10 anos da Rede Nacional de Religiões Afro-Brasileiras e Saúde
A Rede Nacional de Religiões Afro-Brasileiras e Saúde é uma instância de articulação da sociedade civil que envolve adeptos da tradição religiosa afro-brasileira, gestores e profissionais de saúde, integrantes de organizações não governamentais, pesquisadores e lideranças do movimento negro, visando a promoção da saúde da população dos terreiros e do entorno.
Criada em São Luís do Maranhão, durante a realização do II Seminário Nacional Religiões Afro-Brasileiras e Saúde (2003), a Rede tem como objetivos: – lutar pelo direito humano à saúde; – valorizar e potencializar o saber dos terreiros em relação à saúde e o reconhecimento destes como espaços promotores de saúde; – monitorar e intervir nas políticas públicas de saúde, exercendo o controle social; – combater o racismo, o sexismo, a homofobia, lesbofobia e todas as formas de intolerâncias; – legitimar as lideranças de terreiros como detentores de saberes e poderes para exigir das autoridades locais um atendimento de qualidade, onde a cultura do terreiro seja reconhecida e respeitada; – estabelecer um canal de comunicação entre os adeptos da tradição religiosa afro-brasileira, os gestores, profissionais de saúde e conselheiros de saúde para valorização do Sistema Único de Saúde.
As religiões afro-brasileiras mantiveram-se, ao longo dos anos, como um dos espaços de resistência cultural negra, formando uma estrutura que marca de forma significativa a cultura brasileira. São mais de 150.000 terreiros espalhados pelo país, constituindo as diversas expressões das religiões de matriz africana no Brasil. Conforme sua origem na África, localização geográfica no Brasil e interação com outros grupos não- negros tomam diversas denominações: Umbanda, Candomblé(Angola, Ketu, Ijexá, Jejê), Tambor de Mina, Tambor de Mina na Linha de Caboclo, Batuque, Xangô, Xambá, Jurema, Terecô, Encantaria, etc.
A população de terreiros é constituída em sua maioria por pessoas negras, maioria mulheres, baixa renda, pouca escolaridade, moradoras de subúrbios e periferias das cidades, e esse perfil da população dos terreiros tem uma relação com os determinantes sociais das condições de saúde.
O racismo e a intolerância religiosa certamente vai estabelecer relações diferenciadas de poder, de privilégios e de cuidados que se estabelecem na prerrogativa de características negativas que justificam o tratamento desigual e a desatenção dos “ grupos considerados inferiores”, como tem acontecido com a população de terreiro.
Os templos religiosos afro-brasileiros constituem-se, há séculos, em espaços: de inclusão para os grupos historicamente excluídos, de acolhimento e de aconselhamento. As práticas rituais e as relações interpessoais que são construídas nestes espaços possibilitam as trocas afetivas, produção de conhecimento, acolhimento, promoção à saúde e prevenção de doenças e agravos, bem como a renovação de tradições milenares, sobretudo por meio do uso das plantas medicinais.
Nesse sentido, é importante entender o significado do corpo nessa tradição religiosa, pois o corpo é a morada dos deuses e deusas. O corpo é o instrumento pelo qual os inkices, voduns, orixás, preto-velho, caboclos e pomba-gira, deuses e deusas da tradição religiosa afro-brasileira mantêm contato com os humanos fortalecendo e perpetuando essa tradição.
É importante lembrar que as religiões afro-brasileiras se colocam como um espaço para além do religioso, em que os adeptos(as) ou simpatizantes encontram no acolhimento praticado uma forma mais duradoura e eficaz de apoio do que aquelas oferecidas pelo “sistema oficial de saúde”. Ali se estabelecem laços de irmandade e solidariedade entre os participantes, possivelmente resultando no aumento da eficiência e eficácia dos tratamentos e apoio recebidos. Os terreiros enquanto espaços promotores de saúde podem ter uma função colaborativa com os sistemas locais de saúde e suas especificidades. Trata-se de olhar para estas práticas religiosas-terapêuticas como um assunto relacionado às políticas públicas, de modo que estejam coadunadas na agenda de políticas, programas e ações do SUS.
Rede Nacional de Religiões Afro-Brasileiras e Saúde convida para a realização do IX Seminário Nacional Religiões Afro-Brasileiras e Saúde: Dialogando com as Políticas Públicas que será realizado nos dias 07 e 08 de abril de 2013, em Maceió, aproveitando as celebrações do Dia Mundial da Saúde(07 de abril) e as comemorações dos 10 anos de atividades da Rede.
OBJETIVOS:
– Contribuir para a troca de saberes e experiências entre os terreiros e o Sistema Único de Saúde,
– Dar continuidade ao processo de diálogo entre as lideranças de terreiros, gestores, profissionais e conselheiros de saúde com a finalidade de formalização de uma agenda comum de ações em saúde voltadas para a população de terreiros e população negra,
– Fortalecer o processo de comunicação e de estabelecimento de parcerias entre os diversos núcleos da Rede Nacional de Religiões Afro-Brasileiras e Saúde e os programas e ações do SUS locais.
METODOLOGIA:
O seminário nacional acontecerá nos dias 07 e 08 de abril de 2013, e serão utilizados painéis, salas de conversa afiada e apresentações culturais. Nos painéis serão abordados temas gerais com ênfase nas políticas públicas de saúde e nas salas de conversa afiada temas previamente escolhidos em encontros realizados pela Rede Nacional de Religiões Afro-Brasileiras e Saúde.
