões ditas como “éticas”, que na verdade não passam de um medo de perder votos, para a sociedade, esse é um assunto de temor, já que drogas é um assunto tão banalizado nos últimos tempos, e ao que diz respeito a polícia, estes sabem que prender, não é uma boa opção pela super lotação dos presídio e cadeias, mas que por vezes se beneficiam disso para “mostrar serviço”, há também os gastos que são muitos altos e aumentariam ainda mais, no caso de prender cada usuário de maconha ou qualquer outra droga, quando pego uma.
Mas há também quem se beneficie de todo esse enredo tão confuso, enquanto os políticos não criam politicas públicas de qualidade, e esclarecedoras, ao invés de apenas pensar em punições. Corruptos vão se beneficiando das falhas das leis, onde as leis não são claras bons profissionais, não sabem como agir, e os maus se beneficiam disso.
Tudo isso me remete há um trecho do artigo Notas para uma genealogia da Psicologia Social, de Rosane Neves da Silva, trabalhado em uma das aulas de psicologia social:
“torna-se difícil considerar o social como um campo problemático que possua uma historicidade e que é forjado a partir de uma configuração específica de práticas que variam de acordo com as características de cada coletividade humana. Ao deixarmos de reduzir o social à mera noção de sociabilidade e passarmos a problematizá-lo a partir do conjunto de práticas que o constituem, podemos dizer que o próprio social cessa de ser um. objeto natural. entre outros. Quando deixamos de considerá-lo como uma evidência e passamos a constituí-lo como um campo problemático, vemos que o social é essencialmente um objeto construído e produzido a partir de diferentes práticas humanas e que não cessa de se transformar ao longo do tempo..” (Silva. R. 2003. p.13)
No que diz respeito a desnaturalizar o social, pode-se dizer que muito tem a se fazer, deixar de tratar tais questões como evidências e passar a pensá-las como um campo problemático, que precisa de soluções, deixando de ser tratado como natural, uma vez que estuda-se, que o social é constituído como um campo de conhecimento de um problema, algo a ser construtivo, em um conjunto de práticas, que fujam do obvio e objetivo.
Umas das coisas que faltam é criar um movimento de estranhamento, e questionamentos, de se admirar, de se espantar, de sentir-se incomodado com coisa ditas como “normais”, de se fazer constantes questionamentos, “Por que nenhuma atitude foi tomada?”, “Sempre foi assim?”, “Sempre vai ser assim?”, “Em outros países é assim?”, se partirem desses pressupostos ficará bem mais fácil ver o social desnaturalizado-se.
No Brasil hoje há uma grande situação de pânico no que diz respeito as drogas, mas há também um comodismo, onde esta situação é tratada por muitos como algo comum, sem solução, esse pânico está sendo respondido pelos órgãos “competentes” como algo subjetivo, com leis confusas, onde o foco é a repressão, onde na verdade deveria haver maior esclarecimento, e uma troca de ideias entre que pensa diferente, talvez esse seja o caminho para desnaturalizar o social, sair da zona de conforto, e procurar saber ate onde vai toda essa “naturalidade.”
Por Emilia Alves de Sousa
Cara Bárbara,
Obrigada pelo seu retorno com este post tão lúcido e pertinente a um contexto tão necessário de reflexões e intervenções também lúcidas.
E quero destacar aqui um comentário que revela parte desta lucidez que me reporto.
"Ao deixarmos de reduzir o social à mera noção de sociabilidade e passarmos a problematizá-lo a partir do conjunto de práticas que o constituem, podemos dizer que o próprio social cessa de ser um. objeto natural. entre outros. Quando deixamos de considerá-lo como uma evidência e passamos a constituí-lo como um campo problemático, vemos que o social é essencialmente um objeto construído e produzido a partir de diferentes práticas humanas e que não cessa de se transformar ao longo do tempo..” (Silva. R. 2003. p.13).
Um abraço!
Emília