A Arte na favela
O PESA –Programa de Educação Sanitária e Ambiental, é desenvolvido no bairro de Cidade Nova pela Unidade de Saúde da Família em parceria com o Setor de Educação Ambiental da SEMURB e os Departamentos de Enfermagem e Psicologia da UFRN. O propósito é estimular o desenvolvimento local a partir da idéia de que é na comunidade onde estão os mais imbricados processos relacionais. Nesse espaço, às vezes bem pequeno, as atitudes individuais vão se misturando ao coletivo, de maneira que aquilo que o sujeito faz, interfere quase que de imediato, na vida do outro. É assim com o lixo, os entulhos, as podas de árvores depositados pelas esquinas do bairro, os animais que são criados nos quintais – e se não há quintais, ficam soltos nas ruas, os bares que não respeitam o direito dos outros de dormir porque mantêm um som muito alto, as serrarias que não têm licença ambiental para funcionar e vão se erguendo de qualquer jeito, despejando o pó de serra pela vizinhança, as oficinas e serralherias mantidas, muitas vezes, na própria moradia, onde já é difícil abrigar a todos, levando o sujeito a fazer da rua e calçada a extensão do empreendimento, sem falar das favelas onde crianças, jovens, adultos e idosos se espremem no espaço de barracos úmidos pela lama espessa que corre nas valas. Tudo serve: papelão, plásticos, restos de material de construção, pedaços de madeira que um outro não quis. O emprego? Esse componente tão estruturante na vida do indivíduo, fica subjugado à falta da qualificação e estudo dos moradores da favela. A falta de amparo das gestões públicas para esse grupo populacional gera um fenômeno de desfiliação: se não há governo, aplica-se o auto-governo. Polícia não entra, CAERN e COSERN não cortam os “gatos”. Tão simples morrer e matar! Drogas muitas vezes se transformam na possibilidade de renda, e álcool, muito álcool para anestesiar a dor social. É nessa realidade que estão mergulhados as crianças e jovens, com um futuro incerto, muito propensos a repetir o presente.
A Educação sanitária e ambiental não pode perder de vista, a responsabilização do sujeito, e isso não desresponsabiliza o governo, pelo contrário, cria mecanismos de participação e empoderamento dessa comunidade, para obter do poder público o reconhecimento do seu direito à cidadania. E como atuar em saúde, na lógica ambiental, exige posturas que vão além da preocupação com a doença, consideramos que há oportunidade de oferecermos às crianças e jovens da favela, outras possibilidades de desenho do futuro.
Para tanto, estamos criando o GRUPO PAU E LATA com 15 adolescentes da favela do DETRAN. É um grupo que trabalha com oficinas de percussão, cujos instrumentos são fabricados pelos próprios jovens e feitos de tambores, latas, cordas, tecidos e pedaços de pau. Contamos com a participação da Profª Lílian, arte-educadora da Escola Municipal Djalma Maranhão em Felipe Camarão, que virá ensaiar com o grupo da favela.