Charles Wilkin
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Este post deve ser lido ao som do afinadíssimo Wilson Simonal.
Sempre carrego comigo essas rações de alegria para ouvir e transbordar de contentamento com a vida.
Depois de passar pela dor de perder um amigo querido demais, poeta das entranhas mais escuras do humano, depois de sermos desafiados em nossa potência com a tragédia dos jovens de Santa Maria e tantos outros percalços, eis que a vida persevera em ser.
Quero homenagear a capacidade de afeto de nossos companheiros da PNH nas frentes de trabalho e resgate de vida possível e dizer que todos eles nos devolvem com toda nobreza a fé nas possibilidades de comunidade e amor.
"Imanência, uma vida", disse Deleuze…
Simonal é pura vitalidade brasileira, devir de alegria que nos toma! Foi injustiçadamente colocado no limbo mas nos deixou uma grande reserva de alegria.
Julio, o meu amigo, era um pândego, amava as mulheres e vivia perigosamente nas fronteiras entre um amor transbordante e a morte anunciada do namoro com todos os tipos de excesso. Foi ao inferno e voltou, como Cazuza e Leminski. Até que o coração deu um basta.
Viveu de pura intensidade. Morreu como convém a um poeta. Avisou à namorada que queria ir para a Vila Formosa, cemitério do povo, gigante e simples como ele. Coloquei margaridas na cova rasa de terra roxa.
E a vida continuou… agora mais forte e bela.
Sigamos colhendo os acontecimentos da estética de existência potente que a nossa rede produz em seus cinco anos de criança que sonha sem limites…
Amo voces!!!
Iza
15 Comentários
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Por Ana Rita Trajano
Lindo Iza, agradecida por encontrar este post em Defesa da Vida e da Arte!
E que a tristeza pela perda do amigo-poeta Júlio se transforme em novas
possibilidades de vida e poesia! Beijos carinhosos,
Ana Rita

Iza
Muito lindo o seu post.
Tenho costume de dizer que os anjos não morrem, eles se encantam e nos encantam a partir daí. Acho que é mais ou menos como diz Chico Buarque em Todo Sentimento:
Depois de te deixar
Te encontro com certeza,
Talvez no tempo da delicadeza,
Onde não diremos nada,
Nada aconteceu,
Apenas seguirei como encantado
Ao lado seu.
É por um sopro de vida que os anjos continuam nos seguindo…
Bjs.
Miguel

Por Teresa Martins
Iza, um abraço.

Querida Iza,
Outro dia, saímos (eu e a equipe do Panatis) para uma daquelas visitas que dispensam jaleco, estetoscópio ou prontuário…Era uma segunda-feira. Dona Maria havia enterrado seu filho no domingo. Imaginei que ela estaria deitada no pequeno quarto escuro. Encontrei-a varrendo a casa. Parecia caminhar pela própria dor ao se sustentar na vassoura que perseguia as gotas de cera de vela impregnadas no gasto piso de chão batido da sala. A imagem me fez pensar em nunca antes ter percebido o tamanho do vazio daquela sala.
Ela me olhou e pronunciou o nome dele com intensidade; parecia querer encompridar o tempo da própria voz. O que dizia ali era muito maior do que o que cabia nas próprias palavras. “Ele não deu trabalho nem na hora da morte”. Estava agradecida aos vizinhos que se juntaram para pagar o velório, o caixão…Preocupada em enterrar o filho dignamente, não havia se permitido chorar.
No abraço, nas poucas palavras ditas ou ligadas pelos fios do silêncio, para além da tristeza e da dor, um mundo de ternura se mostrara para nós. Penso que momentos assim nos fazem ver com outros olhos “as gotinhas de cera de velas presas ao chão;” o que fora chama, o que ardera em luz, agarra-se a um mundo que não se quer deixar. É preciso entrelaçar dores, perdas e vazios aos pequenos gestos: o olhar o outro, a escuta, o abraço são gestos que tornam possível o desprender das lágrimas; tornam possível que da dor da alma, escorram filetes de luz, chamas "perseverando em ser."
Quis te falar qualquer coisa quando soube da perda do teu amigo Júlio, mas me emaranhei no descompasso entre o que sentia, o que gostaria de dizer e as palavras que escrevia.
Agora, diante de teu belo post, da alegria da música de Simonal, filetes de luz e de vida, é como se reencontrasse vivos momentos passados. Como se reencontrasse um antigo livro perdido. Daqueles que a gente guarda e esquece que guardou. Um dia, inesperadamente, a gente o encontra e se surpreende com as palavras grifadas, uma ponta dobrada, ou mesmo uma florzinha ou folhinha seca presenteada pelo filho quando pequeno marcando aquele poema que tanto nos encantou. Coisinhas tão valiosas que se ocupam em nos fazer “desesquecer” o que realmente importa recolocando vivo diante de nós um humano mundo.
O poeta Júlio deixa conosco uma imensidão de coisinhas valiosas nesse mundo.
com amor,
Jacque

Tuas palavras sempre me emocionam. Choro.
Um choro de alívio, consolo e paz… obrigada por ser tão amorosa com o mundo!

Por catia martins
Iza, um abraço meu tb! q vc e os demais cuidadores desta rede continuem me/nos emocionando com posts tão potentes… Catia

Por patrinutri
Nestas horas que me encontro com a morte de alguém, minha primeira reação é um silêncio respeitoso.
Silêncio pela obra daquela vida!
Silêncio pela busca de paz interior!
Silêncio pelo tempo de dar ouvidos a lição que se impõe no momento.
Silêncio que ensina, com o que aprendo, no qual me prendo,
Na emoção mais profunda da vida, o silêncio da morte.
Que bom que o Julio deixou palavras, para expressar a vida, depois de seu silêncio.
Que bom que viveu intensamente toda sua potência de vida e de morte.
Que bom que aprendemos com sua vida.
Sentimos com você este momento de silêncio em busca de paz!
Bjs Patrícia

O ENJEITADO
na secção de achados & perdidos
do aeroporto internacional de guarulhos
jaz um poema de amor ao lado de um par de dentaduras
a mulher que o lia na sala vip com lágrimas discretas
de propósito fez deixá-lo na poltrona
e embarcou num voo noturno para copenhague
10-12-12
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Júlio Saraiva
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Por Erasmo Ruiz
No corre corre do dia a dia perdi simplesmente não dei conta desse post minha Querida Iza! Muito lindo a forma como expressaste a morte do poeta. É isso, vamos vivendo, amando e transbordando! Os gregos sabiamente tinham a borboleta como m dos símbolos da morte porque ela expressava transformação! Talvez a confluência dos nossos olhares um tanto diferentes sobre como lidar com a morte possa se cruzar ali, na borboleta pois, no final das contas, parece que caminhamos na busca da vida, do viver, da intensidade. Veja o vídeo abaixo. Se a a gente tem uma certa sensação de felicidade em ver como as borboletas explodem em vida, creio que os gregos ficariam orgulhosos com a escolha de seu símbolo para a morte
Com carinho do ERASMO
Por Emilia Alves de Sousa
Querida Iza,
Não tive a oportunidade de conhecer o Júlio, mas li alguns dos seus poemas, e fragmentos da sua vida, e fiquei curiosa, pois deveria ser uma pessoa fascinante. Lamento muito pela sua partida prematura! E esta homenagem prestada com música e vídeo do Simonal com a Sara Vaughan não poderia ser melhor. Vivi a época Simonal e era sua fã ardorosa. Amei o post!!!
Beijos!
Emília