Carta aos Mestres.
Mestres, que por vezes os chamam Gurus, Professores, Senseis, Guias e tantas outras surpreendentes designações, que somente as línguas, nas suas pretensas conjunções, são capazes de aproximar;
Mestres, cuja carga sobre seus ombros é por demais pesada para que possam, vez por outra, debruçarem-se sobre si mesmos à sombra e deixarem-se acariciar pela brisa refrescante de um dia árduo;
Mestres, que sob o domínio da vontade de mais, pensam sempre menos, por confundirem-se sobre aqueles que deles se encantaram;
Mestres, cujo caminho julgam dominar e deles extraem absolutas verdades, e que só podem, por isso mesmo, depositá-los na fé e na esperança daqueles que os amam;
Mestres, que projetam, em discurso, à sua frente, mesmo que num futuro incerto, àqueles que os seguem, e que sabem que não se dá liberdade a aves que nasceram em cativeiro;
Mestres, cujos aguilhões lhes escoriam a alma, deixados por aqueles a quem seguiram, e que sabem que não podem dos aguilhões se livrarem, mas, por isso mesmo, os passam, por força do amor, àqueles que os seguem;
Mestres, que, dia após dia, apontam aos seus eleitos, horizontes amplos, e que sabem que por força de sua mesquinharia, chamada de compaixão e caridade, não podem prometer mais do que pequenos pontos;
Mestres, que tiram da vida apenas aquilo que seus sentidos, cativos e moribundos, podem lhes dar, e que sabem que suas almas, um dia, já foram visitadas por infinitas outras sensações, mas, que por isso mesmo, limitam aos seus cansados e tristes sentimentos, o que presenteiam aos seus amados;
Mestres …
… posso, quando muito, lhes dizer que aqueles que os amam, são – ainda que ambos não o saibam – a força de suas vidas, a comunhão dos seus limites com o infinito e o surpreendente, a explosão das suas fronteiras, a aliança do manifestado e experimentado com o novo e desconhecido, o desdobramento e porvir da sua identidade, velha e cansada. Libertem-se dos aguilhões antes que façam mais filhos, destruam as cidades organizadas daquilo que julgam saber e produzam mais desertos com ar novo e fresco. Conheçam sim, mas de maneira que cada ensinamento daquilo que já conhecem possa tornar-se novo e desconhecido, também para si. Olhem horizontes e para eles dirijam seus objetivos, sabendo que a cada passo pontos serão vistos e encontrados, mas ao sê-lo já serão passado e cada um destes pontos apontará, na direção do horizonte, milhões de outros novos pontos. Caminhem sempre, mas ao lado, ao lado, ao lado …
Altair Massaro
Por Emilia Alves de Sousa
Prezado Altair, que riqueza de reflexões você nos traz sobre a figura do mestre. Me remeteu ao texto do maravilhoso Paulo Freire que diz que o professor deve se colocar ao lado do educando, numa relação horizontalizada de diálogo fraterno, evitando sobrepor-se ao estudante como se o mesmo fosse “coisa” (objeto) ou simplesmente “alvo” da educação. Muito bacana!
Seria muito bacana se esta carta chegasse a todos os mestres!
Um grande abraço!
Emília