Um hoje vale dois amanhãs Devemos contribuir para modificar o meio social para melhor
Com certeza, um livro da Bíblia que dá sublimidade à vida é o Eclesiastes. Atribuem-no a Salomão. Entendo que, naquela época, predominava a comunidade. Daí que o sábio dourou a pílula e as pessoas do seu tempo aproveitaram e dela fizeram ricas palavras, num imperativo que perdura até os dias atuais.
Uma das principais mensagens do Pregador é a de que a vida deve ser vivida com intensidade. É atualíssima, portanto. Forte clamor à justiça social, um grito de guerra à injustiça praticada pelos homens.
Tudo o que fizer faça com amor, não importa o quê. Não se cansa nunca. O ideal é buscar o sentido da vida, o seu brilho, não importa onde esteja ou quem seja. É quando se entra a questão do tempo. “Um hoje vale dois amanhãs” (De autor desconhecido).
É fácil falar, o difícil é operar. Para o pessimista as reflexões não são importantes. Afinal, tudo é negativo. Negativista é. O céu pode estar azul, no entanto ele diz que se chover atrapalha. O canto dos pássaros incomoda. Portador de espírito irrequieto, o inimigo de si mesmo esbraveja. Diz que as criaturinhas que iluminam a terra e comem tão pouco dos frutos das árvores e bebem menos ainda da fonte das águas existem para amolar e não para enfeitar a vida como um presente de Deus. É assim. Muito de pessimismo.
Salomão foi um sábio do seu tempo, rei importante de Israel. E Eclesiastes é um texto a ser lido, analisado, e, depois de um bom aprendizado, pode-se entender o que é comunidade e sociedade. Somos uma aldeia grupal. Todos nós. Você e eu. Eu e você. Nós. E os outros. Juntos. Sincronia no pluralismo.
Na efervescência da política, a cidade-estado está no centro das atenções. Devemos contribuir para modificar o meio social para melhor. Sintonia dicionarizada do que é comum. Diz-se de comunhão.
Os postulantes a cargos eletivos devem se identificar com as necessidades do seu povo. Na maioria dos casos, fazem por fazer (isso quando fazem), esquecendo-se da formação social complexa que é a sua gente, lamentavelmente triste. Em vez de comungar, tentam arrancar do próximo o máximo e o mínimo do que nele existe.
O brilho alheio continua irritando. Lembrando a música “Como Dois e Dois”, de Caetano Veloso: “Tudo vai mal, tudo”. É uma das vertentes do pessimista. Então se torna um ser mau. Traz na essência do coração o pior dos males: a inveja. Falta de capacidade. Não se realiza. Ele, coitado, produto de seus resultados e circunstâncias.
Nos tempos de Salomão, Israel viveu sob o domínio dos ptolomeus, ligação direta com o Império de Alexandre Magno. Opressão, altas cargas tributárias, trabalho escravo e não reconhecido na contrapartida. O povo mal se sustentava.
Antes de se aventurar a fazer qualquer coisa, o interessante é analisar o agora para não ser pego de surpresa no amanhã. “Vaidade das vaidades, tudo é vaidade”, o importante é trabalhar duro, ainda que o fruto desse trabalho não se reverta só para si, mas para os outros.
Vez mais, nota-se a presença marcante e necessária da política e das pessoas que a compõem. São ponderações cativantes. Fala-se em solidariedade. O querer o bem alheio. Implica não viver sozinho. As soluções devem ser vistas e buscadas em conjunto. Esse é o pé que faz o caminho e a fé que gera maravilhas.
O que se constata no “Livro de Eclesiastes” é altamente proveitoso. Aplica-se nesse mundo de novidades virtuais algo inteiramente simples. Diria Pollyana Ferrari, jornalista e professora-doutora de Comunicação da PUC-SP: “São possibilidades de criação de comunidades segmentadas quanto à democracia digital”. Diria, por que não comunidades de base?
Em Eclesiastes, capítulo 03, há tempo para tudo. “Há tempo para nascer, morrer, plantar, colher, tirar e recolher pedras”. Em uma das versões: “Se precisar sorrir, sorrio. Se precisar chorar, choro. Se precisar lamentar, lamento”.
Nunca vamos alcançar a inteligência, sabedoria, riqueza e a dimensão do Rei Salomão.
Entretanto, Salomão passou por maus bocados. Na esteira, a presença da Rainha de Sabá. Nem mesmo seus dotes foram capazes de preencher o vazio em sua vida. É o espaço reservado para um Ser superior. Todos temos esse vazio que deve ser preenchido com o espírito da fé, esperança e caridade.
Por último, para fechar com o brilho de Salomão, em seu esplendor: “Os olhos do sábio estão na sua cabeça, mas o louco anda em trevas; também então entendi eu que o mesmo lhes sucede a todos” (Ec 2:14). Viver é a arte de viver inteiramente o amor.
De rudimentares lembranças, advém-me uma letra de Gonzaguinha (Sangrando): “Se eu chorar e o sal molhar o meu sorriso, não se espante, cante”.
LUIZ GONZAGA FENELON NEGRINHO, advogado ([email protected]), escreve aos domingos nesta coluna.
Por Emilia Alves de Sousa
Uma reflexão eclesiástica recheada de belos recortes musicais, e que nos convida para uma análise do nosso fazer, do nosso viver, seja no cotidiano de trabalho a nível macro, micro, seja na família, ou simplesmente numa relação afetiva. Até que ponto fazemos tudo com amor, com "comunhão", pensando no bem-estar do outro e não apenas no nosso? Nós enquanto profissionais, nós enquanto políticos já nos fizemos esta pergunta?
E aqui destaco as citações do Luis Gonzada: "Somos uma aldeia grupal. Todos nós. Você e eu. Eu e você. Nós. E os outros. Juntos".
Esta é também a visão da PNH. Na produção de saúde, não existe o eu, o tu separadamente. Existe o nós, o coletivo, onde todos são sujeitos/protagonistas da sua história, do seu fazer, do seu viver. E devemos fazer, gerir com compromisso, com ética, com inclusão, pensando no bem-estar de todos, para todos (usuários, trabalhadores, gestores).
Obrigada pelo compartilhamento do texto Ângela. Muito pertinente!
Um forte abraço!
Emília