Programação Dia 07 de abril 2013
08:30h – Presente às Deusas das Águas Coordenação: Mãe Miriam, Pai Célio e Mãe Neide
10:30h- Mesa de Abertura Rede Nacional de Religiões Afro-Brasileiras e Saúde,
Secretaria Estadual de Saúde de Alagoas,
Secretaria Municipal de Saúde de Maceió, Ministério da Saúde, SEPPIR, Fundação Cultural Palmares, UNFPA, CONAS, CONASEMS, Conselho Estadual de Saúde Coordenadora: Mãe Nilce de Iansã
11:30h – Painel 1 –
Exu: a dinâmica da vida, da comunicação e da saúde
(auditório)
12:30h – Almoço Expositoras: Mãe Beata de Iemanjá e Egbomi Vanda Machado Coordenação: Ekédi Sinha (Salvador)
14:00h – Painel 2
Religiões de Matriz Africana e as Políticas Públicas
(auditório) Expositores: Silvany Euclênio (SEPPIR) , Alexandro Reis(Fundação Cultural Palmares), Reginaldo Chagas (Ministério da Saúde), MDS
Debatedora: Makota Valdina(RENAFRO) Coordenação: Mãe Meninazinha de Oxum (Rio de Janeiro)
16:00h – Comunicação:
Racismo como determinante das condições de saúde
(auditório)
17:00h – Vídeo: O Cuidar nos Terreiros
(auditório)
17:30h – Lanche Expositora: Maria Inês Barbosa
Distribuição de cópias do vídeo – Coordenação: Ogan Silvestre (Porto Velho)
Damiana de Oliveira – Departamento de DST-AIDS e Hepatites Virais/MS
19h – Caravana do Axé no Dia Mundial da Saúde Festa de 10 anos da Rede
Apresentações culturais
Dia 08 de abril
Manha (08:30h as 10:30h) Conversa Afiada
Sala Mãe Andressa(Tambor de Mina)
Os Terreiros e a Segurança Alimentar Mãe Nalva de Oxum
Mãe Torody de Ogum
Denize Ribeiro Facilitador: Babá Dyba de Iemanjá (Porto Alegre)
Sala Mãe Ivanize de Xangô(Xangô)
O terreiro como espaço de equilíbrio Pai Mariano de Todewê
Mãe Mocinha de Iansã
Egbomi Marco Antonio de Xangô Facilitadora: Mãe Luza de Oxum (São Luis)
Sala Pai Joãozinho da Goméia(Angola)
Terreiros, sexualidades e direitos humanos Mãe Klaudete de Sapatá
Egbomi Denise
Pai Adailton de Ogum
Omidewa Facilitador: Pai Elias de Iansã(Maceió)
Sala Mãe Menininha do Gantois(Ketu)
Religiões Afro-Brasileiras e
o imaginário social Alexandre Lomi Lodô Tata Wanderson
Helena Theodoro Facilitadora: Lia Maria Santos (SEGEP-MS)
Sala Pai Borel (Batuque)
Juventude de Terreiros: tradição e modernidade Rodrigo Petinati
Ana Bartira
Hiago de Paiva Cardoso Facilitador: Richarlls (Rio de Janeiro)
10:30h- Painel 3 Dialogando com as Políticas Públicas
(auditório) – Política Nacional da Juventude
– Política Nacional de Saúde do Idoso
– Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares
Debatedor: Deivison Faustino Coordenadora: Mãe Jane de Iansã (Olinda)
12:30h – Almoço
14h – Apresentação cultural – Roda de Afoxé Auditório
14:30h – Painel 4 –
Dialogando com as Políticas Públicas
(auditório) – Política Nacional de Saúde do Homem – MS
– Política Nacional de Saúde da Mulher – MS
– Política Nacional de Humanização do SUS
Debatedora: Ekédi Lucia Xavier Coordenador: Pai Celso de Oxaguian (São Paulo)
16:30h – Encerramento
17:30h – Lanche Cânticos de louvor à vida e à natureza Coordenador: Pai Euclides Talabyan (São Luís)
Por Shirley Monteiro
Stella vou divulgar este evento para o pessoal da UFPB- em João Pessoa, e UFCG pois no Mestrado trabalhamos com a linha de pesquisa Espiritualidade e Saúde, e há Grupos de Pesquisa específicos para o estudo e fortalecimento das religiosidades afro-descendentes, nas Universidades da Paraíba e de Pernambuco.
Voce precisa conhecer o Wallace !! E o Prof. Carlos André Cavalcanti, vamos contacta-los pelo Facebook e divulgar mais ainda este evento.
Maravilhoso este Post aqui na RHS, pois há tempos venho me questionando sobre por que essas tais 'Comunidades Terapêuticas' predominantemente evangélicas e católicas nunca mencionam as demais religiões orientais e afro-descendentes ?? Estamos ou não em um Estado laico ?? Como o seu texto evidencia, os Terreiros são Coletivos de intenso apoio psicossocial para a grupalidade de pessoas e famílias que os frequentam, e de uma forma bem mais aberta, também se organizam em ações de acolhimento e reabilitação/ integração social de pessoas com sofrimento psíquico, em parceria com as equipes de saúde. E por que os Terreiros também não são mencionados, como Comunidades organizadas que poderiam receber recursos do SUS dentro da RAPS, através de seus potentes efeitos culturais e simbólicos, para as pessoas que se identificam com esta temática em suas crenças ??
( Aos leitores da intersetorialidade. RAPS= Rede de Atenção Psicossocial)