proposta de luta contra as demissões no Caps Itapeva
Xian Gena
Medialisis
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Caros amigos e companheiros de movimento, de campo, de lutas
Diante deste cenário negro, obscurantista, perigoso, ameaçador, fascista e destruidor, enfim, de atos de desmonte, desmando, descalabro e violência contra o processo histórico de reestruturação radical dos modos de conceber, tratar e dar à loucura um lugar asseguradamente permanente no laço social, processo que responde pelo nome de Reforma Psiquiátrica Brasileira, Luta Antimanicomial ou outras denominações e que mudou a lógica, a política e o mapa assistencial brasileiro na área de saúde mental, e que agora passa por tenebroso retrocesso acompanhado de avanço dos que perderam com tudo isso, creio que chegou a hora de reagirmos de modo mais concreto, em ato, a esses ataques, que tomaram na semana passada mais uma forma: o ataque a um ícone de todo este processo, o CAPS LUIZ CERQUEIRA, RUA ITAPEVA, coração de São Paulo, que tem 26 anos (eu o conheci no primeiro aniversário, em 1988, com falas de Peter Pal Pelbart (Desejos de Asas, por causa do filme “Asas do desejo”, de Wim Wenders), Jairo Goldberg e outros tantos que falaram naqueja jornada inesquecível do CAPS Luiz Cerqueira.
Proponho um ato: a OCUPAÇÃO DO CAPS LUIZ CERQUEIRA por profissionais da rede de atenção psicossocial e por tutti quanti se engajem neste ato. Aos 30 profissionais demitidos, na medida em que concordem com isso, se juntariam muitos outros, de São Paulo, do Rio, de outras cidades, que entendem que só um ato concreto como uma ocupação espacial, física, material poderá ter a força política suficiente para transmitir à sociedade, à ciência e à universidade, aos gestores que apóiam essa destruição, e também aos que não a apóiam, aos familiares, usuários e aos dirigentes do país (Ministro da Saúde, Presidenta da República, prefeitos, governadores, coordenadores de saúde mental estaduais e municipais, enfim) que gestores e seus aliados capitalistas e empresários de psicofármacos não podem fazer o que quiserem no nosso país, nas nossas cidades, na nossa casa, enfim, como é o Luiz Cerqueira, ícone, paradigma do processo trasnformador (ainda que tenha deixado de sê-lo, exatamente pela frouxidão e/ou ataque dos gestores públicos que não sustentam as políticas públicas ardua e democraticamente elaboradas ao londo de anos que que criaram a rede nacional de atenção psicossocial, articulada e ordenada pelos CAPS).
Pergunto aos que estão mais próximos do calor dos acontecimentos: uma ocupação como esta será viável neste momento? Haveria mobilização, organização de um número significativo de profissionais para isso? Penso que teríamos que reunir profissionais de diferentes estados e municípios, próximos e distantes de São Paulo: aqueles que tomarem a iniciativa de juntar-se a nós. É possível pressionar o Governo de São Paulo, incluindo políticos esclarecidos e críticos nesse processo, para que destitua as OS (que passaram a mandar nas políticas públicas de saúde mental, e de exercer poder discricionário de demissão dos que se mostram descontentes e que sustentam as políticas que as OS rasgam, sob aval ou mesmo demanda de muitos gestores). É por demais evidente que tenham demitido tantos profissionais para implantar outra lógica, manicomial, organicista, repressora e de exlcusão. Não é à toa que, junto com a demissão de 30 profissionais, estejam impementando uma pesquisa de psicofármacos com esquizofrênicos neste CAPS, ícone do que se iniciou nos anos 80 na direção exatamente contrária. Não é casual a escolha do CAPS Luiz Cerqueira isso. É claro que isso está acontecendo em mil outros CAPS, é geral, mas isso não torna anódina a localização deste ato destrutivo e sua dimensão política.
Luciano Elia