A Festa DA Humanização e a Humanização DE Festa
E quem não gosta de uma boa festa? Eu gosto. O que seria da vida se não fosse o carnaval? Energia pelos poros, alegria que explode em catarse coletiva, luz, brilho, contentamento. Não sei se o Joãozinho 30 estava certo em achar que quem gostava de pobreza era intelectual mas, cá entre nós, é lindo ver uma boa Escola de Samba despontar na Avenida, mesmo que seja uma Beija Flor falando sobre o Luxo do Lixo.
Existem várias festas. Tem as festa juninas, particularmente belas e intensas no nordeste do Brasil, tem o Natal, tem o ano novo, tem o dia das crianças e nos Estados Unidos o Halloween. No quesito sobrenatural os mexicanos radicalizaram com "El Dia de Los Muertos" quando os vivos visitam os mortos nos cemitérios ao som de guitarras alegres, tudo regado a tequila e muita comida.Creio que a vida é algo tão belo que viver já seria um grande motivo para a festa. Mas não nos enganemos. A festa não pode assumir o ar da loucura e ser o esteio do riso frouxo em meio a dor e o sofrimento. Elapode e deve aplacar a dor mas não pode ser motivo para nos alienarmos do real.
Acredito que humanizar os espaços de produção de saúde implica necessariamente em criar o espaço estético da alegria, seja porque reencontramos o prazer de viver e de ajudar a viver no trabalho, seja porque parece ser da condição humana buscar criar a alegria onde reinava a tristeza. Para isso é neessário que a festa aconteça onde existe chão. Não importa se a obra esteja ou não acabada. A festa de cuidar bem é geradora de sorrisos. Trabalhar bem é algo festivo. Participar ativamente dos processos decisórios faz a gente ter vontade de virar um palhaço. Ir tecendo a rede do cuidar nos faz gargalhar quando imaginamos que aquele cidadão que acabou de sair do serviço irá para o lugar certo e será bem atendido.
Diante dessas condições, podemos então fazer muita festa. Natal, Ano Novo, São João e Carnaval podem ser comemorados todos os dias. Nada contra as festas. O problema esta em achar que humanizar é so fazer e organizar festa. É trazer os palhaços que vão embora e a criança fica a se perguntar "quando eles voltarão"? O sorriso é muito importante. Já foi dito inclusive que ele não tem preço. O sorriso, diria o poeta, é a flor do afeto que abre suas pétalas quando é regada pelo carinho. Mas o que acontece com o sorriso quando a banda para de tocar e o palhaço tira a máscara e volta a se esconder atrás do balcão? O que acontece com o sorriso quando o gestor autoritário deixa de ser o padre da quadrilha e volta ao seu cotidiano de tirania?
Humanizar com certeza é uma alegria. Humanizar é uma festa! Mas como podemos humanizar de verdade se a alegria ficar feita uma prisioneira caminhando em busca do sol apenas enquanto toca a marchinha de carnaval ou a música do São João?
ERASMO RUIZ
Por patrinutri
A humanização no SUS é uma criação de espaços de reencantamento.
Esta sim é uma alegria duradoura, que promove a produção de sentido ao trabalho, produção de saúde.
Como você mesmo diz Erasmo nosso risco em promover festas nos GTHs é que a mesma acabe se contituindo numa armadilha de escamoteamento dos verdadeiros problemas que devem ser debatidos e enfrentados.
Enquanto o povo sorve o ópio da festa, os poderosos arbitram no poder em favor próprio.
Da mesma forma a iniciativa privada utiliza-se das famosas palestras motivacionais, que costumo comparar aos 4 dias de carnaval, que terminam num enfrentamento com a realidade não transformada, que por sua vez vira uma quarta feira de cinzas, com uma baita ressaca da mistura de bebidas do carnaval.
Ainda pontuando seu texto, gosto mesmo desta idéia de que trabalhar é algo festivo. Vivemos em uma cultura pautada na utilidade social, assim a produção no trabalho dá um sentimento de dever social cumprido e com isso crescimento pessoal.
Sigo citando seu texto "O problema esta em achar que humanizar é só fazer e organizar festa" e esta é uma grande armadilha!
Desviar a atenção, ocupar-se com o que não causa enfrentamento, cria uma inércia, exclui o movimento da roda que buscamos.
Passa a tratar a questão como uma mudança pessoal e não uma construção coletiva.
Vamos trazer os analisadores para a roda!
Vamos valorizar o que dá certo!
Vamos beber na fonte das experiências exitosas!
E vamos então comemorar, com festa sim, mas numa canção de vitória e não num movimento de alegres que embriagam-se em bebidas desconhecidas.
Patrícia S. C. Silva
Blumenau SC