Análise: Médico de família evitaria muitas idas a emergências infantis
CLÁUDIA COLLUCCI
DE SÃO PAULO
Dos mais simples aos mais sofisticados, os hospitais privados de São Paulo estão superlotados. A causa é conhecida: mais pessoas com acesso a planos de saúde, a população envelhecendo e a falta de planejamento desses locais para atender a demanda.
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O que fazer diante disso é o desafio. No caso dos prontos-socorros pediátricos, algumas alternativas emergenciais estão sendo adotadas, como o aumento temporário de equipes e de espaço físico em situações de sazonalidade –o inverno, por exemplo.
São soluções paliativas. Os problemas de base permanecem intocados, como a falta de atenção dada ao papel do pediatra e do clínico geral.
Quantos pediatras de planos de saúde dão o telefone particular aos pais das crianças para serem acionados em caso de emergência?
Diante de febre, enjoo e diarreia do filho (sintomas típicos de uma virose), os pais recorrem ao pronto-socorro sem pestanejar. Se tivessem um médico de família, que conhecesse o histórico da criança, muitas idas ao PS poderiam ser evitadas.
Isso também pouparia procedimentos e exames desnecessários nas crianças. Há movimento internacional em curso pedindo a redução de raios X e tomografia, porque excesso de radiação está associado a casos de câncer.
Por outro lado, a pediatria também não está entre as áreas prioritárias dos hospitais quando planejam novos investimentos, segundo o médico e administrador hospitalar Walter Cintra Ferreira Júnior, em sua tese de doutorado na FGV (Fundação Getulio Vargas).
"Eles procuram áreas com alto valor agregado, como cardiologia, oncologia e neurologia, que têm exames e materiais de alta tecnologia."
A razão é simples. O atual modelo de remuneração pelos planos e seguros de saúde incentiva isso. Quanto mais os hospitais gastam, mais eles ganham.
Também há sinais de um "apagão" pediátrico porque os novos médicos estão preferindo outras áreas da medicina que ofereçam melhores salários e mais conforto.
REDE PRIMÁRIA
A superlotação dos prontos-socorros infantis não é problema exclusivo do Brasil. Os EUA enfrentam a mesma situação há anos e o diagnóstico é o mesmo: a falha assistencial na rede primária.
Vários estudos apontam que até 50% dos casos atendidos nas emergências infantis não são graves e poderiam ser resolvidos em outros locais menos complexos.
Mas a maioria das pessoas relata dificuldade para conseguir atendimento médico fora desses locais. Nos PSs, há a certeza de que a criança será examinada e medicada.
Como forma de aliviar seus serviços de emergência, algumas províncias no Canadá instituíram plantões telefônico 24 horas em que as pessoas ligam, relatam o problema, recebem orientações médicas ou de enfermeiras e se certificam se é o caso de procurar um PS. Os resultados ainda estão sendo avaliados.
Não há soluções mágicas, mas o sistema de saúde suplementar e os hospitais brasileiros deveriam se inspirar em experiências exitosas que tragam resolutividade sem o estresse da falta de vagas e das longas filas de espera.
Editoria de Arte/Folhapress |
Por Sabrina Ferigato
Jimeny
Seu post é muito importante.
Pelo que eu entedi, no seu texto há uma crítica ao modelo privado de atenção à saúde infantil a à urgência/emergência e uma proposta implícita de ampliação dos investimentos na atenção primária. Diversos estudos em saúde coletiva corroboram com essa sua percepção e eu também.
Você denuncia o centralismo no hospital e a mercantilização do sistema suplementar de saúde, que são pontos nevrálgicos para a desassistência em saúde
Para além das questões público/privadas, tem questões ainda mais complexas que se referem a medicalização da vida e mais gravemente a medicalização da infância. Há nesse processo um movimento ativo de apropriação médica do saber popular. Uma captura de mães e famílias devidamente medicalizadas que passam a sentir-se e produzir-se absolutamente desempoderadas para cuidar da saúdesaúde de seus filhos sem o aval e a presença de um médico.
Acho que um bom médico da família na atenção primária tb cumpre uma minimização desse efeito nocivo, fortalecendo a autonomia e o empoderamento para sujeitos e coletivos também serem capazes de cuidarem de si e de seus familiares, acessando o sistema de saúde qdo isso realmente for necessário, acessando como um direito, não como uma prática de consumo
AbraSUS
Sabrina Ferigato