O custo da violência para o SUS

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Luciana Abade

BRASÍLIA
 

Os gastos do Sistema Único de Saúde (SUS) com internações por agressão em 2006 foram de R$ 40 milhões. A despesa com as internações das vítimas de acidentes de carro no mesmo ano foi de aproximadamente R$ 117 milhões. Os números, no entanto, para tratar essas agressões e acidentes são pelo menos quatro vezes maiores. É o que mostra estudo realizado por pesquisadores do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Publicada pela Fiocruz, a pesquisa levou em consideração o atendimento ambulatorial e surpreendeu os pesquisadores quando constatou-se um número abaixo do esperado em relação à violência.
 

– Esse foi o resultado maior. A mortalidade ocasionada pela violência é muito alta – afirma uma das autoras do estudo, Rute Imanishi. – O número de internações consequentes de violência é relativamente baixo porque a maioria das vítimas morre antes de ser atendida e, quando chegam vivas aos hospitais, são atendidas na emergência.
 

Um exemplo dessa situação é a a constatação que, no ano 2000, as agressões representaram 38% do total de mortos por causas externas e apenas 5,4% dos internados pelo mesmo motivo. Ainda assim, a pesquisa garante que essa demanda é suficiente para congestionar os serviços de emergência dos hospitais das grandes cidades.
 

Em 2006, foram realizadas 11.721.412 internações nos hospitais do SUS no Brasil, sendo 822.412 por causas externas. Destas, 48.283 devido a agressões e 123.100 devido a acidentes de transporte terrestres. De acordo com o Ministério da Saúde, o custo de uma internação é maior nas regiões Sul e Sudeste. E, no Sul, o custo chega a ser o dobro da Região Norte.
 

Para estimar um número mais próximo da realidade, além de levantar os atendimentos ambulatoriais, os pesquisadores consideraram os gastos estaduais e municipais com a saúde pública.O método mostrou que enquanto o DATASUS anunciou um gasto, em 2004, de R$ 540 milhões com internações hospitalares
registradas como causas externas, como agressões e acidentes de trânsito, a despesa ultrapassou a casa dos R$ 2 bilhões.

 

Precariedade – Segundo a pesquisadora, a falta de bancos de dados completos dificulta a ação dos pesquisadores e, consequentemente, a criação de políticas públicas para a área. Esse problema ocorre, principalmente, porque nem todas as despesas necessárias para custear as internações hospitalares passam pelos registros de Autorização para Internação Hospital (AIH). E os registros de pagamentos das AIHs, principais referências para os repasses de recursos federais, não contemplam os gastos efetuados por estados e municípios com o SUS. Além disso, o atendimento ambulatorial não especifica a natureza do problema da vítima.
 

De acordo com Rute, os autores da pesquisa reconhecem a complexidade da matéria saúde no Brasil, mas acreditam que o simples procedimento de preencher a Classificação Internacional de Doenças (CID) no prontuário médico de entrada nos hospitais já seria suficiente para o aprimoramento qualitativo e quantitativo das pesquisas.

 

(Fonte: Jornal do Brasil)