A História do SUS na Tenda do Conto

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Era terça-feira. Sentimento de desânimo me invadia naquela manhã. No dia anterior, fomos informados que vários exames de rotina haviam sido suspensos no laboratório. Os consultórios odontológicos, ainda em reforma, permaneciam sem funcionamento; o galpão onde fazemos as reuniões dos grupos estava sendo usado como depósito de material; tudo se somava para provocar uma terrível sensação de abandono.  Sem vontade de chegar à unidade, ainda com o jaleco pendurado no ombro, resolvi passar na sala dos agentes comunitários de saúde. Como sempre, as conversas sobre os mais diversos assuntos se misturavam, fazendo com que os recém-chegados captassem apenas fragmentos de uma ou outra fala. Percebendo minha indiferença, uma das agentes perguntou o que iríamos fazer para comemorar os 20 anos do SUS e 14 anos do PACS. Alguns fingiram não escutar, uns contestaram e outros defenderam que tínhamos que fazer uma festa. Juntei-me aos que queriam comemorar sem deixar de perceber o sorriso vitorioso daquela agente de saúde que sabia como nos colocar em movimento. Decidimos contar a história do SUS na tenda do conto. Ítalo (dentista da unidade) sugeriu a projeção de um filme sobre políticas de saúde que ele conseguiu “baixar” pelo site do MS.

Quinta-feira. Os equipamentos haviam sido retirados do galpão, a tenda do conto estava montada; balões coloridos e um grande bolo com velas davam o ar de festa. A sessão de cinema estava lotada, fato que comprovava o empenho dos agentes em trazer os usuários. Tivemos que nos arrumar no chão para que não ficasse ninguém de fora. Terminada a sessão, ouvimos os usuários- avaliamos juntos o que havia sido construído e o longo caminho que ainda temos que trilhar. Falamos de conselho gestor, conselho municipal de saúde, direitos dos usuários- participação e controle social. Percebemos que se faz urgente a retomada dessa discussão no dia-a-dia, nas escolas, no conselho comunitário, nas visitas domiciliares, no consultório, nos micro-espaços.

Fotografei o acontecimento movida pela idéia de Aníbal (consultor da PNH que tive o grande prazer de conhecer, recentemente) de que “nossos modos de fazer se perdem muitas vezes, por falta de registro.”

A ACS Ivana dividia o bolo carinhosamente utilizando, segundo ela, o princípio da “universalidade.” Ficamos depois a comentar sobre a preciosa rebeldia adolescente dos ACS e sua “clínica peripatética”, como nos fala Lancetti, revirando caminhos, passeando firme e suavemente dentro da gente curando a desesperança.

Parabéns à Fran, Evanilde, Josefa, Almir, Fátima, Conceição, Karla, Michelle, Rock, Samara, Luna, Ivana, Divina, Lucinalva, Rosa, Gil, Gizar, Luís Carlos e a todos os ACS desse Brasil.

Viva o PACS! VIDA ao SUS… SEMPRE!