Muitas vezes nos defrontamos com situações que, no campo da saúde, podem ser potentes analisadores. O método inclusivo da PNH pode propor desafios imprevisíveis e que, no limite, exigem redimensionamentos das nossas existências e práticas. Um grande desafio recente foi o pedido de um hospital psiquiátrico por ações de humanização que resolvemos acolher como um bom analisador do que seriam nossos limites. Confesso de saída que vejo com muitas restrições um trabalho de humanização em Hospitais psiquiátricos.
A questão é que, agora, parte dessas instituições parecem trabalhar na direção de diminuição do número de leitos e em ações que atuem na qualidade de vida de internos e trabalhadores, ações contra a cronificação, diminuição do tempo de internação e criação de mecanismos de desinstitucionalização, além de buscar um papel mais funcional nas redes de saúde mental. A questão é: como operar o modo de fazer da PNH num hospital psiquiátrico? Isso é possível? Particularmente acho isso muito instigante.
Estivemos recentemente (eu e Annatália Gomes) em visita ao Hospital Psiquiátrico Areolino de Abreu em Teresina-PI, que nos sinalizou a necessidade de implantar ações de humanziação no seu espaço. Para mim, a princípio, humanizar um hospital psiquiátrico siginificaria, em última instância, lutar contra sua existência. Mas, seria essa afirmativa um princípio pétreo? De fato, podemos prescindir da estrutura asilar que ainda resta funcionando? Qual o papel efetivo dessas instituições na rede de saúde mental? Não estaría parte de nós presos a uma estereotipia que reduz o olhar a qualquer instituição como se todas fossem iguais ao Juquiri? E como responder a dinamismos institucionais de determinados hospitais psiquiátricos que parecem encampar parte importante das exigências da reforma psiquiátrica? Confesso a vocês que não tenho uma resposta fechada para este complexo conjunto de questões.
Nessa visita conhecemos um hospital com 160 leitos que abarca um HD com 30 leitos e que ainda possui um ambulatório especializado que realiza de 4 a 5 mil consultas mês. Nesse hospital temos uma Rádio que veicula programação construída pelos trabalhadores, um projeto social que tenta criar interfaces com rede e comunidade. Seus trabalhadores realizam cotidianamente oficinas de humanização onde discutem ações de melhoria da ambiência e acolhimento dos pacientes, tem GTH funcionando e ativo, tem 18 residências terapêuticas e um progranma "De Volta para Casa" em andamento.
Confesso que conhecer essa experiência me deixou muito curioso para ve-la como um analisador, principalmente pelo caráter de iniciativa e espontaneidade dos trabalhadores que inseridos nessa estrutura tomaram para si a tarefa de construírem ações de humanziação inspirados em princípios da PNH. . Acho que esse processo abre portas para uma discussão muito importante. A princípio, estou disposto a trabalhar pela humanização em um hospital psiquiátrico que lute criticamente pela construção crescente da desospitalização e pela reinserção de seus internos, que tematize a cogestão e que discuta a saúde dos seus trabalhadores. Ainda acredito que a solução para uma radical desmanicomialização passe pela abertura de enfermarias psiquiátricas em hospitais gerais para casos mais graves. Mas ainda existem tremendas resistências culturais para que isso aconteça. O que fazer enquanto esse dia não chega?
Erasmo Miessa Ruiz
Annatália Gomes
Por lia magalhaes
Este é um desafio que merece destaque. Enfatizai um parecer que compartilho neste fórum sobre a metaforfose hospitalar na saúde pública atual. Estou na peleja desta realidade que trazes. É importante ver que estamos buscando um avanço que contemple as necessidades que a população precisa e merece quando se trata da saúde mental.
O que estes usuários merecem nós sabemos, mas para o que precisam temos sérias dúvidas sobre o que podemos oferecer.
Vamos nos ajudar compartilhando nossos desafios e apostas.
Lia Magalhães
Comitê Executivo de HUmanização dos Hospitais Estaduais do RS