FÓRUM DE AVALIAÇÃO DA PNH NO RN E PERSPECTIVAS PARA 2009 – TEMPO DE MANDACARU FLORIR

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jacqueline abrantes gadelha 15/12/2008

Se cada dia cai,

dentro de cada noite,
há um poço onde a claridade está presa.
Há que sentar-se na beira do poço da sombra
e pescar luz caída com paciência.
Pablo Neruda
Durante todo o dia dez de dezembro, depois dos lamentos e desabafos que expressaram os espinhos da jornada, as semelhanças se somaram no desafio de reduzir as distâncias. As diferenças saíram a lançar intensos e suaves fachos de luz sobre os possíveis e múltiplos caminhos que iam sendo desenhados pelas vozes transbordantes de vontade que refaziam seus cursos nas in-certezas. Vozes oportunizadas e acolhidas pela sensibilidade de Sheylla (nossa consultora da PNH no Estado), registradas e engrandecidas com a intensa agilidade de Acácia e Geni (exemplos de resistência e garra no núcleo articulador da Política de Humanização do Rio Grande do Norte). Alguns presentes percorreram quatrocentos quilômetros para fazerem do último fórum do ano, um grande encontro. Desafiando o tempo sempre escasso nessa época, ali estavam militantes do SUS: trabalhadores dos hospitais, dos pronto-atendimentos, do SAMU, da atenção básica, representantes do conselho estadual de saúde, das regionais, da ANEPS, dos gestores. As experiências relatadas alargaram os caminhos que antes pareciam estreitar-se aos nossos olhares e passos cansados. Teve poesia de Ray declamada por Maria José, assistente social e ex-participante do teatro escambo, conduzindo à constatação de que esse mundo é mesmo pequeno, mas se refaz imenso em riquezas e afetos quando nos movemos em busca do encontro. Misturamos o caminho da co-gestão do Hospital Giselda Trigueiro, as experiências dos municípios de São José de Mipibu, João Câmara, Pau dos Ferros, a aproximação do pessoal do SAMU aos técnicos dos CAPS locais, o ACCR no Hospital Santa Catarina, a visita aberta no hospital dos pescadores, os projetos de ambiência e investimento na formação de RH no hospital de Mossoró, a tenda do conto, o projeto de acolhimento “posso ajudar”, a brinquedoteca e o projeto terapêutico na atenção básica, a terapia comunitária em Pajuçara, a parceria com o Núcleo de Estudos em Saúde Coletiva da UFRN entre tantas outras experiências positivas que conseguiram transpor as dificuldades, para, nesse balanço, visualizarmos uma rede capilarizada, viva e pulsante. No ritmo do balançar da rede em 2008 ousamos traçar um desenho das perspectivas para 2009. Dentre elas, destaco:
•Fortalecimento do Núcleo articulador da PNH no Estado;
•Inserção de apoiadores institucionais em hospitais estratégicos; •Aprofundamento das rodas de discussão acerca da PNH com usuários, gestores e trabalhadores;
•Construção e fortalecimento dos comitês regionais envolvendo ensino, serviço e demais representações que fortaleçam a política local;
•Planejamento das ações junto as URSAP’s envolvendo mais intensamente a atenção básica e universidade;
•Criação de um grupo virtual de conversação entre os militantes da PNH-SUS no Estado do RN visando a ampliação da rede;
•Fortalecimento dos trabalhadores por meio de educação permanente para que se apropriem da Política no cotidiano dos serviços, aliando-a às práticas;
•Intensificação da articulação entre PNH, saúde mental, saúde da família e universidades;
•Participação ativa no fórum de integração ensino-serviço;
•Fortalecimento dos conselhos gestores e colegiados;
•Realização da Mostra Estadual de Humanização.
Juntos, vislumbramos a humanização como política que reafirma o SUS desencadeando a construção coletiva de processos de cuidado que contemplem a universalidade, a equidade, a integralidade. Juntar sertão e mar, fazer chover em terras secas, ouvir as cantigas dos tempos de colheitas, compartilhar os frutos numa grande mesa, sentir o calor do sertão, deitar à sombra de juazeiros floridos, subir as dunas e ver a lua nascer, desejar o frio da região serrana, revirar o chão potiguar acreditando na riqueza dessa gente que insiste em sonhar com saúde, justiça social e cidadania. Grande encontro! Vontades intensas despertadas pela roda a girar! Tempos difíceis, caminhos espinhosos. Tempo de mandacaru florir!
Se as coisas são inatingíveis…
ora! não é motivo para não querê-las…
Que tristes os caminhos se não fora
a mágica presença das estrelas!
Mário Quintana